Por Fabian Chacur

Nunca havia ouvido falar em Arthur Verocai até ver o seu álbum de estreia enfocado em uma edição do excelente programa O Som do Vinil, de Charles Gavin, em 2010. Confesso que fiquei fascinado pela história daquele disco.

Em 1972, o cantor, compositor e músico Arthur Verocai já era um jovem veterano. Aos 27 anos na época, tinha feito arranjos e tocado com artistas do naipe de Ivan Lins, Elis Regina, Jorge Ben, Gal Costa e muito mais gente.

Naquele ano, ele recebeu o convite para gravar seu primeiro trabalho como solista pela gravadora Continental, e recebeu toda a liberdade para fazer o que quisesse. Resultado: um álbum elaborado, criativo, muito bem gravado, que acabou fracassando miseravelmente em termos comerciais.

Arthur Verocai, o álbum, saiu no mesmo ano de outro disco que inicialmente também se deu mal nas paradas de sucesso, o sublime Clube da Esquina, de Milton Nascimento e Lô Borges. O fato é que Verocai tem em Milton uma de suas principais influências, além de Frank Zappa, bossa nova, música erudita, soul music, jazz e muito mais.

Se fracassou no Brasil, o trabalho de estreia do compositor acabou sendo alvo de um culto no exterior a partir do fim dos anos 80/início dos 90 em países como Japão e Estados Unidos. Algumas de suas músicas foram sampleadas por rappers como Ludacris, entre (muitos) outros.

Tanto que o álbum acabou sendo relançado muito antes nesses países. Só agora volta às lojas brasileiras, pela primeira vez no formato CD, graças ao Selo Cultura, da Livraria Cultura, e do mesmo Charles Gavin.

Arthur Verocai, o CD, é daquele tipo de disco que vai te hipnotizando aos poucos.Tanto que só agora, aproximadamente dois meses após comprar o meu exemplar, é que me atrevo a escrever sobre ele. É muita beleza, emoção e criatividade em uma única obra. Obra-prima!

Trata-se de um trabalho com 10 músicas não menos do que brilhantes, que reúnem um time excepcional de músicos comandados por Verocai, numa espécie de “disco de produtor” no espírito daqueles feitos por Quincy Jones.

Folk na linha Clube da Esquina em Caboclo e Dedicada a Ela, samba funk em Pelas Sombras e Presente Grego, balada soul em Na Boca do Sol, free jazz rock em Karina (Domingo no Grajaú), bossa nova renovada em O Mapa e Seriado (esta com vocal principal de Célia) cada faixa equivale a uma viagem musical completa e repleta de nuances instrumentais e vocais. Os arranjos de metais e cordas são simplesmente sublimes, de arrepiar mesmo.

Cada nova audição deste álbum corresponde à descoberta de novos detalhes sonoros, de novas emoções, de novos versos. Embora com forte ênfase instrumental, os vocais do disco são muito bacanas, sendo que oito das dez letras levam a assinatura de um de meus ídolos máximos, o genial Vitor Martins, dois anos antes de ele iniciar sua parceria com Ivan Lins.

O CD de estreia de Arthur Verocai equivale a um desses mergulhos de cabeça nas inúmeras possibilidades oferecidas pela música. Consegue a rara façanha de ser extremamente sofisticado e ao mesmo tempo acessível para aqueles dotados de sensibilidade e bom gosto. Um disco que não merecia ter sido esquecido, e que, felizmente, graças a essas voltas malucas que a vida dá, está aqui de novo para ser descoberto por felizardos como eu….e você!

Programa O Som do Vinil sobre o álbum Arthur Verocai:

Caboclo, com Arthur Verocai:

Presente Grego, com Arthur Verocai: