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Por Fabian Chacur

Hoje é o Dia Internacional do Rock, e é também o Dia Internacional do João Bosco. O incrível cantor, compositor e violonista mineiro completa 70 anos nesta quarta-feira (13). E que ninguém venha dizer que são opostas essas celebrações simultâneas. Afinal de contas, quem conhece o autor de O Mestre Salas dos Mares sabe que o cara curte o velho e bom rock and roll, especialmente um certo Little Richard, que ele até imitava nos tempos de moleque. Parabéns, fera!

Nascido na cidade mineira de Ponte Nova em 13 de julho de 1946, João chegou a cursar engenharia civil, mas não demoraria para ficar claro que sua atuação seria em outra área, a de engenharia musical. Em 1967, conheceu Vinicius de Moraes, e compôs várias canções com o saudoso Poetinha. Mas foi em 1970 que ele travou seu primeiro contato com o parceiro de uma vida, o genial poeta e letrista carioca Aldyr Blanc. Nascia uma dupla iluminada.

Meu primeiro contato com a obra desse mestre da MPB foi logo com a primeira gravação feita por ele e comercializada. O jornal O Pasquim, em parceria com o músico Sérgio Ricardo, criou o projeto Disco de Bolso, que consistia em uma revista com belo conteúdo e um compacto simples, incluindo de um lado um artista já consagrado cantando uma música inédita em seu repertório e do outro um nome emergente do nosso cenário musical brasileiro.

O primeiro exemplar, lançado em 1972, tinha no lado A Tom Jobim cantando a primeira versão de Águas de Março, bem mais rapidinha do que a que depois ficaria conhecida com o Maestro Soberano e com Elis Regina. No lado B, um certo João Bosco, cantando Agnus Sei. Eu tinha só 10 anos, mas meu irmão Victor, de 17, era fã do Pasquim, e comprou esse número inicial do O Som do Pasquim. E esse disco me marcaria profundamente para o resto da vida.

Adorei a música do Tom, mas a que me cativou mesmo foi a do João. Só voz e violão. Só? Devo estar doido. Com uma performance iluminada, tocando um arranjo fortemente influenciado pela música flamenca, João nos oferecia uma melodia meio medieval, tensa, com letra que podia ser associada tanto aos tristes tempos da inquisição como daquela ditadura militar que nos assolava. “O meu senhor não sabe que eu sei da arma oculta na sua mão” e “o tempo vence toda ilusão” são alguns dos versos de Aldyr. Um clássico, e minha versão favorita dessa música, que depois seria regravada pelo autor e por outros artistas.

O segundo contato veio em 1975, e foi fulminante. O álbum Caça à Raposa (1975) emplacou diversos sucessos na programação das rádios, que na época tocavam música boa em proporção bem maior do que hoje. Entre eles, as sublimes O Mestre Salas dos Mares e De Frente Pro Crime. Não comprei, na época, o LP, pois era uma criança sem muito dinheiro, mas sim um compacto duplo com quatro músicas. Pronto. João Bosco ganhou um fã pro resto da vida.

Dali pra frente, foi só alegria. As trilhas de novela ajudaram a expandir os horizontes para a música do artista mineiro. Bijuterias, que rendeu até nome de grupo (Pedra Letícia, que era como alguns entendiam os versos “Minha Pedra é Ametista”), Latin Lover e sua crônica agridoce de uma relação amorosa de anos, Linha de Passe e seu pique sacudido… Ah, a coisa vai longe, e vai muito, mas muito bem mesmo.

Como definir a música feita por João Bosco? Eis uma humilde tentativa: ele parte do samba como base, e acrescenta a ele, sem medo de ser feliz, bossa nova, bolero, latinidades diversas, africanidades mil, jazz e até o nosso amado rock and roll, aqui e ali. Com o tempo, desenvolveu sua voz de forma cirúrgica, interpretando como poucos as letras ora sarcásticas, ora românticas, ora agressivas do poeta Aldyr Blanc.

Em 1983, vi pela primeira vez o meu ídolo ao vivo, em show realizado no Centro Cultural São Paulo, na rua Vergueiro, 1.000, quase em frente de onde meu pai, Fuad, teve sua loja de calçados denominada Paraíso. E paraíso foi o que eu senti vendo aquele cara, voz e violão, literalmente esmerilhando o instrumento com classe, garra e uma habilidade digna de jato. Ah, meu Deus, eu, que já era fã, virei seguidor de vez.

Se eu parecia já devidamente convertido à fé João Bosquiana, não imaginava como seria conhece-lo pessoalmente. Melhor: entrevista-lo. E isso ocorreu pela primeira vez em 1989, quando ele lançava o excelente álbum Bosco e eu trabalhava no jornal Diário Popular. Dizem que nem sempre é bom conhecer um ídolo, pois às vezes eles podem nos decepcionar, mas no meu caso, só posso dizer que minha admiração pelo autor de O Bêbado e a Equilibrista só aumentou.

A partir daquela data, teria várias oportunidades de entrevistar João Bosco, e todas, sem exceção, foram extremamente prazerosas. Um cara tranquilo, bem-resolvido, articulado, capaz de falar sobre seu trabalho e suas concepções artísticas e de vida com a mesma categoria com que o faz. Um mestre zen! Que posso eu desejar para quem me trouxe tanta energia positiva com a sua música? Só muita saúde e paz para continuar seguindo em frente por muitos e muitos anos. Pois ele é o aniversariante, mas quem ganhou o presente fomos nós!

Confira, a seguir, uma seleção de sete músicas do extenso repertório do genial João Bosco. Escolhi algumas músicas não tão conhecidas e outras famosas, mas todas maravilhosas. Prestem atenção no humor corrosivo de A Nível de…, uma das minhas favoritas!

Água Mãe Água– João Bosco:

Agnus Sei (versão original, 1972)- João Bosco:

A Nível de..– João Bosco:

De Frente Pro Crime– João Bosco:

Bijuterias– João Bosco:

Latin Lover– João Bosco:

Quilombo- Tiro de misericórdia- Escadas da Penha (ao vivo)- João Bosco: