O rótulo “cantora eclética” surgiu na mídia a partir do final dos anos 1980, quando Marisa Monte surgiu em cena cantando vários estilos musicais, sem se prender a um único. Com o tempo, tornou-se meio pejorativo, aplicado especialmente a aquelas que não tinham idéia de para onde ir, e que, no final das contas, cantavam de tudo como se fosse a mesma coisa. Pois, meus caros, este disco, que infelizmente só uns poucos felizardos conhecem, é digno de ser rotulado como eclético, mas de forma absolutamente positiva. Afinal, chega a ser difícil acreditar que uma mesma cantora possa encarar blues, rock em várias vertentes, bossa nova, jazz, pop e MPB sem em momento algum soar caricata. Plena em cada nota, em cada palavra pronunciada/cantada, em cada momento. Essa é Maricenne Costa em Correntes Alternadas, disco essencial para quem deseja ouvir o que a música brasileira pode significar, em boas mãos.

A carreira de Maricenne se iniciou nos anos 1960 como uma seguidora da bossa nova. Com o tempo, ampliou seus horizontes, e o auge de tal mistura é este CD. Ela conta com participações especiais fantásticas, como os Inocentes em Muito Prazer (blues de Edvaldo Santana) e Garotos do Subúrbio (clássico de Clemente), Paulo Barnabé (Patife Band), Emerson Villani, Bocato, Osmar Barutti, Paulinho Nogueira (na maravilhosa Valsa das Três da Manhã), Paulo Lepetit, Frederyko e Amilson Godoy, entre outros. Wildlife é bissexta parceria de Ritchie com Tomzé (pop rock sensacional), a percussiva Dor de Dente é do genial Duda, do grupo Moleque de Rua. Tem também standard do jazz (Um Grito em Baltimore, versão para The Man I Love) e bossa nova (Footprints In The Sand). E muito mais. Correntes Alternadas é um disco maravilhoso, delicioso, surpreendente, de uma intérprete que, se morasse nos EUA, seria canonizada entre as divas da música. Mas ela está aqui, viva e forte, e na ativa. Você pode descobri-la. Faça isso, e me agradeça logo após.

Site da artista:
www.maricennecosta.art.br