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Por Fabian Chacur

A primeira vez que ouvi a voz de Carole King na vida foi provavelmente quando It’s Too Late tocou muito nas rádios brasileiras, lá pelos idos de 1971. Mas o contato mais próximo ocorreu em 1973, quando meu saudoso irmão Victor comprou um compacto simples dela, trazendo as músicas Corazón de um lado e Believe in Humanity do outro. Pronto. Não parava mais de tocar aquele raio daquele disco. Ela ganhava mais um fã, entre os seus milhares (milhões?) em todo o mundo.

Miss King chega aos 75 anos nesta quinta-feira (9) como um dos grandes marcos da presença feminina na história do rock e da música pop. Essa cantora, compositora e pianista americana nasceu no dia 9 de fevereiro de 1942, e iniciou sua trajetória musical ainda adolescente. Nessa época, era amiga de dois jovens e ainda desconhecidos músicos, Paul Simon e Neil Sedaka. Este último não só teve um namorico com ela, como também compôs o hit Oh! Carol em sua homenagem.

Nessa época (fim dos anos 1950), era bastante comum o que se denominou de “canções-resposta”, ou seja, uma música respondendo à temática de outra, e Carole King gravou sua estreia como intérprete em 1959, com Oh! Neil. Na mesma época, conheceu o letrista Gerry Goffin, que se tornou não só seu parceiro de composições como de vida, mesmo. Eles ficaram casados entre 1959 e 1968.

Em termos musicais, Goffin & King virou uma verdadeira grife pop, assinando hits como Up On The Roof, The Loco-Motion, Chains, Will You Love Me Tomorrow, One Fine Day, Going Back, Pleasant Valley Sunday e (You Make Me Feel Like) A Natural Woman, gravadas por artistas do porte de Aretha Franklin, Beatles, The Drifters, The Monkees, The Byrds e inúmeros outros. De tanto ouvir elogios à sua voz nas demos que enviava aos artistas que gravavam suas composições, a moça resolveu dar a cara para bater e assumir uma carreira como intérprete.

Em 1968, seu casamento com Gerry Goffin se acabou, e ela criou ao lado dos músicos Charles Larkey (com que se casou a seguir) e Danny Kortchmar a banda The City, que lançou em 1968 um excelente e pouco ouvido álbum, Now That Everything’s Been Said. Em 1970, saía o ótimo Writer, 1º álbum solo, do qual participou um amigo recente que se tornou outro parceiro bacana, ninguém menos do que James Taylor.

Em 1971m essa parceria renderia belos frutos aos dois músicos. James Taylor se tornaria o verdadeiro astro maior do chamado bittersweet rock com o estouro do álbum Mud Slide Slim And The Blue Horizon, cuja faixa de maior sucesso, You’ve Got a Friend, é uma composição de Carole King, que participa do álbum. Por sua vez, a descendente de judeus enfim conseguiu um sucesso à altura de seu imenso talento, com o estouro de Tapestry.

Considerado um dos melhores discos de todos os tempos independente de gênero musical, Tapestry é uma verdadeira aula de música pop, com fortes doses de soul music, rock, folk, latinidade e country, com direito a belas melodias, letras confessionais e uma voz simplesmente deliciosa. Empurrado pelo incrível single It’s Too Late, dolorido retrato de uma separação entre um casal, o disco chegou ao topo da parada americana.

A partir daí, a carreira-solo de Carole King se tornou imensa, com direito a mais dois álbuns no topo da parada americana (Music, no mesmo 1971, e Wrap Around Joy, em 1974) e hits deliciosos como Jazzman, Corazón, Believe in Humanity e inúmeros outros.

A partir da década de 1980, sua produção discográfica tornou-se um pouco mais esparsa e sem o sucesso comercial de antes, mas a qualidade não caiu, vide os ótimos City Streets (1988) e Colour Of Your Dreams (1993), este último com direito a participação especial de Slash, do Guns N’ Roses, e o hit Now And Forever.

Em 1990, por sinal, Carole King esteve no Brasil pela primeira e por enquanto única vez para shows, tendo se apresentado em São Paulo no extinto Olympia. Não estive no show, mas participei da entrevista coletiva com ela, que se mostrou de uma simpatia impressionante. A ponto de ter tido uma reação bem-humorada a um jornalista desinformado que lhe perguntou sobre o seu “casamento” com James Taylor. “A Carly Simon chegou antes”, brincou.

Na ativa de forma tranquila desde então, ela voltou ao topo das paradas em 2010, quando lançou um histórico álbum gravado ao vivo com James Taylor, Live At The Troubadour (também disponível em DVD), que chegou ao quarto lugar na parada americana e os mostrou de volta ao histórico palco do Troubador, em Los Angeles, onde tocaram no início dos anos 70, pouco antes de estourarem.

Sem exageros ou radicalismos, Carole King teve presença atuante e decisiva na abertura de maiores espaços para as mulheres no universo do rock, abrindo as portas para inúmeras colegas que vieram depois. As belas canções que compôs fazem parte do songbook da música pop, que será relido eternamente. Afinal, o que é bom, é para sempre!!!

Corazón- Carole King: