Por Fabian Chacur

Samba rock é um estilo musical que teve como pai Jorge Ben (antes de virar Ben Jor) nos anos 60 e inúmeros outros artistas como ampliadores de seus horizontes, gente do mais alto gabarito como Luiz Vagner, Originais do Samba, Bebeto, Marco Matoli e muito, mas muito mais gente.

Também conhecido como swing, o estilo é na verdade uma versão mais balançada e pop do samba e da bossa nova, repleto de grooves irresistíveis, metais em brasa, guitarras chacoalhantes, percussão finíssima e muito apelo dançante, aproveitado e aprovado especialmente em Sampa City, a verdadeira capital nacional do estilo.

Atualmente, a banda que mais me agrada no setor é a excepcional Sandália de Prata, que acaba de lançar seu primeiro álbum cheio, Samba Pesado. O CD saiu no final de 2009, e a versão em vinil surge agora, ambas pela via independente.

Criado no bairro paulistano do Capão Redondo lá pelos idos de 2003, o Sandália de Prata é formado por Ully Costa (vocal), Dado Tristão (teclados), Carlinhos Creck (baixo), Sandro Lima (guitarra), Paulinho Sorriso (bateria), Tito Amorim (percussão), Marcelo Valezi (sax), João Lenhari (trompete) e Jorginho Neto (trompete).

Eles lançaram um EP com cinco faixas e capa no tamanho das dos compactos duplos de antigamente em 2006. Coisa fina!

Nesses anos todos, desenvolveram uma sonoridade totalmente centrada nos cânones do samba rock, ganhando um entrosamento quase hipnótico e repleto de swing, garra e arroubos jazzísticos na hora de improvisos que nunca enchem o saco. O papo aqui é ritmo, é o convite à dança.

A cantora Ully Costa é dona de uma voz maravilhosa, daquelas que dá a impressão de que cantar é fácil, tal a simplicidade com que dá conta do seu recado. Não se engane: cantar bem o samba rock é para poucos.

Samba Pesado é um álbum excepcional, um dos melhores da história do gênero, e se divide entre composições da banda e de seus amigos e de releituras de ótimo material alheio escolhido a dedo.

Escolher destaques entre as 12 faixas é fácil, pois basta citar qualquer uma, pois não há como errar. Não temos aqui músicas para encher linguiça, só curtição pura e muito sangue, suor e ouriço, como diriam os antigos.

Reza Forte, Gildete, Sou do Samba, a fantástica faixa instrumental que dá nome ao álbum, a releitura turbinada de Malandragem, é só coisa fina.

Tipo do álbum para ser tocado à exaustão nos bailes da vida.

Curiosamente, conheci essa banda quando cobri alguns dias do festival Conexão Vivo, em Belo Horizonte, ou seja, bem longe da minha São Paulo natal, onde eles nasceram para a música.

Na versão em vinil do álbum, eles incluíram uma envenenada releitura de Check My Machine, obscura faixa de Paul McCartney que virou hino nos bailes de samba rock em Sampa City,

Check My Machine é o lado B do compacto Waterfalls, e foi lançada em 1980. Os baileiros de então começaram a tocar essa música nos bailes, e deu tão certo que virou um inesperado sucesso por aqui.

Samba Pesado tem versão em CD com capa digipack e encarte luxuoso, prova de que os lançamentos independentes estão cada vez mais bem cuidados. Não deixe de comprar, pois o timaço do Capão Redondo não vai deixar a sua festa cair em clima ruim. Os caras são demais!