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David Bowie e as lembranças de um grande ídolo do rock

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Por Fabian Chacur

David Bowie nos deixou neste domingo (10), apenas dois dias após completar 69 anos de idade. Conforme comunicado oficial de seu manager, o cantor, compositor e músico britânico lutava há 18 meses contra um câncer, o que não o impediu de gravar Black Star, novo álbum que lançou no dia de seu aniversário e que chegará às lojas brasileiras em breve. Uma perda para o mundo das artes do tamanho…do mundo!

O som de David Bowie entrou na minha vida no já longínquo ano de 1975, quando meu saudoso irmão Victor comprou um compacto simples que incluía Young Americans e Sufragette City. A primeira logo se tornou uma das minhas músicas favoritas, com sua levada soul-funk e vocais que evocavam Elvis Presley, curiosamente nascido no mesmo dia e mês que ele (8 de janeiro, só que de 1935, enquanto Bowie nasceu em 1947).

Sufragette City, de 1972, do seminal álbum Ziggy Stardust And The Spiders From Mars, só foi devidamente compreendida por mim depois de vários anos. Não muito tempo depois, em 1976, Golden Years fez parte de trilha de novela e deu sequência a minha experiência em relação à obra desse grande artista. No início dos anos 1980, comprei duas coletâneas e começava a ampliar minha coleção dele.

Com o estouro de Let’s Dance (1983), e mesmo um pouco antes, já estava indo atrás dos discos anteriores lançados pelo astro britânico. Vale lembrar que estavam todos fora de catálogo no Brasil, e custavam bem caro nos sebos da vida. Mas, com paciência e juntando cada centavo, fui aos poucos completando minha coleção. Também nessa época, conheci Rosa Kaji, presidente do incrível fã-clube de Bowie no Brasil, que me ajudou muito no sentido de conhecer a obra desse gênio.

Ironicamente, Rosa se mudou do Brasil para os EUA lá pelos idos de 1987 pelo fato de ter como sonho ver um show de seu grande ídolo, e de não acreditar que ele viria se apresentar ao vivo em nossos palcos.

Curiosamente, isso acabou ocorrendo muito antes do que se poderia imaginar, em 1990, durante a turnê Sound + Vision, que em São Paulo passou pelo estádio Palestra Itália, do Palmeiras, em belo show debaixo de chuva que teve abertura dos Titãs.

A Sound + Vision foi uma turnê com repertório calcado nos grandes sucessos da carreira do roqueiro e teve como marca uma bela campanha de relançamento de sua discografia lançada entre 1969 e 1980 pela gravadora RCA, cujos direitos então passaram para a EMI-Odeon (no Brasil) e Rykodisc (nos EUA). Enfim esses álbuns seminais voltavam aos catálogos e puderam ser devidamente apreciados por muito mais gente.

Em 1º de novembro de 1997, Bowie voltou a tocar por aqui como atração principal do festival Close Up Planet, realizado em São Paulo na Pista de Atletismo do Ibirapuera. E mais uma vez a chuva esteve presente, desta vez uma garoa que felizmente não durou o tempo todo. Outro show incrível, repleto de pique e com a sonoridade com tempero drum n’ bass do álbum Earthling, que ele tinha lançado há pouco.

Vale lembrar que esse show de 1997 pode ser considerado mais ousado em termos estilísticos, mas o de 1990 equivaleu a um maravilhoso desfile de grandes hits, tendo a guitarra de Adrian Belew como cereja de um bolo delicioso. Tive a oportunidade de trocar umas rápidas palavras com esse guitarrista, que também tocou com o King Crimson e Talking Heads, no hotel Hilton, onde Bowie estava hospedado. Foi o mais perto que cheguei do roqueiro britânico…

Porque David Bowie é tão vital para a história do rock? Eis uma explicação para ser dada em muitas e muitas linhas. Logo de cara, é por ter sido um artista multimídia quando esse termo nem ao menos existia. Nunca se restringiu apenas à música, mergulhando de cabeça no cinema, teatro, literatura, artes plásticas e o que mais pintasse, sempre com muita curiosidade e procurando aprender o máximo possível. Um verdadeiro operário da arte.

O autor de clássicos como Space Oditty, Ziggy Stardust, Heroes, Let’s Dance e tantos outros nunca dormiu em cima dos louros conquistados. Rock futurista em Space Oditty, glam rock em Ziggy Stardust e Rebel Rebel, soul-funk em Young Americans, experimentalismo eletrônico em Low e Heroes, pop funk rock em Let’s Dance, o cara se renovava constantemente. Sua discografia é uma verdadeira aula de rock.

Ao contrário de muitos inovadores, que pagaram um alto preço por sua ousadia, David Bowie conseguiu criar novidades maravilhosas em termos musicais e vender milhões de discos, além de sempre lotar seus shows pelo mundo afora. Soube se manter relevante, e quando lançou em 2013 um novo álbum de inéditas após dez anos, o sublime The Next Day (leia a resenha desse álbum aqui), tinha milhões de ouvintes dispostos a curtir novamente seu trabalho. Ele sabia se renovar.

Em 2014, mais de 80 mil pessoas tiveram a oportunidade de conferir em São Paulo uma maravilhosa exposição com memorabilia de Bowie (leia matéria sobre esse incrível evento pop aqui), uma rara e preciosa oportunidade de se ter a plena noção da abrangência e criatividade de uma obra seminal em todos os sentidos.

Ele já era uma lenda mesmo antes de nos deixar, imaginem agora, quando infelizmente não o teremos mais por perto. A rigor, trabalhou até muito próximo de seu fim, o que lhe dava muito prazer e força. Aliás, claro que o teremos por perto, sim, ao menos em discos, DVDs, Blu-rays, livros etc. Bowie é trilha sonora eterna!

Young Americans– David Bowie:

Fashion– David Bowie:

– Ashes To Ashes- David Bowie:

– Rebel Rebel- David Bowie:

The Stars (Are Out Tonight)– David Bowie:

3 Comments

  1. Alexandre Henrique Damiano

    January 11, 2016 at 10:53 am

    Não sou um grande fan de Bowie. Mas é inegável o seu talento e legado.

    Gosto muito de algumas faixas e entre elas Modern Love

    Abraços

  2. vladimir rizzetto

    January 12, 2016 at 8:05 pm

    Além de sua própria e fantástica discografia, Bowie criava para outros artistas. The Idiot e Lust for Life, dois dos melhores discos de Iggy Pop foram compostos quase que integralmente por ele, além do maior clássico do Mott the Hoople, a canção All the Young Dudes. Belo texto, Fabian!

    Um grande abraço.

  3. admin

    January 28, 2016 at 5:47 pm

    Bem lembrado, Vladimir. O cara não só criava para si próprio como também conseguia ajudar amigos talentosos. Coisa de quem encarava a música como uma profissão de fé na vida e na criação. Grande abraço e obrigado pela visita qualificada!

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