Por Fabian Chacur

Em 2 de abril de 1983, o Brasil perdeu Clara Nunes. Com apenas 40 anos de idade, partia de forma prematura para o outro lado do mistério uma das melhores cantoras da história da nossa música, intérprete de grandes recursos vocais e performáticos e de uma personalidade artística simplesmente imbatível.

A bela mineira nascida em Caetanópolis em 12 de agosto de 1942 não teve vida fácil, e passou por muitas e não tão boas até chegar ao estrelato. Foi operária, venceu concursos de rádio, gravou discos irregulares nos quais investiu em diversos estilos musicais, teve o apoio do impagável Carlos Imperial, sofreu com a vida amorosa…

Clara pegou no breu mesmo na década de 70, quando descobriu que, embora tivesse talento para cantar o que quisesse, era no samba que conseguiria ampliar de forma incomensurável os seus horizontes artísticos e de popularidade. E graças a seu mergulho apaixonado nesse gênero musical, tornou-se a nossa Guerreira, repleta de graça, carisma e talento.

A voz de Clara era poderosa, forte, agressiva, mas impressionantemente melódica, ao mesmo tempo. Daqueles gogós com assinatura, que nas primeiras notas ouvidas já se fazia reconhecida por todos. Em sucessos como Conto de Areia, O Canto das Três Raças, Meu Sapato Já Furou, Tristeza Pé No Chão e O Mar Serenou, ela provava que dava para fazer sucesso e cantar música relevante em termos artísticos ao mesmo tempo.

Nunca deixou de ser versátil, mesmo depois de vestir o manto da sambista clássica. Gravou com categoria forró, música baiana, samba-canção, bolero e o que mais pintasse, sempre esbanjando categoria e personalidade- vide Feira de Mangaio, Basta Um Dia, Fado Tropical e Lama,bons exemplos dessa vertente musical de Clara.

Como herança, Clara Nunes nos deixou uma discografia repleta de grandes momentos e a certeza de que poderemos ter novas cantoras bem interessantes, mas nenhuma com o seu perfil. Chega a ser hilariante ouvir algumas intérpretes que tentam regravar ou cantar ao vivo seus sucessos, pois raríssimas (uma delas é a ótima Aline Calixto) conseguem dar conta do recado. Seria melhor escolherem outras canções, pois as que a Guerreira eternizou são dela e de ninguém mais. Uma diva de verdade!

O Canto das Três Raças, com Clara Nunes: