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Prince, o gênio, o criador, nos deixa com apenas 57 anos

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Por Fabian Chacur

O ponto alto da segunda edição do Rock in Rio, a única que cobri e realizada no estádio do Maracanã em 1991, foi ter realizado o meu sonho de ver Prince ao vivo. Dois shows marcantes e inesquecíveis, especialmente o primeiro. Um dos meus ídolos desde que ouvi I Wanna Be Your Lover, seu primeiro hit, em 1979. Infelizmente, ele não pertence mais a esse mundo. O genial astro americano foi encontrado morto nesta quinta(21). Ele tinha 57 anos.

O cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista americano estava em sua casa e estúdio, o Paisley Park, situado em sua cidade natal, Minneapolis, onde viveu todo o seu período de vida. A causa da morte ainda não foi divulgada. O anúncio oficial foi feito por sua assessora de imprensa, Yvette Noel-Schure. Ele havia sido internado na semana passada devido a uma gripe, mas anunciou que estava bem e que não precisavam se preocupar. Ledo engano…

No que seria sua última comunicação com o público, ele também afirmou que em breve lançaria um álbum gravado ao vivo extraído do show Piano and a Microfone, que fez no melhor esquema voz e piano, sem outros músicos. O tecladista brasileiro Renato Neto, que tocou durante mais de dez anos com Prince, participando de turnês e de discos como Musicology (2004), afirmou em entrevista que o artista tinha ao menos 200 músicas inéditas gravadas e guardadas.

Prince Rogers Nelson nasceu em 7 de junho de 1958. Desde o início, esbanjava autoconfiança, ao ponto de exigir liberdade total de criação para assinar com a gravadora Warner em 1978. O sucesso começou com seu segundo álbum, autointitulado, do qual fazem parte hits como I Wanna Be Your Lover e Sexy Dancer. O som era um funk com elementos de soul, disco music e rock. Este último elemento aparecia de forma escancarada em Bambi, faixa puramente hendrixiana na qual ele brilha com riffs e solos de guitarra demenciais.

Lembro que um dos momentos que mais me marcaram no primeiro show que vi de Prince no Rock in Rio de 1991 foi exatamente ver o astro interpretando Bambi de uma forma simplesmente demencial, solando como se não houvesse amanhã. Puro Hendrix, puro hard rock. Aliás, essa é uma das marcas desse artista: o total desrespeito aos limites e barreiras, indo do funk ao rock ao soul ao jazz ao pop e ao que pintasse, sempre com personalidade e criatividade.

For You, o primeiro álbum (de 1978) daria início a um procedimento que Prince repetiria em diversos momentos de sua carreira: a autossuficiência, com direito a gravar todos os instrumentos e vocais e a produzir os álbuns. Reza a lenda que ele era o terror dos técnicos de estúdio, pois sempre varava noites gravando, sem se preocupar com coisas básicas como refeições, dormir e outras rotinas habituais.

Prince era ousado em termos musicais e também nos aspectos visuais de seus discos e shows, sempre flertando com a pornografia. Ele teve a coragem de aparecer na capa de seu álbum Dirty Mind (1980) usando uma calcinha. Sua postura andrógina podia dar margem a falatórios, mas a verdade é que o baixinho de Minneapolis sempre namorou e trabalhou com mulheres lindas, como Apolônia, Sheena Easton, Sheila E, Carmen Electra…A lista é longa e interminável.

Com 1999 (1982), o artista cria uma sonoridade minimalista que influenciaria toda a música pop dos anos 1980, emplacando hits como a faixa título e Little Red Corvette. E o grande estouro viria em 1984 com o álbum Purple Rain, trilha do filme homônimo e que invadiu as paradas mundiais com os hits Purple Rain, Let’s Go Crazy e When Doves Cry. Michael Jackson ganhava um rival de peso nas paradas de sucesso.

A criatividade desse grande astro nunca encontrou amarras que o contivessem. Psicodelismo em Around The World in a Day (1985), funk eletrônico pesado em Sign O’ The Times (1987), pop puro na trilha do filme Batman (1989), a lista vai longe. Sozinho ou acompanhado por belas bandas, como a The Time, a Revolution e a New Power Generation. Belos parceiros para um artista sempre inquieto.

Além da própria carreira, ele também forneceu hits para vários artistas, como Sinead O’Connor (Nothing Compares 2 U), The Bangles (Manic Monday, que ele assinou com o pseudônimo Christophe), Madonna (com quem gravou o dueto Love Song, incluída no disco Like a Prayer-1989, da diva pop) e até mesmo o saudoso violonista e cantor americano Michael Hedges (uma releitura ao vivo simplesmente brilhante de A Love Bizarre).

Aí, o temperamento difícil começou a dar as cartas. Na primeira metade dos anos 1990, comprou uma briga com a Warner e resolveu trocar o nome por um símbolo estranho, mistura de feminino e masculino, que o levou a ser apelidado de Symbol. Saiu da gravadora nos idos de 1995, lançando em 1996 o álbum triplo Emancipation. A partir dali, seu sucesso comercial teria uma queda, mas não a sua produção artística.

Neste século, Prince (o “símbolo” já havia ficado no passado) se manteve relevante e bastante ativo, mas seus trabalhos se tornaram menos badalados do que nos bons tempos. Isso, aliado a sua aversão às redes sociais e ao veto de suas músicas no Youtube e outros pontos virtuais de divulgação o tornaram menos visível.

Os bons trabalhos, no entanto, continuaram saindo, como o ótimo Musicology (2004). De setembro de 2014 até aqui, por exemplo, lançou quatro álbuns de inéditas, entre os quais o recente HITNRUN Phase Two (2015), disponível apenas no site de streaming Tidal, de Jay-Z.

O trabalho de Prince misturou Sly Stone, James Brown, Michael Jackson, Beatles, Jimi Hendrix, Joni Mitchell e muito mais de uma forma absolutamente original, gerando dessa forma uma assinatura própria das mais influentes. Perder David Bowie e Prince em um mesmo ano é simplesmente lamentável para quem é fã de música pop de qualidade.

Ainda bem que pude ver aqueles shows em 1991. Um retorno dele ao Brasil foi cogitado há não muito tempo, mas acabou sendo cancelado. Agora, curtir a sua música, só mesmo nos DVDs, CDs, Blu-rays, streamings…Rest in Peace, Purple King!

Love Song– Madonna e Prince:

Nothing Compares 2 U– Sinead O’Connor:

Manic Monday– The Bangles:

A Love Bizarre– Michael Hedges:

2 Comments

  1. Alexandre Damiano

    April 22, 2016 at 10:43 am

    Estamos perdendo muita gente boa…que coisa triste .

    A versão original de Purple Rain está na minha lista das 10 melhores músicas de todas as galáxias.
    Abraços Fabian

  2. admin

    April 22, 2016 at 7:46 pm

    Bota triste nisso, Alexandre. David Bowie, Paul Kantner (do Jefferson Airplane), Maurice White (do Earth, Wind & Fire), Keith Emerson (do Emerson, Lake & Palmer), George Martin e agora Prince, tudo em menos de quatro meses deste 2016, é de doer. E Purple Rain é realmente espetacular, tanto a música como o álbum a que ela dá nome. Grande abraço e muito obrigado pela visita qualificada!

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