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Al Jarreau, aos 76 anos, leva a sua belíssima voz para o céu

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Por Fabian Chacur

Do The Right Thing (Faça a Coisa Certa-1989), de Spike Lee, é um dos meus filmes favoritos. A sua parte final é bastante violenta. Após uma verdadeira carnificina capaz de abalar qualquer pessoa mais sensível, uma incrível surpresa. Enquanto passam os créditos, uma música doce, suave e envolvente intitulada Never Explain Love nos ajuda a recuperar o fôlego, a esperança e a paz. Seu intérprete, o talentosíssimo Al Jarreau, nos deixou neste domingo (12) aos 76 anos.

Este cantor americano nascido em 12 de março de 1940 em Milwaukee, Wisconsin (EUA) tem inúmeros pontos importantes em seu extenso currículo. Em 1985, por exemplo, ele não só se apresentou com destaque da primeira edição do Rock in Rio como também foi um dos cantores a participar de uma das gravações mais conhecidas de todos os tempos, a beneficente We Are The World, ao lado de Michael Jackson, Bruce Springsteen e dezenas de outras estrelas do seu mesmo calibre.

Filho de um pastor evangélico e de uma pianista de igreja, Alwin Lopez Jarreau (seu nome de batismo) se envolveu com a música desde o berço, portanto. Curiosamente, demorou um pouco a mergulhar de cabeça nessa carreira. Ele se formou em psicologia e trabalhou na área de reabilitação vocacional. Nas horas vagas, cantava com um trio de jazz liderado por um certo George Duke, que viraria um parceiro musical, também estrela do jazz e amigo para o resto da vida.

Em 1968, incentivado pela boa repercussão que vinha obtendo em pequenos shows, resolveu virar cantor em tempo integral. Fez inúmeras apresentações ao vivo e participou de programas de TV importantes, e em 1976, após marcar presença no hoje mitológico Saturday Night Live, recebeu o convite para gravar seu primeiro álbum solo, We Got By, lançado naquele mesmo ano. Ele já tinha 36 anos, mas soube aproveitar essa oportunidade rapidinho.

Em 1978, com o álbum Look To The Rainbow, ganhou o primeiro dos sete Grammy Awards que faturaria em sua carreira. Embora investindo basicamente em jazz, com destaque para scat singing, ele também não se furtava a gravar rhythm and blues, soul e canções românticas, mas sempre com muito bom gosto e sem concessões exageradas.

Em 1981, seu elogiado álbum Breakin’ Away o colocou na 9ª posição da parada pop americana, graças a belas canções pop. Ele sempre liderou os charts de jazz e também de r&b, graças a canções como a maravilhosa Mornin’, que também fez sucesso no Brasil.

Ele também marcou presença em várias trilhas sonoras. Além da do filme de Spike Lee citado logo na abertura deste texto, outro destaque fica por conta de Moonlighting, tema da série de TV A Gata e o Rato, que foi ao ar de 1985 a 1989 e era estrelada por Sybil Sheperd e Bruce Willis. Ele chegou a participar de um álbum da adorável Vila Sésamo, In Harmony: A Sesame Street Record.

Sua paixão pela música brasileira o levou a gravar as músicas Waters Of March e Girl From Ipanema, de Tom Jobim, no álbum A Twist Of Jobim (1997), do célebre guitarrista americano Lee Ritenour, e também da faixa Double Face, em 2010, em um álbum de Eumir Deodato. Ele homenageou o amigo Duke recentemente com o álbum My Old Friend: Celebrating George Duke (2014). Um de seus melhores trabalhos foi Givin’ It Up (2006), gravado em parceria com George Benson, outro grande amigo e que tocou naquele mesmo Rock in Rio de 1985.

Os problemas mais sérios com a saúde de Al Jarreau tiveram início em 2010, quando o astro chegou a ficar internado por bastante tempo na França, entre a vida e a morte. Mesmo assim, conseguiu se recuperar e continuou fazendo shows e gravando até quando isso foi possível. Ele inclusive tinha shows marcados para o Brasil em março deste ano, mas as apresentações foram canceladas por causa de seu estado de saúde, há alguns dias. Uma pena! Que descanse em paz!

Never Explain Love– Al Jarreau:

4 Comments

  1. Claudio Finzi Foá

    February 13, 2017 at 11:03 am

    Fabian,
    a mídia brasileira está destacando que ele veio no Rock In Rio em 1985, e não vi ninguém dizer que ele se apresentou em SP sete anos antes, em 1978, na edição brasileira do Festival Jazz Montreux, no Palácio das Convenções do Anhembi. Tenho certeza disso porque… eu estava lá! (ah! eu estava também no Olympia no show da Carole King, mas isso é outro papo, rararah)
    Ab’ção pr’ocê

  2. Claudio Finzi Foá

    February 13, 2017 at 12:21 pm

    Egocentrismos (meus) à parte (pelo qual peço desculpas), naquele show em 1978 lembro que o Al Jarreau estava se firmando como um talento emergente. Eu nunca tinha ouvido nada dele e fiquei impressionado. Depois, não acompanhei sua carreira, mas, por quela ocasião, deixa saudades. Bless Him

  3. Fabian Chacur

    February 13, 2017 at 5:12 pm

    Nada como ter leitores mais do que qualificados como você, Claudio. Eu me lembrava vagamente disso, mas você veio com a informação precisa, digna de uma “testemunha ocular da história”. Muito obrigado por compartilhar essa informação comigo e com os leitores de Mondo Pop. Grande abraço e tuuuuudo de bom!!!

  4. Fabian Chacur

    February 13, 2017 at 5:13 pm

    E quanto ao show da Carole King, eita inveja positiva!!!! rsrsrsrsr

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