Neil YoungA década de 80 foi o período mais estranho da carreira de Neil Young. Consagrado durante a década anterior na carreira solo e também como integrante do supergrupo Crosby, Stills, Nash & Young, o cantor, compositor e guitarrista canadense entrou em uma fase repleta de momentos pitorescos. O maior exemplo fica por conta de ele ter sido processado por sua gravadora entre 1983 e 1987, a Geffen, por hipoteticamente lançar discos esquisitos para fracassar de propósito nas paradas. Ele venceu a disputa, mas não dá para negar que investir em trabalhos como o caótico e eletrônico Trans (83), o insípido misto de rockabilly e r&b Everybody’s Rockin’ (83) e o frouxo álbum country Old Ways (85) não ajudaram muito a manter sua reputação em alta. Em 1989, portanto, Young vivia provavelmente seu pior momento em termos artísticos e comerciais.

Essa fase de vacas magras se encerrou de forma gloriosa com Freedom. Trata-se de uma espécie de disco-síntese, com a reutilização de elementos que já haviam aparecido em momentos distintos da trajetória do artista, mas sem nunca soar como cópia requentada. A abertura e o encerramento do CD tem como mote a mesma música, Rockin’ In The Free World, algo que ele já havia feito em Rust Never Sleeps (79) com My My Hey Hey/Hey Hey My My. A primeira versão, gravada ao vivo no melhor estilo voz-violão-gaita, dá o pontapé inicial, enquanto eletricidade e adrenalina pura pontuam a segunda, registro de estúdio que encerra o trabalho com gás total. Os solos longos e distorcidos de guitarra que tanto influenciaram o grunge aparecem em Don’t Cry e na tresloucada releitura de On Broadway (aquela que estourou com o George Benson).

O rei das melodias country rock doces e belas dá as caras nas maravilhosas Someday (com oportuno e inspirado arranjo de metais), The Ways Of Love e Too Far Gone, enquanto a vertente experimental/sombria de sua obra dá o tom a no More e Eldorado. O minimalismo expressivo marca a densa Crime In The City (Sixty To Zero Part I), enquanto o country rock mais sutil marca No More. Participam do disco músicos como Frank “Poncho” Sampedro (guitarra), Ben Keith (pedal steel) e Rick Rosas (baixo), além da estrela do country rock Linda Ronstadt nos vocais em duas faixas. Freedom é o tipo de disco que salvaria a carreira de qualquer artista, e teve esse efeito na de Neil Young, bem no último ano da pior década de sua carreira. Um álbum maravilhoso e que certamente deve estar na cabeceira de Joe Satriani e Steve Vai, que tocam Rockin’ In The Free World nos shows do G3 e até batizaram seu CD ao vivo com este título.