Por Fabian Chacur

David Crosby é acima de tudo um sobrevivente. Para muitos e durante muito tempo, ele acabaria se tornando mais um daqueles roqueiros que nos deixaram antes do tempo, como Jim Morrison, Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin e tantos outros. Esteve mesmo a ponto de seguir essa sina, mas felizmente isso não ocorreu. Hoje, aos 72 anos, esbanja vitalidade e criatividade, como prova seu novo CD solo, o maravilhoso Croz.

Trata-se do primeiro álbum solo de estúdio lançado pelo cantor, compositor e músico americano desde 1993, quando Thousand Roads chegou às lojas de todo o mundo. Nesse período, esteve em franca atividade, fazendo shows e lançando novos trabalhos com o Crosby, Stills & Nash, Crosby, Stills, Nash & Young e o CPR, além de realizar muitos shows e turnês.

Aliás, é curioso notar que, até meados dos anos 80, Crosby era o menos produtivo dos integrantes do CSN. A partir do lançamento de seu segundo álbum solo, Oh Yes I Can (1989), o jogo virou, e hoje ele trabalha e produz muito mais do que os velhos amigos e colegas Stephen Stills e Graham Nash. A parceria com James Raymond pode explicar um pouco essa atividade toda.

Além de excelente cantor, compositor e tecladista, Raymond também é filho do ex-integrante dos Byrds, um filho que ele só foi descobrir na segunda metade dos anos 90. Junto com o guitarrista Jeff Pevar, eles criaram o seminal trio CPR, que lançou dois ótimos discos de estúdio e dois certeiros álbuns ao vivo entre 1998 e 2001. O novo CD solo é um desdobramento desse trabalho, de certa forma.

Além do filho, os músicos que acompanham Crosby em Croz são integrantes da banda de apoio que atuou na última turnê do Crosby, Stills & Nash, aquela que passou pelo Brasil em maio de 2012. Isso explica o ótimo entrosamento do time. Curiosamente, o autor de Guinevere não toca violão no álbum, sendo muito bem substituído por Marcus Eaton na função. Ele toca apenas guitarra, e em apenas uma única faixa (If She Called).

Isso pode explicar o porque o desempenho vocal do velho mestre é tão bom, pois ele se dedicou exclusivamente a ele, e às composições, que se dividem entre ele, Raymond e os músicos de apoio. A voz de Crosby, como pudemos conferir ao vivo em 2012, está melhor do que nunca, aproveitando cada deixa melódica para se mostrar, sem exageros e com precisão cirúrgica.

O álbum traz duas participações especialíssima: Mark Knopler, ex-Dire Straits, dá um banho de sutileza na guitarra na jazz-folk What’s Broken, enquanto o jazzista de ofício Wynton Marsalis (que já gravou e fez shows com Sting, por sinal, e está sempre aberto a experiências sonoras) faz um solo inspiradíssimo de trumpete na belíssima Holding On To Nothing.

O álbum tem um clima melódico e reflexivo, centrado em canções com inspiração country, rock, jazz e folk. Radio, que o CSN tocou em seus shows no Brasil e durante a turnê de 2012, aparece aqui em impecável versão de estúdio. The Clearing, Dangerous Night e Slice Of Time são outros destaques, mas o álbum se sustenta como um todo, sem nada jogado fora.

Nesse momento, David Crosby está fazendo alguns shows para divulgar Croz, e em breve deve voltar à estrada com o CSN. Nada melhor do que ver um músico com o seu currículo e a sua envergadura ainda disposto a trabalhar duro para nos oferecer novas canções, novas vocalizações, novos shows. Eis um sobrevivente que merece todos os aplausos possíveis.

Vale o aviso: Croz, um lançamento do selo independente Blue Castle Records, não teve até o momento uma edição nacional, sendo disponível apenas em lojas que trabalham com álbuns importados. Uma pena, mas vale cada centavo que você pagar por essa versão importada, com direito a capa tripla digipack e encarte luxuoso com direito a letras e ficha técnica completa.

Ouça o álbum Croz na íntegra em streaming: