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Santana – Santana 3 (CBS/Sony)

Santana3Mito número1: Santana é um artista solo. Negativo. Desde o seu início, nos idos de 1967, o guitarrista mexicano radicado nos EUA Carlos Santana sempre concebeu seu projeto musical como uma banda, e não apenas um elenco de músicos sendo coadjuvantes para sua guitarra. Mito 2: Carlos Santana é também o vocalista do grupo. Outro não como resposta. Ele sempre fez, apenas, eventuais vocais de apoio, deixando a função de crooner para outros integrantes de seu time. Mito número 3: Carlos assina todas as músicas gravadas por sua banda. Freqüentemente, as canções deles saíam de jam sessions, e acabavam levando a assinatura de todos, sendo que o líder às vezes nem entrava na autoria. Eles também sempre buscavam material alheio de qualidade para gravar. Pequenos detalhes como esses explicam o porque a Santana Band se tornou não só uma das mais criativas da cena de San Francisco, Califórnia, como de longe a mais bem sucedida em termos comerciais.

Após a explosão gerada por sua participação no mega festival Woodstock em 1969, performance imortalizada no filme homônimo no qual um dos principais momentos é o desempenho alucinado da banda em Soul Sacrifice, o guitarrista mexicano e sua turma lançaram dois discos, Santana (1969) e Abraxas (1970), que conseguiram a difícil façanha de contentar críticos e o grande público, emplacando hits como Evil Ways, Soul Sacrifice e Oye Como Va. O melhor, no entanto, chegaria em 1971, com o terceiro álbum, novamente auto intitulado, mas que boa parte dos fãs e lojistas conhecem como Santana III. Nele, o impressionante caldeirão sonoro criado por uma mistura de rock, jazz, música latina, soul e muito mais chega à perfeição. Uma das explicações fica por conta da generosidade de Carlos. Impressionado com o desempenho de bandas como Allman Brothers, ele resolve incorporar ao time um segundo guitarrista, Neal Schon, considerado uma espécie de Eric Clapton da Califórnia. Juntos, eles passaram a dividir solos recheados de garra e inspiração, além de encarar duos que tornaram o som do time ainda mais encorpado. O ótimo tecladista e vocalista Gregg Rolie e o baixista David Brown completavam o elenco dos músicos de harmonia, enquanto a área percussiva, elemento praticamente trazido para o rock de forma massiva pela Santana Band, tinha os “salerosos” Michael Shrieve (bateria, percussão), Michael Carabello (conga, vocal, percussão) e Jose Chepito Área (timbales, conga, percussão e vocais). De quebra, o percussionista Coke Escovedo, recuperando-se de um aneurisma cerebral, colaborou com percussão e vocais de apoio, e Rico Reyes é o vocalista principal em Guajira e vocalista de apoio em várias outras faixas. Os metais ficaram por conta de músicos do grupo Tower Of Power.

Santana III abre com um dos melhores temas instrumentais da história do rock, Batuka, que funde percussão hipnótica a solos alucinados de guitarra e órgão. A swingada No One To Depend On vem a seguir, seguida pela sensual balada Taboo. Essencialmente instrumental, Toussaint L’Ouverture viaja nos passos de Soul Sacrifice. Everybody’s Everything, hit single do album, lembra incursões de Stevie Winwood na area do latin rock. Guajira, que abre o lado B no formato LP de vinil, é salsa pura, e pode ser considerada uma ancestral de Smooth, mega hit que trouxe Santana de volta às paradas de sucesso em 1999. Outra instrumental vem a seguir, Jungle Strut. O pop rock ensolarado Everything’s Coming Our Way envolve logo nos primeiros acordes. O repertório do disco original é encerrado com Para Los Rumberos, que leva a assinatura do rei da salsa, Tito Puente, mesmo autor de Oye Como Va. A versão remasterizada do CD traz três faixas bônus, versões ao vivo de Batuka, Jungle Strut e Gumbo gravadas em 4 de julho de 1971 no The Fillmore West. Tanta qualidade artística teve recompensa comercial, pois Santana III atingiu o primeiro posto da parada americana, e vendeu milhões de cópias. Santana, tanto a banda quanto o guitarrista, são nomes chave para quem quiser descobrir de onde veio a fusão rock-música latina que tantos frutos ótimos gerou a partir do final dos anos 60.

1 Comment

  1. Esse momento inicial do Santana é realmente importante pra provar que alguns limites simplesmente não existem na música Pop . Tudo bem vai , as energias e o pensamento do momento ajudaram . Mas pra muita gente a combinação música caribenha/rock psicodélico/jazz , era mais do que improvável . Ouvir uma meia dúzia de discos dele dessa fase , definitivamente provam que não ! Outro conjunto que teve um resultado perfeito em vários momentos , falando em termos de bandas multinacionais ou coisa do gênero , foi o War . Mas , isso é pra outro comentário .

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