rogerio rochlitz capa novo cd-400x

Por Fabian Chacur

Em seu quinto CD, o recém-lançado 2345, Rogério Rochlitz resolveu deixar de lado por um tempo recursos usados anteriormente por ele (com muito talento, por sinal), como computadores, teclados e arranjos “mirabolantes”, para investir em uma sonoridade mais orgânica. Músicos tocando simultaneamente, piano acústico e muita inventividade. O resultado é excelente, uma bela viagem pelo mundo da boa música instrumental.

Com mais de 20 anos de carreira, o pianista e compositor já tocou com Trio Mocotó, Elton Medeiros, Paula Lima e Danilo Caymmi, além de ter integrado o infelizmente já extinto e promissor grupo Jambêndola. Sua marca registrada é o bom gosto nos arranjos e a fluência no piano e teclados, sempre tirando sons swingados e bem concatenados dos instrumentos que pilota com devoção e classe.

Sua discografia como artista solo inclui itens bem legais, entre eles o excelente CD Móbile (leia a resenha aqui) e o delicioso DVD Cores Ao Vivo (leia a resenha aqui). Ele investe em música instrumental com tempero brasileiro e repleta de elementos internacionais como jazz, funk, soul, rock e latinidade, sem medo de misturar e de ser feliz.

O novo CD o traz acompanhado por uma banda formada por João Poleto (sopros), David Rangel (baixo) e Ramon Montagner (bateria). Temos também dois músicos em participações especiais, Ivan Vilela (viola caipira) e Sergei Eleazar de Carvalho (violino). O quarteto base utilizado no álbum varia em alguns momentos, indo de um duo a um quinteto, o que explica o título 2345 dado ao disco.

Rochlitz atua não como um pianista virtuoso (que ele é), e sim como um talentoso band leader, encaixando seu instrumento em meio ao que cada composição pede, abrindo espaços para que os outros músicos também brilhem. Este é provavelmente o trabalho com mais influências do jazz em sua discografia, tanto a estilística como em termos de liberdade para solos e improvisos dos participantes.

2345 começa com dois sambas conduzidos por solos de sopros, as sacudidas Nita e Berê e Ibira. Carrossel, uma espécie de valsa mais leve, abre espaços para o piano ficar à frente. Lembra? é uma introspectiva e evocativa melodia, na qual violinos e sopros brilham. O baixo tem seu momento de destaque na balada Fim de Tarde.

Dito e Feito traz o lado mais sacudido de volta, um samba funk no qual são o piano e o baixo que duelam. Supernova é uma deliciosa e delicada combinação de piano e viola caipira, surpreendendo o ouvinte logo de cara. Rural traz o contraste de uma levada mais agitada por parte do piano e de alguns momentos mais lentos aqui e ali.

Pax é uma balada jazzística por excelência, e é aqui que o excelente baterista Ramon Montagner fica à frente, com viradas espertas e repletas de classe. Em Fada, outro momento mais lento em termos de andamento, Rochlitz aproveita para improvisar com fluência. Nelson possui um andamento jazzístico com leves ecos de Take Five (de Paul Desmond e hit supremo de Dave Brubeck) e deliciosas intervenções dos sopros e do violino. Uma delícia.

O final de 2345 é com a faixa Talvez Hoje, que possui boas afinidades com a que abre o CD (Nita e Berê). Mais intrincado do que seus trabalhos anteriores, o novo álbum de Rogério Rochlitz mantém no entanto acessibilidade suficiente para que até os neófitos em música instrumental possam curtir essa musicalidade consistente e repleta de calor proporcionada por ele. Música instrumental brasileira com alma.

Dito e Feito (ao vivo)- Rogério Rochlitz:

Ouça o CD Mobile de Rogério Rochlitz em streaming:

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