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Can’t Buy a Thrill – Steely Dan (ABC/1972)

Por Fabian Chacur

Ah, seo Victor Riskallah Chacur, quanto eu te devo em termos de conhecimento musical! Uma dessas dívidas, dentre inúmeras outras, foi ter conhecido no início de 1973 uma música espetacular chamada Do It Again, interpretada por um tal de Steely Dan, com Fire In The Hole no lado B. Mal sabia eu que estava descobrindo uma banda clássica e genial, uma das minhas favoritas.

Esse grupo seminal teve sua semente no encontro em 1967 entre os então garotos Donald Fagen e Walter Becker no Bard College, em Nova York. Não demoraram a perceber afinidades musicais infindáveis, e começaram a tocar juntos e a compor músicas. O músico Kenny Vance, do Jay And The Americans, gostou do que ouviu e os convidou para acompanhar esse grupo pop ao vivo e escrever músicas para serem oferecidas a outros artistas.

Fagen e Becker até que tentaram, mas pouca gente se interessou por seu som pop já bastante sofisticado, com letras irônicas e esbanjando personalidade. Não demorou a ficar claro o óbvio: eles mesmo teriam de gravar suas obras, e isso acabou se concretizando em 1972, mesmo ano em que largaram Vance e se mudaram para Los Angeles.

O lado intelectual e bem-humorado da banda surge logo no seu nome de batismo. Steely Dan saiu das páginas do livro The Naked Lunch, no qual seu autor, William Burroughs, cita em uma de suas páginas um “consolo”, “vibrador” ou como você preferir em português (em inglês, chama-se dildo) movido a vapor e com esse nome peculiar.

Além de Fagen nos vocais e teclados e Becker no baixo e vocais (no futuro, ele tocaria guitarra), a formação da banda neste álbum de estreia incluía Jeff Skunk Baxter (guitarra, pedal steel e violão), Denny Dias (guitarra e cítara elétrica), Jim Hodder (bateria e percussão) e David Palmer, cantor que entrou de última hora.

A escalação de Palmer se deveu ao fato de que Fagen, até então o principal cantor da banda, não se sentia à vontade na função. Com o tempo, isso seria superado por ele, e não por coincidência, as duas músicas de maior sucesso do primeiro LP do Steely Dan tem ele como lead singer: Do It Again e Reeling In The Years.

Can’t Buy a Thrill, título do álbum de estreia do projeto de Fagen e Becker, também tem origem nobre: os primeiros versos de It Takes A Lot To Laugh, It Takes a Train To Cry, de Bob Dylan, um dos pontos altos do célebre (e já resenhado em Mondo Pop) Highway 61 Revisited (1965), o mesmo que também inclui Like a Rolling Stone.

Lançado no final de 1972, o álbum mostra um Steely Dan um pouco diferente do que ele se tornaria mais para a frente. Trata-se de um disco mais roqueiro, energético e pop, embora os elementos de funk, soul e jazz que depois tomariam conta da sonoridade do grupo já estivessem por ali, especialmente na estupenda Do It Again, com seu tempero latino e belíssimas passagens de teclados. Um hit hipnotico, com um quê de Santana no meio.

Interpretada por David Palmer, Dirty Work é um raro caso de balada rock na obra do grupo e arrepia, assim como Midnight Cruiser, que traz o baterista Jim Hodder no vocal principal. O lado jazzy comparece com a deliciosa Only A Fool Would Say That, que traz um tempero de bossa nova e latinidade que a tornam um verdadeiro achado.

O rock and roll mais rasgado é o mote de Reelin’ In The Years, com direito a melodia sofisticada, levada de piano simplesmente envolvente e solos de guitarra vigorosos e em alguns momentos no melhor estilo twin guitars, quando dois ou mais guitarristas tocam as mesmas notas ao mesmo tempo, com um efeito arrasa-quarteirão.

Em termos comerciais, o CD teve ótima repercussão, atingindo o 17º posto na parada americana e emplacando dois singles no top 20: Do It Again (nº6) e Reelin’ In The Years (nº11). No quesito artístico, trata-se sem sombra de dúvidas de uma das melhores estreias de uma banda do primeiro time do rock, repleto de grandes canções, energia e a impressão de que se tratava de um time que viria para ficar. E ficou mesmo, embora mantendo só seu núcleo básico (Fagen e Becker).

Ouça Can’t Buy A Thrill, do Steely Dan, na íntegra:

7 Comments

  1. Oi, Fabian

    Comecei a ouvir falar em Steely Dan por volta de 1991 através do nosso querido Ed Motta(KKKK, pra mim apenas) que sempre citava a banda em suas entrevistas e que é influência assumida até hoje.Olha que tremenda coincidência, pois o primeiro item que eu comprei do Steely Dan foi esse compacto que você citou no inicio do texto em 1992 e logo depois este aqui resenhado.
    Enfim, um grande clássico entre vários lançados no maravilhoso ano de 1972.Alguns exemplos:

    -Talking Book – Stevie Wonder;
    -Trouble Man – Marvin Gaye;
    -Toulouse Street – Doobie Brothers;
    -Machine Head – Deep Purple;
    -Vol.4 – Black Sabbath;
    -Argus – Wishbone Ash;
    -Close to the Edge – Yes;
    -Foxtrot – Genesis;
    -Ziggy Stardust – David Bowie;
    -Acabou Chorare – Novos Baianos;
    -Passado,Presente,Futuro – Sá, Rodrix & Guarabyra;
    -Sonhos E Memórias – Erasmo Carlos;
    -Ben – Jorge Ben;
    -Elis – Elis Regina;
    -Clube da Esquina – Milton Nascimento;
    -A Dança da Solidão – Paulinho da Viola;

    Será que um dia veremos um show desses mestres aqui no Brasil???

    Abs
    André Luiz

  2. Boa, André Luiz, essa sua lista de tantos discos importantes de 1972, mas faltou citar o mais essencial de todos: Exile on Main Street dos Stones, graças ao qual o ROCK voltou a ser ROCK ‘N’ ROLL!
    Go back, do it again…

  3. admin

    October 18, 2012 at 5:22 pm

    Belo comentário, André Luiz, com a exceção do nome daquele cidadão Dwitza do qual prefiro manter distância rsrrsrsrs Aliás, valeu, pois se não me falha a memória a sugestão de comentar o Can’t Buy a Thrill e comemorar seus 40 anos de lançamento foi sua, brigadão!!! E realmente é uma grande coincidência termos começado pelo mesmo compacto simples, levando-se em conta que essa banda seminal lançou inúmeros outros ítens fantásticos. Saiu muita coisa boa em 1972, Cláudio, incluindo esse discaço dos Stones, uma aula de rock and roll. Brigadão pela visita, dupla, e voltem sempre!!!

  4. Sua memória está correta, Chacur. Foi mesmo o André Luiz que lhe sugeriu resenhar o “Can’t Buy A Thrill”, mas faça o favor de examinar direito aquele post, pois eu também logo em seguida postei uma sugestão que vc esqueceu, ou fingiu que esqueceu. Cara mal-agradecido!
    De qualquer forma, ab’ção pr’ocê do mesmo jeito… rsrsrsrsrsrsrrrsssrs

  5. Caro Foá Guy: faça a sugestão de novo, please!!! O Tio aqui às vezes vacila, meu caro. São 51 anos na estrada da vida, já viu…rsrsrsrs Grande abraço e tuuudo de bom!!!

  6. Repetir a sugestão, eu?
    André Luiz, o que vc acha? Devo eu cometer tal ousadia?
    abraços e kkkkkkkkks para todos

  7. admin

    October 19, 2012 at 2:44 pm

    Vamos, lá, Finzi Foá, “suja”, “suja”, como diria o meu filósofo favorito, Didi Mocó!!! rsrsrsrs Abs e tuuuuudo de bão!!!!

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