Por Fabian Chacur

Frank  Sinatra é um daqueles casos raros de unanimidade entre os fãs de música, seja lá qual for o estilo que a pessoa prefira. Difícil rejeitar o talento desse grande intérprete, mesmo que você por ventura não curta a praia dele.

Para quem ainda não se convenceu do óbvio, ou seja, de que o cidadão não ganhou o apelido The Voice de graça, acaba de sair na Terra Brasilis o DVD Concert For The Americas, cuja palavra espetacular é pouco para defini-lo.

Trata-se do registro em alta qualidade de vídeo e áudio do megashow realizado por Sinatra no Altos de Chavón Amphitheatre, na República Dominicana, em 1980, mesmo ano em que ele fez sua primeira e inesquecível apresentação no Brasil, no estádio do Maracanã.

Ver a forma como esse mestre da canção atuava impressiona. Para começo de conversa, ele tinha, sim, um vozeirão, mas não era de ficar desperdiçando-a em exibicionismos bestas.

O negócio do The Voice era valorizar cada melodia, e interpretar cada letra com o espírito de um ator, que, por sinal, ele também era, e dos bons. Parecia que o cara havia vivenciado cada uma daquelas situações descritas nas canções.

Antes de cantar, Sinatra apresentava cada música, dizendo o nome dos autores e o de quem fez o arranjo musical. Coisa que muito intérprete atualmente não se dá mais ao trabalho de fazer, desvalorizando quem lhe oferece o suporte indispensável para que poder brilhar.

E tem o carisma, a simpatia, o temperamento ao mesmo tempo forte e cativante e a vocação para entertainer, essa palavra que não tem similar em português, mas que vou quebrar o galho com “entretenedor” para definir.

Tendo surgido no auge das big bands no final dos anos 30, Francis Albert Sinatra soube se manter valorizado e também superar eventuais (e raras) quedas de popularidade. O bom gosto na escolha de repertório é um dos seus segredos.

Esse show traz diversos clássicos de seu vasto repertório, como I’ve Got The World On a String, Come Rain Or Come Shine, The Lady Is a Tramp, Strangers In The Night e I’ve Got You Under My Skin.

Com 65 anos naquela época, o filho mais nobre de Hobboken atingia o pico de sua maturidade, como demonstra na impressionante interpretação de Something, clássico dos Beatles escrito por George Harrison, que ele elogia muito antes da performance.

Seu tino em descobrir belas canções o levou a investir com rara inspiração na bossa nova, e Quiet Night Of Quiet Stars (versão em inglês de Corcovado, de Tom Jobim, com quem ele gravou discos maravilhosos) é a prova dessa identidade posta em prática.

O final apoteótico é com Theme From New York New York, que ele havia gravado em estúdio há pouco. Tanta gente de pouco ou nenhum talento se meteu a estragar essa maravilha nas últimas três décadas que muitos podem até ter esquecido o como essa canção é bela e classuda. Basta ouvir a versão contida neste DVD para reavaliar tal conceito.

De quebra, o show inclui em sua metade inicial um solo de Buddy Rich, um dos maiores bateristas da história não só do jazz, mas como da música como um todo. Nos extras, duas canções extraídas de outros shows, incluindo o hino My Way.

Concert For The Americas deve custar por aí em torno de, no máximo, R$ 40 , mas vale muito mais. Música com m maiúsculo. A definição é um clichê daqueles, mas a música contida neste disco, não.