Mondo Pop

O pop de ontem, hoje, e amanhã...

Category: as tais memórias (page 1 of 7)

Guilherme Arantes chega aos 70 anos pleno e muito intenso

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Por Fabian Chacur

O meu amigo Guilherme Arantes completa 70 anos de idade nesta sexta-feira (28). Sete décadas! Sendo que desde 1976, quando Meu Mundo e Nada Mais estourou nacionalmente, ele se mantém firme e forte nos corações dos brasileiros de bom gosto musical. O que falar para esse grande cantor, compositor e tecladista paulistano? Pra começo de conversa, votos de muita saúde, paz e tudo de bom, hoje e sempre, pois ele merece e muito!

Bem, vamos divagar um pouco sobre ele. Já fiz isso várias vezes aqui no blog e também em outros espaços, mas nunca é demais ressaltar algumas coisas acerca desse artista incrível. Que é romântico, mas não é o Fábio Jr., é roqueiro mas não é o Cazuza, é pop mas não é o Elton John, e é sofisticado, mas não é o Tom Jobim. Ele é uma soma de muitas coisas, resultando dessa forma em um artista único e inconfundível.

Mr. Arantes consegue ser popular sem cair no rasteiro, e sofisticado sem dar uma de metido a besta. Mergulha com categoria em todos os aspectos do amor, desde a descoberta até o fim e à sua permanência, sempre com aquela intensidade típica de quem certamente amou, ama e amará demais, com o peito aberto e sem medo de ser feliz e de fazer feliz.

Uma das vertentes da música deste grande criador vai por um lado visionário e de fé extrema, do qual a maravilhosa Amanhã é provavelmente seu fruto mais belo e delicioso. Não é por acaso que esta canção sempre volta à tona em situações em que precisamos de uma forte dose de esperança e força para seguirmos adiante, em quaisquer circunstâncias.

A generosidade e a simplicidade de Guilherme são marcas registradas de sua personalidade. Ele também é cara que não tem medo de expor os seus pontos de vista, independentemente de agradar ou não. E conversar com esse cidadão é uma delícia, um verdadeiro privilégio que ele não restringe, mostrando-se sempre acessível quando devidamente solicitado.

Se nos últimos tempos perdemos muitas pessoas incríveis no cenário musical brasileiro e mundial, temos a obrigação de valorizar cada vez mais quem permanece entre nós, pois se há algo lindo de se fazer é dar as flores em vida a quem as merece. E o autor de Êxtase, Cheia de Charme, Lindo Balão Azul, Cuide-se Bem (a minha favorita), Uma Espécie de Irmão e tantas músicas encantadoras merece um jardim inteiro delas.

A obra de Guilherme Arantes é ampla e recheada de bons momentos. Recomendo com entusiasmo a todos um mergulho nela, pois você certamente sairá melhor e muito energizado dessa experiência. Que este artista incrível e ser humano adorável conviva conosco por muitos e muitos anos, sempre com saúde, paz e se mantendo ativo e disposto a brincar de viver. Que ele sabe fazer como poucos.

Amanhã– Guilherme Arantes:

Mick Jagger: 80 anos dos lábios mais famosos do rock and roll

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Por Fabian Chacur

Em 1970, o designer britânico John Pasche criou um símbolo que se tornou um dos ícones mais famosos e facilmente identificáveis de todos os tempos. Esse logo surgiu para representar uma então já mundialmente famosa banda de rock, baseando-se em uma das marcas registradas de seu integrante mais destacado. E esse cidadão, um certo Mick Jagger, completou 80 anos de idade nesta quarta-feira (26) com símbolo da eterna juventude.

O cantor, músico e compositor que criou os Rolling Stones junto com o também icônico Keith Richards em 1962 equivale a uma verdadeira façanha ambulante. Afinal de contas, não são muitos os profissionais que podem se gabar de se manter relevantes e cultuado por milhões de pessoas durante seis longas décadas, onde milhares de artistas e grupos surgiram e sumiram de cena como que por passe de mágica.

Jagger se tornou o template do vocalista de banda de rock, com sua presença de palco energética, carismática e repleta de cumplicidade com as plateias. Tive a honra de ver os três shows dos Stones em janeiro de 1995 no Hollywood Rock em São Paulo, no estádio do Pacaembu, e fiquei impressionado com a capacidade do cidadão em verdadeiramente reger as plateias. Poder que ele mantém até os dias de hoje.

Grande cantor e performer, ele também possui no currículo a coautoria de alguns dos maiores clássicos do rock and roll, maravilhas do porte de (I Can’t Get No) Satisfaction, Jumpin’ Jack Flash, Start Me Up, Brown Sugar, Miss You, The Last Time e Street Fighting Man, entre dezenas de outros.

Como todos sabem (ou deveriam saber), só talento artístico não possibilita uma permanência tão grande, e Mick Jagger soube usar seu tino para os negócios como forma de se manter firme na cena cultural, além de multiplicar sua fortuna. E sua sacada de gênio ocorreu quando ele e Richards resolveram criar a Rolling Stones Records (RS Records) em 1970.

De forma inteligente, a RS Records criou como padrão assinar contratos de parceria com grandes gravadoras que se incumbiriam da prensagem, divulgação e distribuição dos discos que lançariam. Mas o pulo do gato era sempre realizar compromissos com prazo pré-determinado, sendo que, quando encerrados, Jagger e Richards levavam consigo todo o acervo que tivessem criado em cada período.

Dessa forma, e também graças ao sucesso dos álbuns e singles que lançaram, os Stones enriqueceram ainda mais a cada novo contrato de distribuição, tendo passado por Atlantic, EMI, Sony/CBS, Virgin e Universal Music. Sempre com direito a relançamentos e reaproveitamento de material antigo de modo inteligente e lucrativo. Mick virou o real Tio Patinhas do rock.

Jagger também soube manter a sua forma física, o que lhe permite até hoje esbanjar energia nos palcos, com poucos e raros momentos de problemas de saúde. Até as marcas do tempo aparentes em seu corpo se mostram verdadeiras provas de um vencedor que soube enfrentar os inúmeros desafios apresentados aos artistas para se manterem na crista das ondas.

O cantor dos Rolling Stones também desenvolve uma carreira solo que, se não teve tanto sucesso como a de sua banda, ainda assim mostrou que ele poderia sobreviver dignamente dessa forma, se quisesse. Mas é fato que Jagger e Richards amam esse tal de rock and roll e amam fazer isso juntos, tanto que vem aí um novo álbum da banda, mesmo após a perda do baterista Charlie Watts. E novos shows. Yeah, yeah, yeah, wow!

Brown Sugar– The Rolling Stones:

Rita Lee, 75 anos, a rainha do rock e da alegria em geral

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Por Fabian Chacur

Rua Joaquim Távora, Vila Mariana, São Paulo. Ali, uma certa Rita Lee Jones viveu e foi criada em sua infância e adolescência. Uma das filhas mais ilustres do bairro de onde eu também vim. Curiosamente, no entanto, só fui conhecê-la pessoalmente no centro de São Paulo, mais precisamente no dia 12 de maio de 1987, em entrevista coletiva realizada no Hilton Hotel para divulgar o recém-lançado álbum Flerte Fatal.

Eu usava uma camiseta amarela do The Cure, e não só peguei um autógrafo dela como também tirei uma foto ao seu lado. Foi uma entrevista até calma, embora tivesse um clima pesado no ar por causa de uma crítica sobre o álbum no qual o polêmico Luis Antonio Giron ironizou a artista, definindo o seu momento de carreira como uma “menopausa criativa”. Grosseria pura, que ela acabou tirando de letra.

Tive mais uma ou duas oportunidades de entrevistá-la nos anos seguintes, uma delas no antigo Palace, também com direito a registros fotográficos. Sempre simpática, franca e sem rodeios.

E estive em 1991 no apartamento em que ela morava na época, ao lado da Praça Buenos Aires, na região central de São Paulo, mas para entrevistar não ela, mas seu parceiro de vida, o grande músico Roberto de Carvalho, um dos caras mais simpáticos e gentis que já tive a honra de conhecer nesse meio de pessoas nem sempre tão gentis e simpáticas.

Todas essas recordações rondam a minha cabeça nesta triste terça-feira (9), quando foi divulgada a partida dessa icônica Rita Lee, aos 75 anos. Ela lutou bravamente contra um câncer, e estava entre os seus entes queridos na hora da despedida. Uma figura que já estava eternizada na história da nossa cultura como um todo, mas que agora sai de cena, para tristeza geral.

Fiz uma geral em sua trajetória quando do lançamento da caixa Rita, há alguns anos (leia aqui), Mas vale ressaltar algumas das marcas registradas dessa artista tão peculiar e tão genial.

Rita se tornou nacionalmente conhecida integrando os Mutantes, um dos grupos mais criativos e marcantes da história do rock brasileiro. Ao sair da banda, no qual era uma coadjuvante de luxo para os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista, mergulhou em uma carreira solo na qual pôs pra fora toda a sua personalidade inquieta, genial e irreverente.

Com o Tutti-Frutti e depois tendo como seu braço direito o também parceiro de vida Roberto de Carvalho, Rita construiu uma discografia na qual o rock foi misturado com r&b, folk, pop, jazz e MPB com uma assinatura própria repleta de irreverência, bom humor, sarcasmo e astúcia.

Sua galeria de hits foi enorme, e seus shows no início dos anos 1980 ajudaram a abrir as portas para os mega-espetáculos de rock no Brasil, com apresentações em ginásios e estádios e produções sofisticadas. Sem o estouro de Rita Lee, a Blitz certamente não teria estourado e aberto as portas para a geração roqueira dos anos 1980.

Além disso, Rita também mostrou que as mulheres tinham o direito de arrombar a festa e tomar conta da coisa toda em termos de sucesso. Sem Rita Lee, o Brasil fica ainda mais triste e careta, embora felizmente viva novamente dias de esperança. Que sua obra linda e pra cima possa nos ajudar a dar a volta por cima e voltarmos a ser um Brasil com S. Saudade da nossa eterna ovelha negra!

Lá Vou Eu– Rita Lee:

Erasmo Carlos, 81 anos, o meu, o seu, o nosso amigo de fé…

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Por Fabian Chacur

“E agora, com vocês, o meu amigo Erasmo Carlos!” Era dessa forma irreverente e simpática que Roberto Carlos apresentava, no programa Jovem Guarda, da TV Record, nos anos 1960, seu maior parceiro, o grande Erasmo Carlos. Eu era muito pequeno para me lembrar de algo daquele programa, mas me recordo e muito de um compacto simples do meu irmão, A Pescaria, que eu amava, mesmo com meus cinco aninhos. Duro saber que o Gigante Gentil se foi nesta terça-feira (22), aos 81 anos.

Fui ter a honra de conhecer esse imenso cantor, compositor e músico no ano de 1992, quando ele lançou o álbum Homem de Rua, muito bom, por sinal. A entrevista coletiva foi em uma hoje extinta casa de shows situada na rua Turiassu, em São Paulo, e ficou na minha memória para sempre. Tenho aquele álbum no formato vinil com o precioso autógrafo do Tremendão.

Fui reencontrá-lo pessoalmente lá pelos idos de 2003, quando ele participou de uma entrevista coletiva ao lado da amiga Wanderlea, e desta vez com direito à foto que ilustra este post, gentileza da minha querida amiga Giseli Martins Turco. Também o entrevistei por telefone, e em todas essas ocasiões pude presenciar um cara extremamente simpático, gentil e sempre com histórias deliciosas para nos contar.

O tamanho da obra de Erasmo é imenso. Tanto suas eternas parcerias com Roberto Carlos como o que fez como artista solo já o eternizaram há muitas décadas entre os mestres da nossa música. O rock o marcou desde sempre, mas em sua sonoridade também entraram elementos de música brasileira, latina, pop e um romantismo repleto de inspiração e poesia.

A minha querida A Pescaria, Festa de Arromba, Gatinha Manhosa e Sentado à Beira do Caminho são apenas algumas das canções mais marcantes da fase inicial de sua carreira. O pós-jovem guarda nos trouxe muita coisa boa também, como Cachaça Mecânica, Filho Único, Mesmo Que Seja Eu, Mulher, Homem de Rua, é muita música boa.

Um dos grandes méritos de Erasmo Carlos reside no fato de ter conseguido atingir tanto os roqueiros mais radicais quanto o público mais simples e popular. Ele sofreu com uma parcela barra pesada de headbangers em sua participação no Rock in Rio em janeiro de 1985, mas foi um raro momento em que teve de encarar esse tipo de reação. Ele sabia falar com todo tipo de plateia como poucos artistas na história da nossa música.

Sua autobiografia Minha Fama de Mau (2009- leia a resenha de Mondo Pop aqui) é repleto de histórias de sua rica trajetória.

Outra virtude de Erasmo foi ter se mantido bastante ativo durante todos esses anos, lançando novos trabalhos e fazendo shows, o que lhe permitiu atingir um público bem além dos seus fãs originais dos tempos de jovem guarda. Ele certamente mereceu a linda homenagem de Roberto Carlos na música Amigo, que a partir de agora sempre arrancará lágrimas de todos aqueles que o admiram tanto. Perdemos um amigo de fé, mesmo.

A Pescaria– Erasmo Carlos:

Paulinho da Viola: 80 anos do mestre zen da nossa música

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Por Fabian Chacur

Trabalhar como jornalista especializado em música já me proporcionou alguns momentos de raro prazer. Entre eles, coloco as oportunidades que tive de entrevistar alguns grandes nomes. Entre eles, destaco Paulinho da Viola, que neste sábado (12) completa 80 anos de idade. É o Mestre Zen da MPB.

Simpático, inteligente e articulado, Paulinho é daqueles entrevistados dos sonhos, pois facilitam e muito a tarefa do repórter. Sua humildade é impressionante. Após a primeira ocasião em que tive a honra de entrevistá-lo, pedi um autógrafo em uma coletânea de vinil com seus maiores sucessos. Olha o que ele escreveu: “obrigado pelo papo”. Eu é quem deveria agradecer!

Nascido em 12 de novembro de 1942 no Rio, Paulinho começou a se tornar conhecido do grande público nos anos 60, e estourou em termos de popularidade com o espetacular samba Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida, em 1970. A partir daí, suas músicas ganharam as paradas de sucesso, aliando qualidade artística e apelo comercial.

O maior mérito dele em termos artísticos é provavelmente o fato de dialogar tanto com as gerações anteriores à sua quanto com as novas, criando dessa forma uma obra que paga respeitoso tributo ao chorinho e ao samba tradicional, mas sempre com a mente aberta para elementos de bossa nova, do samba renovado e de outras possibilidades, como bem relata em sua maravilhosa carta de intenções Argumento.

Com uma voz deliciosa, ele também toca com maestria o violão e o cavaquinho. Seus shows são sempre uma delícia de se ver, pois além de investir em seu repertório imbatível,Paulinho nos conta de forma fluente e afetiva causos maravilhosos de sua vida e dos seus parceiros de música e de vida. Você se sente na sala da casa dele!

O primeiro disco dele que eu comprei foi o compacto simples com Guardei Minha Viola (1973). Esse é apenas um dos vários clássicos lançados por ele nesse período, entre os quais Dança da Solidão, Coração Leviano, Pecado Capital, Argumento, Pode Guardar as Panelas e Por Um Amor No Recife, só para citar alguns dos mais significativos e marcantes.

Mestre como compositor de sambas, ele também soube investir em experimentação, como a fantástica Sinal Fechado prova de forma enfática, e demonstrou categoria na releitura de composições alheias, entre as quais destaco sua reinterpretação simplesmente espetacular de Nervos de Aço, pérola do compositor e cantor gaúcho Lupicínio Rodrigues.

Se viveu o seu auge na década de 70, a produção artística de Paulinho não caiu de qualidade nas décadas seguintes. Ele passou a gravar em quantidade menor, mas sem deixar a qualidade de lado, como atestam álbuns como Eu Canto Samba (1989), Bebadosamba (1996) e Acústico MTV (2007).

Paulinho da Viola felizmente completa 80 anos repleto de saúde, maturidade e capacidade de trabalho. Que venham em breve novos shows, novos discos e novas manifestações de seu enorme talento. E que eu possa voltar a entrevistá-lo em breve, sempre um prazer indescritível.

Guardei Minha Viola– Paulinho da Viola:

Rolando Boldrin, um mestre de cerimônias da nossa cultura

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Por Fabian Chacur

Conheci Rolando Boldrin através da maravilhosa Tema Pra Juliana, canção incluída na trilha da novela Os Inocentes (1974), da qual minha saudosa mãe Victoria gostava tanto que o meu não menos saudoso irmão Victor comprou o compacto simples para ela. Desde então, sempre o admirei e muito. Ele infelizmente nos deixou nesta quarta-feira (9), aos 86 anos de idade, após dois meses internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Lógico que o currículo desse grande nome da cultura brasileira vai bem além dessa linda musica. Nascido em 22 de outubro de 1936 em São Joaquim da Barra (SP), ele foi cantor, compositor, músico, poeta, ator, apresentador de TV e um dos maiores divulgadores da cultura popular da história desse país.

Boldrin atuou como ator em novelas de sucesso dos anos 1960, 1970 e 1980, entre as quais O Direito de Nascer, As Pupilas do Senhor Reitor, Mulheres de Areia, Os Inocentes, A Viagem e Roda de Fogo, todas em suas versões originais. No cinema, brilhou no filme Doramundo (1978), de João Batista de Andrade, só para citar um dos mais significativos.

E ele também gravou diversos discos bacanas. Mas foi como apresentador de programas de TV que ele realmente deu vasão a todo o seu talento. Ele não só apresentava, como interagia de forma deliciosa com os seus entrevistados, e também recitava poemas populares, cantava e nos dava aulas de brasilidade de verdade. Vê-lo em ação nessas atrações era delicioso e hipnótico, pois você não conseguia mudar de canal enquanto ele estivesse em cena. Lógico que se você tivesse apreço pela nossa cultura.

O mais recente deles, Sr. Brasil, ficou no ar na TV Cultura entre 2005 e agora. Outros foram Som Brasil (na Globo), Empório Brasileiro (na Band) e Empório Brasil (no SBT). A essência de todos era muito semelhante, com artistas dos quatro cantos do Brasil, desde os mais famosos até os mais desconhecidos, mas todos com algo em comum: muito talento, que Boldrin não fazia concessões a modismos ou figurinhas da moda.

Este ano, a TV Cultura exibiu um documentário sobre a sua trajetória artística, Eu, a Viola e Deus, dirigido pelo mesmo João Batista de Andrade de Doramundo. Ficar sem Boldrin, seus deliciosos causos e seus convidados talentosos será tão duro como a falta que a nossa amada Gal Costa, que se foi hoje também, faz. Que dia amargo!

Tema Pra Juliana– Rolando Boldrin:

Gal Costa, 77 anos, um ícone da cultura e aquela voz tamanha

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Por Fabian Chacur

A morte de uma pessoa é normalmente algo triste, em quaisquer circunstâncias. Mas isso se exacerba quando se trata de alguém que estava ativa, produtiva e repleta de planos e projetos bacanas. E esse é o caso de Gal Costa, que nos deixou nesta quarta-feira (9) aos 77 anos, deixando órfãos não só o seu querido filho Gabriel como milhões de fãs espalhados pelo mundo afora. Como essa voz tamanha pode ter se calado tão de repente? Difícil de assimilar. Mais uma estrela no céu.

Desde o início de sua carreira, nos anos 1960, Maria da Graça Costa Penna Burgos dava pistas que não estava ali para uma passagem rápida e/ou provisória. Já em Domingo (1967), álbum que dividiu com o eterno parceiro musical Caetano Veloso, ficava claro que estava entrando em cena alguém que não chegava apenas para brincar, ou para ser uma burocrata da canção.

Nesses mais de 50 anos de trajetória artística, Gracinha mergulhou fundo no universo musical. Experimentou de tudo, desde a vanguarda até a canção mais popular, passando rigorosamente por todos os caminhos. Sempre com muita personalidade, com sua digital clara e facilmente distinguível. Do rock à guarânia, do jazz ao soul, do bolero à bossa nova, a moça sabia como entrar e sabia como sair, sempre com uma voz que usava com uma categoria reservada a poucas colegas de profissão.

Gravações de Gal Costa frequentaram as trilhas sonoras das vidas de todos nós, através das novelas, dos filmes, das rádios. Uma que me marcou profundamente foi Só Louco, sua inspiradíssima releitura do clássico de Dorival Caymmi escolhida como tema de abertura da minha novela favorita de todos os tempos, O Casarão (1976), e que me emociona sempre que a ouço. Mas tem muitas outras.

Essa moça de inúmeras roupagens foi uma espécie de atriz musical, incorporando o espírito das eras em que viveu, seja o Tropicalismo, os anos de chumbo da ditadura militar, o som mais pop associado à abertura política, a bossa nova revisitada e o que mais viesse. Se os discos sempre foram deliciosos, era nos shows que Gal dava o máximo de si, cativando um fã-clube extenso que ela sabia como encantar.

Gal tinha o raro dom de pegar uma composição alheia e torná-la sua, dom que Deus não proporciona a muita gente. Seu estilo de cantar influenciou muita gente, sendo que Marisa Monte é provavelmente o primeiro nome que vem às mentes de todos. Sempre aberta, dialogou com as gerações anteriores e as posteriores, além da sua própria, o que lhe proporcionou atingir um público amplo que, hoje, chora a sua perda.

Tive a honra de entrevistá-la em várias ocasiões, a partir do finalzinho dos anos 1980, e ela sempre se mostrou muito franca, acessível e receptiva. A mais recente foi em 2013 (leia a entrevista aqui).

Com os progressos da medicina atual, dava para se esperar que Gal ainda ficasse entre nós por muitos e muitos anos. Infelizmente, ela permanecerá apenas em seus inúmeros álbuns e vídeos, que nos permitirão dar uma maneirada nessa saudade imensa que certamente irá aumentar conforme a gente for se tocando de que, como disse Adriana Calcanhoto em entrevista à Globo News, “não tem mais Gal”.

Só Louco– Gal Costa:

Bebeto Alves, 68 anos, o gaúcho das boas músicas sem fronteiras

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Por Fabian Chacur

No início de 2018, recebi uma mensagem através de uma rede social digital de um artista que se apresentou e disse que desejava me mandar o seu mais recente álbum. Era ninguém menos do que Bebeto Alves. Tomei um susto, pois achei uma postura muito humilde por parte dele, um artista com um gabarito tão alto e de tanta estrada. Pois infelizmente esse grande cantor, compositor e músico gaúcho nos deixou na madrugada desta segunda-feira (7), apenas 3 dias após completar 68 anos.

Em várias entrevistas, Bebeto afirmou que não se sentia local de parte alguma. Basicamente, isso significava que ele, enquanto artista, nunca respeitou limites ou fronteiras musicais, experimentando e criando novos horizontes sonoros e poéticos. Sua base era o rock and roll e a milonga, mas nunca se limitou a um único rumo. E, dessa forma, criou uma trajetória musical das melhores.

Ele lançou o seu álbum de estréia em 1981, após muitos anos de estrada. Tive a honra de escrever sobre esse trabalho no livro 100 Grandes Álbuns do Rock Gaúcho, criado e coordenado pelo jornalista e biógrafo gaúcho Cristiano Bastos, trabalho essencial que será lançado em breve. É um disco maravilhoso, e que dava pistas do que viria adiante.

Além de seus próprios trabalhos, Bebeto Alves também teve músicas de sua autoria gravadas por outros artistas, entre elas 433, que integra o álbum Kleiton & Kledir (1983), o mais bem-sucedido em termos comerciais da seminal dupla gaúcha e que inclui os hits Tô Que Tô e Nem Pensar.

Bebeto sempre foi muito gregário, e fez parcerias e gravações com diversos outros artistas, entre os quais Humberto Gessinger, Antonio Villeroy, Jimmi Joe e King Jim. Outro projeto incrível dele foi o grupo OhBlackBagual, cujo excelente álbum Canção Contaminada foi o que ele tão gentilmente me enviou. A partir da resenha desse trabalho, fiz vários textos sobre Bebeto em Mondo Pop (leia todos aqui).

Você– Bebeto Alves:

Jerry Lee Lewis, 87 anos, o último dos pioneiros do rock

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Por Fabian Chacur

Jerry Lee Lewis, o último grande astro da geração inicial do rock que ainda estava entre nós, nos deixou aos 87 aos. Sua morte foi confirmada nesta sexta-feira (28) por seu assessor de imprensa, Zack Farnun, que afirmou ter o lendário cantor e pianista americano nos deixado em Desoto County, Mississippi, ao lado de sua sétima esposa, Judith. Boatos sobre sua morte nos últimos dias haviam circulado, mas a confirmação só veio agora.

Nunca irei me esquecer da entrevista coletiva desse mitológico artista realizada em novembro de 1993 em São Paulo no hotel Maksoud Plaza, situado na região da Avenida Paulista. Olhos incrivelmente verdes, olhando para nós,jornalistas, como se estivesse escolhendo um para dar uns bons tiros, jeitão de pouca paciência e poucos amigos. Suas respostas foram lacônicas e volta e meia atravessadas.

Após aproximadamente 15 minutos, nos quais rejeitou o filme que havia sido feito há alguns anos sobre a sua carreira (falarei mais sobre isso depois), ele levantou e disse isso: “bem, pessoal, eu fiz uma longa viagem, estou cansado, até mais!” Levantou-se e saiu de cena rapidinho, andando no melhor estilo “dez pras duas”, com suas botas de couro. Bem, pelo menos saímos ilesos.

Meu grande amigo Marcelo Orozco viu um dos shows, que foram realizados em 30 de novembro e 1º de dezembro de 1993 em São Paulo no hoje extinto Palace, situado no bairro de Moema. Ele fez uma belíssima resenha (leia aqui ), com a sua categoria habitual.

Também fiz uma resenha em Mondo Pop, no ano de 2016, da sua excelente autobiografia, uma das mais francas e diretas que já tive a oportunidade de ler nesses anos todos (leia a resenha aqui).

Jerry Lee Lewis nasceu em 29 de setembro de 1935, e desde pequeno mostrava inclinação pela música, tanto que seus pais logo o apoiaram. As coisas engrenaram para ele em 1956, quando foi contratado pela Sun Records, de Sam Phillips, gravadora que lançou outros craques da geração inicial do rock and roll, como Elvis Presley, Johnny Cash e Carl Perkins.

Entre 1956 e 1958, lançou os seus maiores hits, clássicos do porte de Whole Lotta Shakin’ Goin’ On (nº 3 nos EUA e nº 8 no Reino Unido), Great Balls Of Fire (nº 2 nos EUA E nº 1 no Reino Unido), Breathless (nº 7 nos EUA e Reino Unido) e High School Confidential (curiosamente a única escrita por ele, nº 21 nos EUA e nº 12 no Reino Unido).

O grande mérito de Jerry Lee foi trazer o tempero country do seu piano e incorporá-lo ao pique do rock and roll, com direito a uma performance alucinada com direito a subir no piano e coisas assim, além de ter uma voz recheada de pique e jogo de cintura.

Seu temperamento errático, no entanto, logo cobrou um alto preço, quando ele, no final de 1957, separou-se de sua já segunda esposa para ficar com Myra Gayle, garota com apenas 13 anos de idade. Quando foi fazer uma turnê no Reino Unido, a levou junto com ele, e admitiu à imprensa local que se tratava de sua esposa. Tentem imaginar isso em plena década de 1950…

O artista teve de lidar com uma grande reação conservadora por parte da mídia, que ele só conseguiu superar com o decorrer dos anos. Ele voltou a emplacar um hit ao menos mediano apenas em 1964, com I’m On Fire. Em 1968, no entanto, atingiu o 1º lugar na parada country americana com Another Place Another Time, e emplacou mais outros 30 sucessos nessa área até o fim dos anos 1970.

O revival do rock original rendeu shows importantes como o The Rock And Roll Revival Concert em 1969, no Canadá, e o London Rock N’ Roll Festival em 1972, em Londres, nos quais ele brilhou ao lado de contemporâneos como Little Richard, Bo Diddley e Chuck Berry, entre outros. No primeiro, tivemos também a participação de John Lennon e a sua Plastic Ono Band, um dos raros shows que ele realizou sem os Beatles, vale registrar.

A partir da segunda metade da década de 1970, Lewis conviveu com vários problemas de saúde e também com diversas confusões geradas por seu alto consumo de bebidas e temperamento irascível. Em 1989, foi lançado o filme Great Balls Of Fire (A Fera do Rock, no Brasil), dirigido por Jim McBride e estrelado por Dennis Quaid e Wynonna Ryder.

Embora tenha feito uma ponta no filme e regravado alguns de seus hits para a trilha sonora (muito boa, por sinal), Jerry Lee Lewis o rejeitaria nos anos seguintes. Na célebre entrevista coletiva, ele afirmou que não havia gostado do resultado final, e que um dia faria o seu próprio filme sobre sua vida, o que, infelizmente, acabou não conseguindo concretizar.

Ele se manteve ativo nas últimas décadas, fazendo alguns shows, gravando álbuns como Youngblood (1995) e participando da trilha sonora do filme Dick Tracy (1990, estrelado por Warren Beatty e Madonna) com a música (muito boa, por sinal) It Was The Whiskey Talking (Not Me) (ouça aqui).

Great Balls Of Fire (clipe)- Jerry Lee Lewis:

Olivia Newton-John, 73 anos, estrela talentosa e simpática

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Por Fabian Chacur

O mundo está muito mais triste nesta segunda-feira (8). Foi anunciada nesta manhã a morte de Olivia Newton-John, que após três décadas lutando contra um câncer de mama infelizmente não conseguiu mais resistir. Ela estava entre seus entes queridos, no rancho em que morava no sul da Califórnia (EUA). Aos 73 anos, a cantora nos deixa um lindo legado profissional e também como ser humano. Uma pessoa doce e que sempre lutou por causas humanitárias.

A estrela pop nos visitou em março de 2016, quando fez shows elogiados. Eu estive em um deles (leia a resenha aqui), e tive a oportunidade de tirar uma foto com ela (feita pelo amigo e jornalista Sérgio Martins) e ter uma rápida conversa, durante a qual ela se mostrou extremamente gentil e atenciosa.

Nascida na Inglaterra em 26 de setembro de 1948 (mesmo dia e mês de Gal Costa e Brian Ferry, curiosamente), Olivia mudou-se com a família para a Austrália aos 5 anos de idade, onde foi criada. Ela iniciou sua carreira musical em 1965. Seu primeiro sucesso foi em 1971 com If Not For You, de Bob Dylan e também conhecida por gravação de George Harrison.

A cantora se mostrou uma especialista em quebrar barreiras, pois se tornou uma das maiores estrelas da música country nos EUA, grande façanha para uma estrangeira. Um de seus primeiros hits nesse setor foi Let Me Be There, seguido depois pelo estouro de I Honestly Love You, que chegou ao número 1. Outros hits country da moça são Please Mr. Please e Have You Ever Been Mellow, só para citar mais dois.

Em 1978, surpreendeu a todos ao aceitar viver o papel de Sandy na versão cinematográfica do musical Grease, uma ousadia, se levarmos em conta que ela já tinha 30 anos e viveria uma jovem adolescente. Mas deu super certo a sua parceria com o então ainda iniciante John Travolta, e o filme virou um grande sucesso nas bilheterias.

Mais: rendeu vários hits em sua trilha sonora, entre os quais dois duetos de Olivia e Travolta, as trepidantes Summer Nights e You’re The One That I Want, e a balada solo Hopelessy Devoted To You. O sucesso a incentivou a dar uma guinada roqueira em 1979 com o hoje clássico álbum Totally Hot, que inclui os petardos A Little More Love e Deeper Than The Night, entre outros, um grande sucesso.

Em 1980, outra surpresa das boas: estrelou o filme Xanadu ao lado de ninguém menos do que Gene Kelly, o rei dos musicais. O filme não teve bom desempenho nas bilheterias mas virou cult depois. A trilha, no entanto, que a reuniu com a Electric Light Orchestra, estourou, com hits como Xanadu (com a ELO), Magic, Whenever You’re Away From Me (com Gene Kelly) e Suddenly (dueto com o amigo Cliff Richards).

Em 1981, veio seu maior hit solo, a contagiante Physical, que ficou dez semanas no topo da parada americana e virou uma febre como tema de vídeos de ginástica. Fez mais um filme com Travolta, Two Of a Kind (1983), e também investiu em causas sociais. Em 1992, lutou contra um câncer de mama, mas não só o venceu na época como também criou uma fundação para arrecadar fundos no intuito de ajudar as vítimas dessa doença terrível.

Sempre ativa, lançou bons discos nesses anos todos, entre eles Back With a Heart (1998). Outro é o duplo ao vivo Summer Nights- Live In Vegas, gravado ao vivo em incluindo hits como Have You Ever Been Mellow, Xanadu, A Little More Love, Sam, Physical, Summer Nights e inúmeras outras, em um total de 22 faixas. E foi esse show comemorativo de seus 50 anos de carreira que a trouxe ao Brasil em 2016. Já está fazendo muita falta…

A Little More Love (clipe)- Olivia Newton-John:

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