Por Fabian Chacur

Joe Jackson é um dos grandes nomes surgidos no que se convencionou chamar de New Wave, no fim dos anos 70. Há quem o conheça apenas pelo hit Steppin’ Out, de 1982, ou quem sabe por Is She Really Going Out With Him, de 1979, o que é uma pena, pois esse cantor, compositor e tecladista britânico tem uma obra caudalosa e repleta de grandes momentos, como esse Live Music Europe 2010.

Com formação erudita e jazzística, Joe Jackson é no entanto um roqueiro por excelência. Na verdade, um fã de música que não tem pudores em misturar todas as suas influências e gerar uma sonoridade com apelo pop, mas repleta de sutilezas e com direito a canções simplesmente arrebatadoras. De quebra, ele também é um ótimo cantor, o que dá a seu trabalho uma consistência musical incrível.

Se é excelente nos estúdios de gravação, ao vivo ele simplesmente arrasa, improvisando com rigor jazzístico mas nunca deixando o virtuosismo atrapalhar a fluência das músicas que interpreta. Todos os seus discos ao vivo são muito legais, e este aqui, gravado durante vários shows em sua turnê europeia de 2010 não foge à regra, sendo mesmo um de seus melhores nesse formato, flagrando-o bem à vontade e solto.

Ao seu lado, compondo o Joe Jackson Trio, dois músicos que o acompanhavam no início de sua carreira: o baixista e vocalista de apoio Graham Maby, espécie de braço direito que está com ele em boa parte de sua trajetória solo, e o baterista e vocalista de apoio Dave Houghton, que o reencontrou há dez anos e vem se mantendo por perto nessa última década. Um trio simplesmente estupendo e entrosado até a medula.

Valendo-se apenas de alguns loops e recursos eletrônicos pré-gravados aqui e ali, o trio se mostra afiadíssimo. O repertório investe em canções de várias fases da carreira de Jackson, desde Got The Time e Sunday Papers, dos tempos da new wave, passando por Cancer, Chinatown, Slow Song e Another World, de sua obra-prima Night & Day (1982) e chegando à recente Still Alive, de 2004.

Os arranjos seguem os originais, mas abrem caminhos para novos elementos musicais e solos inspiradíssimos de Joe Jackson nos teclados. A trinca de covers que ele faz na sequência, no meio do show, é matadora: Girl, dos Beatles (no melhor esquema voz e piano), Inbetweenies (do saudoso Ian Dury) e Scary Monsters (de David Bowie), esta última nervosa e rocker.

Ao fim das 12 faixas que compõem o repertório de Live Music Europe 2010, será inevitável você ouvir de novo e de novo, pois além do repertório ser ótimo, a sequência de músicas e a performance da banda arrebatam o ouvinte. Duvido que alguém de bom gosto ouça esse álbum (que infelizmente não saiu no Brasil) e não se sinta tentado a descobrir mais músicas desse verdadeiro gênio pop. Faça isso, você não irá se arrepender…

Scary Monsters, com o Joe Jackson Trio:

Girl, com Joe Jackson: