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Gustavo Carmo fala sobre CD em duo com Aquiles Priester

Aquiles Priester_Gustavo Carmo . Photo by Alex Solca.

Por Fabian Chacur

O guitarrista Gustavo Carmo e o baterista Aquiles Priester se conheceram em 2001. Desde então, ficou no ar o desejo de realizarem um trabalho em dupla. O que, enfim, se concretizou em 2015 com o CD Our Lives, 13 Years Later…, que tem como marca a ousadia.

O álbum conta com participações especiais de nomes badalados do rock como Greg Howe, Tony MacaAlpine, Vinnie Moore e Junior Carelli, entre outros. Em entrevista a Mondo Pop, Gustavo Carmo fala sobre como esse CD foi gravado, e o desafio de trabalhar com alguém tão ocupado como Aquiles, que integra várias outras bandas.

Mondo Pop- Como ocorreu aquele primeiro encontro entre vocês, em 2001? Vocês tocaram juntos logo de cara? E o projeto do disco sempre foi de um trabalho instrumental?
Gustavo Carmo
– Em torno de 2001, o Hangar, a banda do Aquiles, e o Versover, a minha banda, eram do cast da mesma gravadora, a Die Hard Records. Na época, gravávamos as nossas participações para o Hamlet, um projeto da gravadora que contava com várias bandas da cena metal underground brasileira. Nos conhecemos no Creative Studios em SP durante as gravações.
Nessa mesma época, a Die Hard queria lançar um disco instrumental chamando eu e o Aquiles pra fazer parte do disco. Portanto, a ideia foi sempre ter um disco instrumental, e foi a gravadora que criou a oportunidade.
No entanto, logo em seguida, o Aquiles entrou no Angra e foi impossível levar o projeto pra frente pois a banda ocupou todo seu tempo. Nem chegamos a tocar juntos na época, foi tudo muito embrionário, não deu tempo de acontecer nem o primeiro ensaio. Como o projeto não teve muita tração nessa época, todo o conceito acabou sendo desenvolvido agora. Não tínhamos material daquela época. Só a vontade de fazer o disco.

Mondo Pop- Nesses anos todos você continuaram mantendo contato? E como foi esse reencontro aqui no Brasil?
Gustavo Carmo
– Trocamos alguns emails informais nesse meio tempo, mas extremamente esporádicos. Em 2008, depois que o Aquiles saiu do Angra, o convidamos para fazer um show com o Versover e foi aí que voltamos a interagir. Acabamos montando a nossa banda, House of Bones, fizemos alguns shows, e somente muitos anos depois retomamos o projeto instrumental. Durante as gravações do EP do House of Bones em 2011 eu pedi pro Aquiles me passar umas linhas de bateria, pois eu tentaria fazer músicas em cima delas.
Depois de uns meses, ele ouviu o resultado, gostou e sugeriu retomar o projeto fazendo inteiro neste modelo, ou seja, começando pelas partes rítmicas e depois as harmonias, temas, bases e solos. A princípio ele não levou a sério, mas depois que enviei as duas primeiras músicas ele se animou e ai tudo tomou forma.

Mondo Pop- Desde que rolou o reencontro e vocês decidiram gravar juntos ficou definido que fariam isso de forma virtual ou vocês tentaram arrumar um tempo para fazer o trabalho juntos no mesmo estúdio?
Gustavo Carmo
– Estava tudo muito claro de que esse projeto só aconteceria se fosse virtualmente, por causa da distância. Eu moro em Seattle, o Aquiles mora em São Paulo, e eu não vou para o Brasil com tanta frequência que desse para nos encontrarmos o suficiente em estúdio para fazer um disco inteiro assim. Logo, percebemos que isso seria possível virtualmente através do modelo que escolhemos para compor. As duas primeiras músicas tiveram um resultado bom, e ficamos animados. A animação passou a ser a mesma de quem faz tudo dentro do estúdio.

Mondo Pop- Como foi essa experiência de compor e gravar a distância? Que recursos foram fundamentais para que essa parceria virtual se concretizasse a contento?
Gustavo Carmo
– A experiência teve uma pitada diferente daquela que acontece quando compomos como uma banda completa, com todos fisicamente no mesmo lugar. A caixa de surpresas teve uma forma diferente. Tudo girava em torno de ‘o que será que o Aquiles vai fazer tocando as partes sozinho, do nada’ e ‘o que o Gustavo vai conseguir fazer com essas baterias cruas’.
A ferramenta mais importante para o processo é, naturalmente, a Internet. Precisávamos de uma forma de enviar material um para o outro, e também bater bola para polir as músicas. E-email, Skype, ferramentas para compartilhamento de arquivos e por ai vai.

Mondo Pop- O CD teve várias participações ilustres. Como esses músicos se encaixaram em cada faixa, e como foram feitas as gravações?
Gustavo Carmo
– Nós procuramos colocar as participações nas faixas que fizessem sentido e que combinassem com o estilo e a linguagem de cada um deles. Por exemplo, o Greg Howe foi para uma faixa em que havia um trecho mais rock/fusion. O Tony MacAlpine para uma base mais alternativa, com harmonias mais rebuscadas.
O Vinnie Moore para uma faixa mais rock n’ roll e o Kevin Moore para uma mais progressiva. Contanto também claro com as participações de Junior Carelli e Francis Botene nos teclados, e de Bruno Ladislau, que fez um trabalho fenomenal nos baixos em todas as faixas do disco. Indiscutível a qualidade de seu trabalho.
Para as gravações das participações, seguimos o mesmo modelo. Ninguém nunca se encontrou em estúdio, trocamos os arquivos pela Internet e mandamos as instruções via e-mail. Em seguida, cada um deles mandou a faixa com suas respectivas gravações de volta e foi só colocar na sessão.

gustavo carmo e aquiles priester capa cd-400x

Mondo Pop- Uma característica bem atípica do trabalho da dupla é o fato de as composições começarem sempre a partir da parte rítmica, sem ser no sistema de jam sessions. Fale um pouco sobre isso.
Gustavo Carmo
– Quando novas composições começam a partir das partes rítmicas, são necessárias várias interações e rearranjos até que uma estrutura coesa tome forma. Mas, de uma forma geral, tudo começa de improviso, tanto as partes de bateria, quanto as partes de guitarra, depois que as partes rítmicas foram enviadas. É um processo exaustivo de tentativas até que algo interessante apareça.
Sob a perspectiva da criatividade, este processo foi algo novo para nós. Geralmente, os músicos estão na mesma sala e cada um sugere partes, riffs, arranjos e levadas, e é assim que a música toma forma. E mesmo que trabalhem remotamente, na maior parte das vezes a música começa dos riffs ou de linhas melódicas e harmônicas. No nosso caso, os sinais que eu tinha eram as levadas e viradas de bateria. No caso do Aquiles, os únicos sinais que ele tinha eram a sua imaginação e seu vocabulário musical.

Mondo Pop- Fazendo uma autoanálise do resultado final do CD, o trabalho saiu como vocês imaginavam ou tomou rumos muito diferentes?
Gustavo Carmo
– Uma característica interessante do resultado é que as músicas acabaram saindo com arranjos, estruturas, frases e formas que dificilmente obteríamos caso tivéssemos usado os mecanismos tradicionais de composição. Pelo fato de termos abordado a forma de compor de um jeito diferente, as músicas acabaram em direções que não tínhamos imaginado.
No entanto, a intenção principal era fazer um disco que os ouvintes pudessem repetir sem se sentirem enfadonhos, algo em que pudessem mergulhar, em que cada música tivesse algo especial. É difícil manter essa forma de pensar através do álbum todo, pois é um disco técnico. Este é o maior motivo pelo qual eu mantive o ritual de polir as músicas muitas vezes. Se algo me enjoasse, era sinal de que alguma coisa estava errada.

Mondo Pop- Como vocês pretendem divulgar esse álbum? Apesar da distância e das agendas apertadas dos dois, existem planos de shows para divulgar o CD, ou mesmo a gravação de um DVD para registrar em termos visuais esse encontro?
Gustavo Carmo
– Sim, temos planos para fazer shows em breve. Quando os shows ocorrerem no Brasil, eu irei até lá, ensaiaremos uns dias antes e partiremos para a estrada. A mesma coisa quando o Aquiles vier pros EUA. Estamos planejando um DVD para o início de 2016, mas ainda estamos discutindo os detalhes.

Mondo Pop- O rock instrumental tem um espaço menor na mídia e perante o público do que aquele feito com vocais. Como fazer para superar essas dificuldades e levar o CD ao maior número de pessoas?
Gustavo Carmo
– Lançar um disco de rock instrumental é de fato um desafio grande em termos de público. Felizmente temos a Internet. Fizemos o lançamento mundial do disco em formato digital e físico. Os dois estão indo bem. Não é difícil atingir o público, ainda que restrito, tendo esses recursos. As redes sociais também ajudam bastante. O Aquiles tem uma exposição muito grande e isto facilita bastante a divulgação.

Mondo Pop- Como surgiu a ideia das duas faixas bônus solo no final do disco?
Gustavo Carmo
– A ideia era ter uma faixa de cada um fora do projeto. A minha intenção foi de mostrar versatilidade, e já que tinha tocado guitarra distorcida o disco todo, acabei fazendo uma faixa de violão clássico no espaço do me solo. O Aquiles fez o seu solo de bateria mais famoso pois… ele é o Aquiles!

Aquiles Priester & Gustavo Carmo: Our Lives, 13 Years Later – Teaser video:

Kevin Moore- Aquiles Priester- Gustavo Carmo: Cluttered Inbox:

2 Comments

  1. Ouvindo nesse momento. Muito talento envolvido e boas músicas, curto muito som instrumental. Metal progressivo muito bem executado.

  2. Muito legal mesmo esse trabalho, Juliano, mais uma prova de que o nosso rock tem qualidade e consistência compatível com o internacional. Grande abraço e muito obrigado pela visita!

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