Todo estilo musical de qualidade prescinde de modismos para se manter atual e pertinente, e o samba não seria (e não é) diferente. O chamado “pagode” saiu totalmente de cena, e agora está confinado em casas noturnas de pequeno porte, com seu romantismo barato e baticum diluído. Os fãs do verdadeiro samba, no entanto, nem passam perto desses locais. Eles preferem freqüentar as apresentações de grupos com trabalhos realmente consistentes. Um dos que mais chama a atenção é o Samba de Rainha. De cara, pelo fato de ser integrado apenas por mulheres, a saber: Núbia Maciel (vocal principal e conga), Thais Musachi (cavaco), Nana Spogis (violão), Aidée Cristina (backing vocais, ganzá e surdo), Carina Iglecias (backing vocais, reco-reco, agogô, caixa e timbal), Sandra Gamon (backing vocais, tamborim e repinique), Érica Japa (rebolo) e Gadi Pavezi (pandeiro). No entanto, esse diferencial torna-se secundário ao ouvirmos seu desempenho ao vivo.

Tive a oportunidade de conferir o Samba de Rainha em duas ocasiões, na Virada Cultural, quando, em palco montado no Largo do Arouche, encantaram a multidão presente, e no Urbano, casa noturna situada em Pinheiros, perante um público que se esbaldou de tanto dançar. Com acompanhamento percussivo poderoso, base harmônica de primeira e vocais de apoio extremamente bem cuidados, tem como destaque a vocalista Núbia Maciel, cuja postura roqueira de palco equivale a uma espécie de Cássia Eller do samba. O repertório das moças investe em maravilhas escolhidas a dedo dos repertórios de Noel Rosa, Originais do Samba, Jorge Ben Jor, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho e Clara Nunes, entre outros, além de músicas próprias que integram seu CD de estréia, Isso é Samba de Rainha (2004), entre elas Patuá de Gente, Reclama e Eu Digo Amém. Atualmente, o grupo prepara material para seu segundo CD. O Samba de Rainha merece muito mais do que já conseguiu, e provavelmente atingirá tal objetivo, em razão da excelência de suas performances ao vivo.