Por Fabian Chacur

De todos os movimentos ocorridos na história de nossa riquíssima música popular, o Tropicalismo certamente segura o estandarte de o mais polêmico, influente e original. Mais de 40 anos após seu surgimento nos efervescentes anos 60, esse importante capítulo de nossa cultura permanece relevante e atraindo as atenções gerais.

Tropicália, documentário dirigido pelo experiente e competente Marcelo Machado, estreará nos cinemas paulistanos nesta sexta-feira (14) com a missão de oferecer ao público a oportunidade de conhecer melhor o que representa essa palavra de sonoridade agradável e imediatamente associada ao nosso “País Tropical abençoado por Deus”, como diria Jorge Ben.

O principal mérito da produção é conciliar, de forma inteligente e impecável, uma apresentação fluente do Tropicalismo oferecida a quem não o domina e a busca por elementos inéditos ou pouco divulgados para satisfazer quem conhece o tema de forma mais apurada.

Sem cair em um didatismo que poderia tornar o filme enfadonho, Tropicália proporciona ao espectador uma visão abrangente do movimento que ajudou a quebrar as barreiras entre estilos musicais e culturais até então considerados opostos. Graças ao Tropicalismo, rock, bossa nova, bolero, música erudita de vanguarda e jazz (para citar apenas alguns gêneros musicais) puderam dialogar em um mesmo contexto de forma livre e ousada.

Para contar essa história, Machado e sua equipe mergulharam em pesquisas que resgataram registros inéditos ou raríssimos por aqui de momentos importantes dos artistas envolvidos. Caetano Veloso e Gilberto Gil, por exemplo, aparecem dando entrevista a uma emissora de TV portuguesa em 1969, e em Londres em meio a seu exílio imposto pela Ditadura Militar.

Os cantores também são flagrados em uma desconhecida por muita gente participação no palco do mitológico festival da Ilha de Wight, na Inglaterra, evento que também incluiu figuras mitológicas como Jimi Hendrix, The Who, Miles Davis e The Doors, entre outros. Caetano e seus parceiros cantam Shoot Me Dead. De arrepiar.

Além dessas cenas garimpadas nos mais diversos arquivos, também temos entrevistas atuais com Caetano, Gil, Tom Zé, Gal Costa, Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e outros protagonistas do Tropicalismo. Em alguns momentos, o filme mostra Caetano, por exemplo, vendo algumas daquelas cenas raras e interagindo com elas.

Lógico que a música come solta durante os 82 minutos de duração do filme, entre as quais uma interpretação ao vivo simplesmente arrasadora de Back In Bahia, um dos clássicos composto por Gil e relacionado a seus dias de exílio londrino.

Tropicália é um documentário essencial para quem deseja entender os caminhos da música brasileira nessas décadas todas. Não vejo a hora do lançamento em DVD, principalmente se tivermos extras aproveitando material que ficou de fora da edição final. Deve ter muita coisa boa adicional nessa geleia geral pesquisada pela troupe da Bossa Nova Filmes.

Veja o trailer de Tropicália, de Marcelo Machado: