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Por Fabian Chacur

Triste alguém com tanto talento, dinheiro e milhões de fãs como Kurt Cobain poder acabar de forma tão triste, aos 27 anos, tirando a própria vida. Pior: pai de uma linda menininha que estava com menos do que dois anos quando a tragédia ocorreu. Como entender uma coisa dessas? O documentário Cobain: Montage Of Heck, de Brett Morgen, tenta nos dar algumas pistas.

O filme se vale de vasto material cedido pela família do artista, incluindo os pais, irmã e a viúva, a roqueira Courtney Love. Temos também algumas animações muito bacanas representando bem momentos da vida do líder do Nirvana em várias fases de sua vida, trechos de entrevistas, shows, clipes, ensaios e também alguns depoimentos de músicos e produtores que atuaram com ele.

Ver aquele moleque loirinho com algo em torno de dois anos dizendo “sou Kurt Cobain” chega a ser desconcertante, pois fica difícil imaginar que aquele lá é o mesmo sujeito que no futuro iria nos proporcionar Smells Like Teen Spirit, In Bloom, Serve The Servant e All Apologies, só para citar alguns clássicos nirvânicos mais óbvios. Sim, seria ele mesmo.

É sempre fácil achar culpados nesse tipo de situação, e Montage Of Heck nos proporciona vários. Pelas entrevistas de Don e Jenny Cobain, fica claro que os dois não tiveram garra suficiente para encarar o filho problemático, e foram jogando a bomba no colo um do outro, até que o problema, digo, Kurt, cresceu totalmente perturbado.

O moleque dava a entender que desejava uma família que lhe desse apoio, mas também não se mostrava alguém muito fácil. Nessas, passou de família para família, pois os pais se separaram. A madrasta o expulsou de casa, e pela forma que ela conta a história, com o marido calado ao lado, dá para notar um certo arrependimento do cidadão.

A mãe também queria ter sua própria vida. Assim, Cobain caiu no mundo. Temos o depoimento de uma namorada com a qual ele morou, do provavelmente melhor e mais fiel amigo e baixista do Nirvana Krist Novoselic, da irmã Kim Cobain e outros. Curiosamente, nenhuma declaração de Dave Grohl, hoje megastar por conta própria e na época baterista do Nirvana. Seria legal ter ouvido a opinião dele.

Quando Courtney Love entra em cena, o que já era uma bagunça virou a festa de todas as frutas possíveis. Baderna total. Os dois viciados em drogas que, de quebra, resolveram ter uma filha, Frances, que nasceu em 18 de agosto de 1992. As declarações atuais de Love são bem francas, mas o que realmente assusta são os filmes caseiros feitos na época.

Neles, o relacionamento de Courtney e Kurt beira a maluquice completa, com direito a papos desconectados da realidade, inseguranças postas em cena o tempo todo e, a partir da entrada em cena da filha, o medo de ver a pobre da criança pagando o pato pela maluquice dos pais. São cenas dignas de um filme do tipo O Iluminado. Só que reais…

No entanto, nada disso viria a tona se Kurt Cobain não fosse um cantor, compositor e músico genial. Com os álbuns Bleach (1989), Nevermind (1991) e In Utero (1993), proporcionou aos fãs uma mistura incrível de punk rock, rock clássico e pop repleto de energia, criatividade e letras fortes. O casal Love-Cobain foi comparado como uma mistura de John Lennon-Yoko Ono e Syd Vicious-Nancy Spungen. E era por aí.

Kurt Cobain queria que o Nirvana fosse reconhecido mundialmente, mas não estava preparado para tanto sucesso. Quando essa repercussão toda se tornou realidade, ele não segurou a onda. Como trechos de entrevistas e de shows, incluindo o feito pelo Nirvana no Hollywood Rock em janeiro de 1993 no Rio de Janeiro, deixam bem claro. Ele precisava de proteção, especialmente de si mesmo. Seria possível?

Cobain: Montage Of Heck, com seus 132 minutos de duração, ao lado do recém-lançado Amy (leia a resenha aqui ), sobre a vida de Amy Winehouse (outra morta aos 27 anos), são dois bons retratos de artistas geniais que não conseguiram encarar a barra que é ser famoso e badalado. É o que diz aquela frase: “cuidado com o que você deseja”…

Cobain: Montage Of Heck (documentário-preview):

Kurt Cobain Montage Of Heck: