vanessa bumagnyPor Fabian Chacur

O rótulo MPB surgiu em um determinado momento dos anos 60 como forma de denominar uma nova geração de cantores e compositores que faziam um estilo musical inspirado em bossa nova, a tradição da música brasileira (samba, ritmos nordestinos etc) e também nas novidades de então, ou seja, o rock dos Beatles, o soul de Ray Charles etc. Com o decorrer dos anos, ganhou uma conotação elitista que atingiu o seu auge durante a década de 90, quando surgiu o que alguns denominaram “nova MPB”. E o que seria isso? Simples: alguns artistas tentando retomar uma sonoridade do passado sem acrescentar nada a ela, e de forma pretensiosa e arrogante. No entanto, eles esqueceram que MPB significa música popular brasileira. Felizmente, Vanessa Bumagny não parece sofrer desse mal, como prova Pétala Por Pétala, seu segundo CD, que acaba de chegar às lojas. Uma mescla perfeita de sofisticação e acessibilidade. Ou seja, é bacana e elaborado, mas não cai na chatice. Graças a Deus!

Vanessa é paulistana, descende de portugueses e russos, e começou na área musical cantando em corais. Nos anos 90, apaixonada por Luiz Gonzaga, montou um grupo de forró. Depois, virou vocalista de apoio de Chico César, e logo começou a compor em parceria com ele e também com outro da mesma geração, Zeca Baleiro. Também viveu uns anos na Europa. Essa somatória de influências gerou o material que nos ofereceu em De Papel, sua excelente estreia em disco, em 2004. Nesses últimos cinco anos, fez inúmeros shows, atuou como atriz e preparou um novo CD, que finalmente vem à tona.

Pétala Por Pétala equivale a um banho de categoria por parte dessa moça de olhar enigmático e sensual. Sua voz doce e absurdamente afinada lembra o tom de Marisa Monte, Gal Costa e Vanessa da Mota, mas em nenhum momento soa como cópia de nenhuma delas. Como compositora, ela se vira com categoria tanto sozinha como em parceria. A produção de Zeca Baleiro ajudou bastante na elaboração da sonoridade basicamente acústica do disco, apostando no minimalismo e no “menos é mais”. Ao contrário do que acontece com freqüência nos discos de alguns expoentes da tal “nova MPB”, aqui a gente não cai no tédio. Os climas variam de canção para canção. A toada folk/portuguesa de Flor, o sabor quase jovem guarda de Triz, a sofisticação ambiciosa de Esquina do Encontro e o jeitão de hit popular da deliciosa Ciúme Não Mata são destaques de um disco que transpira trabalho minucioso, e cuidado com não cair na mesmice e na rotina. Pétala Por Pétala é um trabalho que deveria ser ouvido por todos que gostam de MPB que fuja da repetição de velhas idéias mal digeridas. Aqui, o material é de primeira linha.

Confira Ciúme Não Mata ao vivo:

http://www.youtube.com/watch?v=77BowrfTDao