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Por Fabian Chacur

Lenine é um artista que consegue conciliar uma forte assinatura própria nos trabalhos que faz com uma grande capacidade de trabalhar com parceiros de forma criativa e democrática. Carbono, seu novo CD, é uma boa prova dessa afirmativa, pois conta com participações bacanas que não descaracterizam o jeitão próprio dele atuar.

Desde seu primeiro álbum, Baque Solto (de 1983, gravado em parceria com Lula Queiroga), Lenine investe em uma mistura de ritmos nordestinos, MPB do Eixo Rio-São Paulo (digamos assim), rock, pop e o que mais vier. O resultado de sua concepção é um som que tem fortes doses de poesia, ritmo e boas melodias, sem aceitar rótulos fáceis.

É rock, é pop, é baião, é bossa nova, é samba, tudo ao mesmo tempo agora. Jack Soul Brasileiro, como bem diz o título de uma de suas músicas mais emblemáticas. Isso o coloca em raia própria, distante de movimentos ou tendências limitadoras, mas nunca o impediu de trocar figurinhas bacanas com gente como o genial percussionista Marcos Suzano, por exemplo (com quem gravou o icônico CD Olho de Peixe, de 1993, discoteca básica de música brasileira).

Outra marca de Lenine é o fato de ele só gravar novos trabalhos quando tem material decente para tal. Não existe um disco com sua assinatura que seja menos do que bom. Sua autocrítica poderosa deve ser a explicação, e Carbono segue essa linha positiva. Traz 11 faixas ótimas, escritas com parceiros como Lula Queiroga, Carlos Posada, Vinícius Calderoni, Carlos Rennó e Dudu Falcão, entre outros.

Em relação ao ótimo Chão (2011), seu trabalho “de carreira” anterior, trata-se de um álbum mais nervoso e rítmico, com pelo menos dois momentos alucinantes e matadores: Cupim de Ferro, com parceria e participação da Nação Zumbi, e À Meia Noite dos Tambores Silenciosos, dobradinha com a excitante Orkestra Rumpilezz de Letieres Leite.

Quede Água, Castanho, O Impossível Veio Para Ficar e O Universo na Cabeça do Alfinete são outros momentos de rara felicidade. A produção tocada a seis mãos por Bruno Giorgi, JR Tostoi e o próprio Lenine se incumbe de acrescentar sonoridades ora grandiosas, ora delicadas, mas sempre dando o que cada canção pede.

Mas a faixa que provavelmente mais fala sobre o espírito desse grande artista pernambucano é Quem Leva A Vida Sou Eu, assinada só por ele. Ao contrário do tom conformista do sucesso de Zeca Pagodinho Deixa a Vida Me Levar, ele prefere apostar no contrário, capitaneando novos rumos e novas experiências. Como esse ótimo Carbono.

Quem Leva a Vida Sou Eu– Lenine: