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Scorsese mergulha na alma de George Harrison

Por Fabian Chacur

A 16ª edição do Cultura Inglesa Festival pode ser considerada histórica por pelo menos três razões: trouxe novamente o excelente grupo Franz Ferdinand ao Brasil, resgatou o filme Rutles: All You Need Is Cash (1978), de Eric Idle e Gary Weis, a melhor paródia aos Beatles, e apresentou aos brasileiros George Harrison: Living In The Material World, documentário de Martin Scorsese sobre o “beatle quieto”.

Além de grande cineasta, Scorsese se mostrou em sua carreira um excelente documentarista de rock, vide os ótimos trabalhos que fez com The Band, Bob Dylan e Rolling Stones. Sua nova incursão na área é um mergulho em busca da essência de George Harrison, não só o músico, mas também o ser humano.

Durante suas 3 horas e 28 minutos de duração, George Harrison: Living In The Material World nos apresenta material de altíssima qualidade oriundo dos arquivos da viúva do roqueiro (Olivia Trinidad Harrison) e também entrevistas feitas especialmente para a ocasião, além de muita informação de primeira.

Boa parte desse tempo é dedicado à carreira de Harrison nos Beatles, com várias relevações muito interessantes, como Paul McCartney admitindo que o marcante riff de And I Love Her é na verdade de autoria do guitarrista e também de como o Macca recusou riffs que George criou para Hey Jude, algo que ajudou a distanciar os dois.

Aliás, um dos méritos de Scorsese é não tentar pintar o beatle místico como um santo. Suas falhas aparecem várias vezes, como nos registros de sua catastrófica turnê solo de 1974 (ele tocando What Is Life em ritmo de reggae cantando de forma horrível, ao vivo, é um dos momentos mais constrangedores da história do rock!) ou da viúva Olívia admitindo, cheia de dedos, que o maridão deu várias puladas de cerca em seus 25 anos juntos.

Os depoimentos são suculentos, especialmente os de Eric Clapton, que fala bastante sobre a célebre disputa dele com o amigo por Patty Harrison, que inspirou o clássico do rock Layla e depois se tornaria mulher de Clapton, sem que a amizade entre os dois grandes músicos se encerrasse. Aliás, a própria Patty conta o seu lado nessa história mitológica.

Um dos grandes momentos fica por conta de um encontro entre McCartney e Harrison nos anos 90, quando o segundo solta uma frase que sintetiza seu sarcástico senso de humor: “nossa, que belo casaco de couro vegetariano!”. Provavelmente, nem Paul tinha notado o quanto era absurdo ele, um vegetariano militante, vestir um casaco feito de couro animal…

A emoção de Ringo Starr ao se lembrar da última vez em que viu o amigo, Tom Petty (colega de George no supergrupo Travelling Wylburys) recordando do dia em que ganhou quatro ukeleles do autor de Something, ou mesmo do diretor do filme A Vida de Brian, ao recordar como Harrison investiu quatro milhões de dólares naquele filme apenas porque “queria vê-lo; foi o ingresso mais caro já pago por alguém para ver um filme!”.

Lógico que dá para fazer algumas restrições ao documentário, se você por acaso é detalhista demais. Ele praticamente ignora dois momentos importantes da carreira solo de George, os álbuns Living In The Material World (1973- caramba, é o disco que deu o título ao documentário!) e Cloud Nine (1988, que marcou o retorno do músico ao topo das paradas após uns bons anos), assim como a música All Those Years Ago, feita em homenagem à John Lennon, mas fazer o quê? Não caberia tudo em um só documentário, mesmo um tão longo como esse.

Um fato emerge nas entrelinhas do filme: que o fim dos Beatles na verdade teve um forte incentivador nas brigas entre George e Paul, que provavelmente foram muito mais sérias do que se pensou durante décadas. E também que o beatle que meditava também sabia ser agressivo e briguento, além de em alguns momentos da vida ter mergulhado fundo nas drogas.

George Harrison: Living In The Material World equivale a um excelente e profundo registro referente à vida de um dos mais importantes nomes da história do rock e da música como um todo. Como dificilmente será exibido por aqui em circuito comercial, vale ficar atento ao lançamento em DVD/Blu-ray no Brasil (já saiu lá fora), pois se trata de um ítem indispensável para quem gosta de rock.

Veja o trailer de George Harrison: Living In The Material World:

8 Comments

  1. É, O GEORGE DAVA UNS TIROS BEM CERTEIROS, E O SCORSESE, QUE É UM BAITA D’UM CINEASTA, SOUBE CAPTAR ISSO DE UMA FORMA TÃO MAGNÍFICA COMO JÁ FIZERA COM THE BAND, DYLAN, STONES… E VOCÊ COMENTOU O FILME MUITO BEM, FABIAN.
    (qualquer semelhança com as intervenções do Neto durante as narrações futebolísticas do Luciano do Valle na Band, terá sido meramente proposital, rrsrsrrsrs)

  2. E acrescento quevai haver mais 2 sessões do “Living in the…” no In-Edit, festival de documentários musicais que começa hoje (6a, 1/6). Estive presente nas 2 sessões do Festival Cultura Inglesa (o que não significa que tenha visto o filme 2 vezes), e constatei que 98% do público ficou extasiado com o docu do Scorsese. Os outros 2% estão discutindo se o casaco do Paul era ou não era de couro animal…

  3. Muito obrigado pelo elogio, Claudio. O documentário é realmente excelente, e não vejo a hora de ser lançado por aqui em DVD para comprar, pois é o tipo da produção que a gente precisa ter em nosso acervo pessoal para ver e rever. E valeu pelo toque das duas exibições do George Harrison: Living In The Material World no festival (imperdível, por sinal) In-edit, especializado em documentários musicais e que terá grandes agrações. O documentário do George será exibido neste sábado (2) às 21h no Cinesesc e no dia 7/6 (quinta-feira) às 19h no Cine Livraria Cultura. Grande abraço, e como diria o finado Athayde (acho que agora virou Athaúde ehehehe) Patreze, ter um leitor como você é simplesmente um luxo!!!! rsrsrsr
    obs.: na verdade, até mesmo esses 2% devem ter ficado extasiados com o documentário, meu caro Cláudio rsrsrsrsrss

  4. Onde se lê agrações, leia-se atrações, por favor. Como a pressa gera erros rsrsrsrs

  5. Parece-me que o DVD tem alguns extras. Não deve ser nada imperdível, já que Scorsese certamente escolheu o melhor na edição final. Mas deve ter algumas curiosidades, como aquele bate papo entre Dhani, Martin pai e Martin filho:

    http://www.youtube.com/watch?v=B1RxdeqxF-U

    E também devem aparecer alguns números musicais completos, como este aqui da “turnê do desastre”, que é muito engraçado (reparem o estilo único da “maestra” indiana):

    http://www.youtube.com/watch?v=PoG0nN_HsHk

  6. admin

    June 3, 2012 at 2:22 am

    Valeu pelos links, Neder! Realmente não seria de se esperar tantos extras, já que o documentário é longo e tem muita coisa legal, mas é legal ter alguma coisa a mais em relação ao material apresentado nos cinemas. Grande abraço, tuuuudo de bom e volte sempre!

  7. Daniel Mendes

    June 6, 2012 at 12:59 pm

    Muito bom mesmo!! Fiquei anos esperando por ele e gostei bastante do resultado com videos ineditos da turne de 74 e as demos das musicas que estão sendo lançadas tambem. O george é o meu musico favorito, gostei da ideia da Olivia de dar algumas musicas dele inacabadas para os amigos acabarem, se der para musicos como paul mccartney, tom petty, jeff lynne, nao tem como ficar ruim!

  8. admin

    June 7, 2012 at 4:26 am

    Concordo, Daniel, pode ser uma boa mesmo, especialmente se essas músicas inacabadas caírem na mão dos caras citados por você. Só feras!!! Não vejo a hora de ouvir esse álbum de demos, que já vi nas lojas e cuja capa é a mesma do documentário… Grande abraço e obrigado pela visita!!!

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