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Ayrton Mugnaini Jr. e seu jogo de cintura em Sujeito Determinado

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Por Fabian Chacur

Um certo Ayrton Mugnaini Jr. investe em sua carreira-solo há 35 anos, desde que nos proporcionou o seu primeiro lançamento, a fita-cassete Brega’s Banquet. Em seu currículo, integrou os célebres grupos Língua de Trapo e Magazine, além de ter músicas gravadas por muita gente boa (leia mais sobre ele e seu álbum anterior aqui). Agora, o cantor, compositor, jornalista e uma lista telefônica de outras coisas mais nos oferece um novo lançamento, Sujeito Determinado. E bota determinado nisso!

Certa vez, Mugnaini se definiu como um “pasteleiro de canções”. A comparação, típica de seu humor ácido, faz todo o sentido do mundo para quem acompanha sua trajetória há 37 anos. Sua capacidade de compor é similar ao de um pasteleiro em seu ofício, e até a questão dos sabores se encaixa feito luva. Não temos pastéis com os mais diferentes recheios? Pois esse cara também é capaz de escrever sobre qualquer tema, e valendo-se dos mais distintos ritmos musicais. E em quantidades industriais!

Querem um bom exemplo? A divertida Sou Lixeiro saiu da crítica publicada em um jornal mineiro sobre o ótimo álbum Na Honestidade (2002), do Magazine. O autor do texto ironizou a faixa Sou Flanelinha como se fosse uma medíocre (que não é, creiam) sucessora de Sou Boy, o maior hit da banda liderada pelo saudoso Kid Vinil. E aí, lá pelas tantas, o escriba soltou a pérola: “O Magazine agora vai falar de todos os subempregos. Qual vai ser o próximo? Sou Lixeiro?”.

Não deu outra. O Mug anotou a sugestão e agora nos oferece uma canção com o tema sugerido de forma irônica pelo cri-crítico mineiro. Provavelmente esse cara não irá saber, mas a música ficou sensacional, um retrato irônico e ácido sobre a relação entre nós e os lixeiros, importantes profissionais que deveriam ganhar muito mais e serem muito mais respeitados do que na verdade são.

O repertório de 18 músicas traz outros bons exemplos desses temas inesperados e improváveis que Mr. Mug, com sua alma pasteleira, transforma em biscoitos, digo, pasteis finos para quem curte música boa e inventiva. Eu Sei Que Vou Estar Lá, por exemplo, com uma levada no melhor estilo jovem guarda, tem como inspiração os discos ao vivo, mais especificamente o público que participa como plateia e as maracutaias feitas durante suas gravações.

O rock-balada Amor no Metrô flagra seu personagem em meio ao encontro com sua namorada. Aliás, já que falamos em parceira, Eu Fui Pego Pela Loira do Banheiro, outro rock-balada matador, usa como mote a lenda urbana da loira do banheiro para homenagear de forma delicada a atual companheira de Ayrton, Martha Maria Zimbarg, que é a autora de encantadora capa do CD e de quebra ainda é coautora e intérprete de A Mila, adorável homenagem a uma cachorrinha.

Se há uma canção neste álbum que tem cara de hit instantâneo, ela atende pelo título Você é o Zé Mané. Trata-se de um rock básico de tempero sessentista que gruda no seu ouvido e te leva a repetir o refrão ad infinitum. Se o saudoso Kid Vinil ainda estivesse entre nós, entraria como luva em seu repertório.

O cordel musical Peleja da Feminista Mal-humorada com o Galanteador é um registro sensacional de uma situação recorrente em redes sociais: o cara tentando ser gentil e a moça pé na porta encarando aquilo como assédio. Nem todo homem é assediador e nem toda mulher é gentil, sabemos todos nós.

E temos também a sensacional Palhaça, na qual Mug aparece acompanhado por seus parceiros Carlinhos Machado (bateria) e Marcos Mamuth (guitarra) no trio Los Interesantes Hombres Sin Nombre (que merecem seu próprio álbum, por sinal) e mais Chico Mar na flauta, gerando uma espécie de híbrido de Stray Cats com Jethro Tull que ficou uma delícia sonora.

Mas o momento mais surpreendente fica por conta de uma mistura mais do que improvável: Queen com Demônios da Garoa. Acha possível? Pois o Mugão, com ajuda do seu filho Ivo, conseguiu ao versionar Another One Bites The Dust (John Deacon) com um arranjo no qual o riff de baixo chupado de Good Times pela banda britânica virou um quás-quás-quás nas mãos dessa figura aqui.

Sujeito Determinado é divertido, inventivo e repleto de surpresas, e altamente recomendável para quem gosta de música feita com conhecimento de causa. Para conferir letras e texto do Ayrton sobre o álbum entre aqui. Saiba como conseguir sua cópia em CD via e-mail: [email protected] .

Namoro no Metrô (ao vivo)- Ayrton Mugnaini Jr.:

2 Comments

  1. Martha Maria Zimbarg

    November 5, 2019 at 10:55 pm

    O texto ė magnífico. Muito obrigado!

  2. Fabian Chacur

    November 6, 2019 at 2:02 am

    Nossa, Martha, não sei se mereço tamanho elogio, mas agradeço sua gentileza. Bjs e tudo de bom!!!

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