Por Fabian Chacur

Há livros que contam histórias. Outros relembram experiências. Ainda há aqueles que registram estradas percorridas, erros, acertos, sonhos, fé. Há livro de tudo quanto é tipo. Os ruins, obviamente, nem merecem ser chamados de livros. Prefiro ignorá-los. Não é a eles a que me refiro aqui.

Os Sonhos Não Envelhecem – Histórias do Clube da Esquina, de Márcio Borges, lançado originalmente em 1996 e que agora volta em luxuosa edição com direito a CD bônus (e ao preço de R$ 29,90) é tudo isso e muito mais. Tudo de bom e muito mais!

Márcio Borges, o primeiro parceiro musical de Milton Nascimento, é quem nos oferece essa maravilhosa oportunidade de viajar em suas memórias, que se iniciam lá pelos anos 60, aquela era mítica para a música popular.

Fruto de uma família generosa e grande (mais de 10 irmãos e irmãs de sangue!), Márcio nos descreve como essa família aumentou de tamanho de forma exponencial com o decorrer dos anos.

Milton Nascimento, seu irmão de número 12, como ele o apelidou, é o personagem principal desse livro, mas não de longe o único.

Temos os irmãos Marilton, Telo e Lô Borges (entre outros), os amigos Milton, Tavinho Moura, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, Beto Guedes e por aí vai. E vai longe. E vai bem.

A paixão pelo cinema, que deu início a tudo, o envolvimento com a música, a parceria com Milton, que era para ser exclusiva na cabeça daqueles jovens idealistas, mas que se ampliou e incluiu posteriormente Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Lô Borges e tantos outros…

Os papos idealistas nos bares da vida, os romances fugazes, as ideias aparentemente malucas que surgem, os sonhos, o reconhecimento do terreno, os novos personagens surgindo a cada nova incursão pela vida…

Com um texto delicioso e repleto de carga emotiva, Márcio Borges nos conduz por um Brasil que nos anos 60 e 70 era repleto de esperança, mas também de medo, de sumiços, de trajetórias violentamente interrompidas pela força das armas da Ditadura Militar que nos tomou os sonhos por longos 21 anos.

Mas, mesmo assim, os sonhos desses rapazes não envelheceram, não.

Pelo contrário. Vários deles se tornaram realidade, como por exemplo o estupendo álbum Clube da Esquina (1972), gravado por Milton e Lô Borges e com participação de tantos amigos maravilhosos.

Onde fica o Clube da Esquina? Fisicamente, em uma esquina humilde na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

Na real, no coração de todos esses personagens maravilhosos, de músicas como Tudo o Que Você Podia Ser, Clube da Esquina, Clube da Esquina 2 (versões instrumental e com letra), Cais, O Trem Azul… E no meu, no seu, no nosso.

Faça esse favor à sua alma: leia Os Sonhos Não Envelhecem. É emoção pura, é uma viagem gostosa por um tempo idealista que pode nos servir de inspiração mesmo hoje, uma era tão cinzenta, tão repleta de portas fechadas, de nãos  grosseiros, de pragmatismo covarde e tacanho. Experimente!

E com um CD grátis contendo 10 maravilhas da era do Clube da Esquina dos anos 70, os R$ 29,90 equivalem a uma ninharia, de custo/benefício incalculável. Vá por mim. E nem precisa agradecer. Agradeça a Márcio Borges!