antonio adolfo jobim forever

Por Fabian Chacur

Antonio Adolfo teve o privilégio de iniciar a sua brilhante carreira como músico nos anos 1960, quando o Brasil vivia uma efervescência musical acompanhada com muito prazer por seu próprio povo e também no exterior. Nesse contexto, a bossa nova era um dos principais caminhos, e nele, havia um Maestro Soberano, um certo Tom Jobim. Que não só o inspirou como também se tornou um amigo querido. E agora chega a vez de homenagear esse grande craque. Aliás, caso típico de um craque homenageando o outro: Jobim Forever (AAM Music), já disponível nas plataformas digitais e em CD.

Antes de iniciar a análise do trabalho em si, valem algumas palavrinhas introdutórias. Já li e ouvi por aí muitas restrições em relação a novas releituras da obra de Tom Jobim, especialmente quando engloba momentos mais conhecidos de seu maravilhoso songbook. Sim, muita gente já bebeu nessa fonte. E daí? Cada novo trabalho lançado com este repertório merece ser analisado de forma individual, deixando de lado preconceitos. E, neste caso aqui, estamos a anos luz de uma abordagem conservadora, diluída ou mesmo conformista-comercial. O sarrafo é bem alto.

Aos bem vividos 74 anos de idade (vale lembrar que Jobim nos deixou em 1994, aos 67 anos), Antonio Adolfo esbanja vitalidade, criatividade e produtividade, lançando novos trabalhos em períodos relativamente curtos e sempre buscando oferecer ao seu ouvinte um produto artístico de primeiríssima qualidade. E não seria justo com músicas de um dos artistas que mais o influenciaram que ele deixaria essa peteca ir ao chão.

Novamente acompanhado por uma banda integrada por craques do gabarito de Lula Galvão (guitarra), Jorge Helder (contrabaixo), Paulo Braga (bateria), Rafael Barata (bateria), Jessé Sadoc (trumpete e flugelhorn), Danilo Sinna (sax alto), Marcelo Martins (sax tenor e soprano e flauta), Rafael Rocha (trombone), Dada Costa (percussão) e Zé Renato (vocais em A Felicidade), Antonio pilota seu piano com a fluência habitual, com direito àqueles timbres maravilhosos que o caracterizam e um swing que só quem tem muito talento e ama o que faz pode nos oferecer com tanta categoria.

Os arranjos são de uma inspiração ímpar, e seguem um padrão com cara jazzística, pois nos apresentam as melodias originais com muita categoria e depois abrem espaços para que os diversos instrumentos envolvidos deem seus recados, em uma coesão perfeita e explorando elementos presentes nas composições e os expandido com uma fluência simplesmente impressionante. Toda essa criatividade, vale registrar, a serviço dos nossos ouvidos, pois Jobim Forever é daqueles discos que fluem deliciosamente a cada nova audição.

O repertório traz nove faixas, sendo oito delas composições lançadas dos anos 1960 e uma nos 1950. Certamente Antonio Adolfo mergulha nos seus anos formativos, relendo músicas que provavelmente tocou nos bares da vida e com suas bandas daqueles mágicos anos 1960 e 1970. Entre outras, temos aqui The Girl From Ipanema, Wave, A Felicidade e Estrada do Sol, tocadas com uma excelência e inspiração incomparáveis.

Tom Jobim foi certamente um dos grandes nomes da história da música brasileira e mundial, e uma das suas marcas era uma generosidade e humildade impressionantes. Consigo imaginar o sorriso que ele abriria ao ouvir esse álbum, uma obra-prima que está liderando há semanas a parada da revista americana JazzWeek. Certamente iria render um bom papo entre esses dois gênios, regado a belas reminiscências, uisquinho e chopes. O título deste álbum é simples, e diz tudo. Mas vou além: Antonio Adolfo Forever!

Garota de Ipanema (clipe)- Antonio Adolfo: