Por Fabian Chacur

Marisa Monte surgiu feito um tsunami no fim dos anos 80 no cenário musical brasileiro. Em 1996, já havia lançado quatro ótimos álbuns e garantido um espaço próprio e grande em termos de público. Desde então, no entanto, caiu em uma mesmice no quesito álbuns de carreira, o que só é salvo pelas performances ao vivo. O blu-ray Verdade Uma Ilusão Tour 2012/2013 (Phonomotor/Universal Music), também disponível nos formatos CD e DVD, é a mais nova prova dessa curiosa situação.

A partir do álbum Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000), que contém a constrangedora Amor I Love You, Marisa passou a nos oferecer, mais ou menos de quatro em quatro anos, álbuns de estúdio irregulares geralmente contendo canções no melhor (ou pior) estilo “mais do mesmo” pouco inspiradas, com uma ou outra pérola perdida no meio. A exceção é o ótimo Os Tribalistas (2002), gravado em parceria com Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes.

Se os discos de inéditas ganharam essa conotação negativa, os shows da cantora, compositora e instrumentista carioca se mantiveram quentes. De forma inteligente, Marisa se vale da técnica de mesclar clássicos de seu repertório anterior com apenas algumas faixas do trabalho que está lançando. O resultado fica encorpado e disfarça bem essa inconsistência dos CDs recentes.

Verdade Uma Ilusão é a turnê que divulgou durante 2012 e 2013 outro álbum fraco, O Que Você Quer Saber de Verdade (2011), cuja faixa de trabalho, Ainda Bem, faz a já raquítica Amor I Love You soar como se fosse Yesterday, dos Beatles, na comparação. Das 18 faixas incluídas no roteiro, 7 são desse trabalho, sendo umas três à altura da qualidade anterior do trabalho da Patroinha (como ela era chamada pelo saudoso baterista Gigante Brasil).

Para felicidade geral de quem gosta de seu trabalho e não aceita qualquer coisa autoindulgente, Marisa nos oferece outras 11 músicas bem melhores, entre clássicos de seu repertório como Diariamente, Gentileza e Não Vá Embora, sua composição ECT (sucesso na voz de Cássia Eller) e novidades como Dizem (Quem Me Dera) e Sono Come Tu Mi Vuoui.

O show traz outros elementos matadores, como a soma de uma banda excelente composta por Dadi (verdadeiro Forrest Gump da nossa música popular), Carlos Trilha (que tocou e gravou com a Legião Urbana) e três integrantes da Nação Zumbi (Dengue no baixo, Lucio Maia na guitarra e violão e Pupillo na bateria e percussão) com um quarteto de cordas, mistura finíssima que deu super certo.

Um belo telão de alta definição cria o cenário para cada música, dando um resultado visual sofisticado e cativante que chega ao auge em Verdade Uma Ilusão, na qual, graças a recursos de iluminação, Marisa fica como se fosse uma holografia viva enquanto interpreta essa canção nostálgica e um dos poucos momentos bacanas de seu mais recente álbum de estúdio.

A se lamentar, apenas o fato de o blu-ray (e o DVD) não incluírem um making of do show, pois seria bem interessante saber detalhes dos elaborados efeitos especiais utilizados durante o espetáculo. Ah, e vale ressaltar a ótima forma da voz de Marisa, melhor do que nunca, e de sua performance ao vivo, ora tocando violão e guitarra, ora se concentrando no canto, sempre de forma centrada, charmosa e segura.

Verdade, Uma Ilusão (ao vivo), faixa do novo DVD de Marisa Monte: