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Por Fabian Chacur

Ivan Lins completa nesta terça-feira (16) 70 anos de idade. É mais um integrante célebre da incrível “safra de 1945”, que deu ao mundo músicos fantásticos como Eric Clapton, Bob Marley, Gonzaguinha, Renato Teixeira, Pete Townshend e Elis Regina, só para citar alguns dos essenciais dessa geração incrível. Um grande nome da MPB mais reverenciado no exterior do que aqui. Uma vergonha!

Entre os inúmeros fãs ilustres desse cantor, compositor e pianista carioca, encontram-se gente do alto gabarito de Quincy Jones, George Benson, Patty Austin, Sting, Ella Fitzgerald e inúmeros outros, atraídos por sua incrível musicalidade, mistura preciosa de música brasileira, jazz, soul music e música pop repleta de riqueza melódica e artística.

Elis Regina (1945-1982) foi uma de suas melhores intérpretes, assim como Simone. Por alguma razão estranha, setores da crítica musical brasileira sempre torceram seus narizes para a sua obra, algo inexplicável se a analisarmos com calma e justiça. Enfim, gosto não se discute, embora às vezes seja digno de lamentação. A obra dele fala por si, e seus fãs bem qualificados também.

Do início nos festivais universitários nos anos 1960, Ivan estourou nacionalmente com o sucesso de Madalena, na voz de Elis, e de O Amor é Meu País, com ele próprio. No início, mergulhou fundo na mistura da MPB com a soul music a la Blood Sweat & Tears e Jimmy Webb, tempos em que seu principal parceiro era Ronaldo Monteiro de Souza.

Em 1974, conhece o poeta paulista Vitor Martins, que se torna seu maior parceiro. Sua primeira composição em dupla já mostrava o que viria a seguir: Abre Alas, lançada naquele mesmo ano no álbum Modo Livre. A partir de então, a música brasileira ganhava uma dupla de sensibilidade impressionante, repleta de grandes momentos.

As melodias intensas e interpretadas de forma apaixonada por Ivan ganharam versos ora líricos, ora agressivos, falando das idas e vindas do amor e também da terrível situação política vivida no Brasil daqueles anos 1970. Entre 1977 e 1980, quando esteve na gravadora EMI Odeon, viveu seu momento maior, com produção simplesmente perfeita.

Nesse período, lançou quatro álbuns hoje considerados clássicos: Somos Todos Iguais Nesta Noite (1977), Nos Dias de Hoje (1978), A Noite (1979) e Novo Tempo (1980). São discos pop por excelência, na qual o samba surge somado a soul, música nordestina, bossa nova, jazz, rock e o que mais pintar, sempre com muita intensidade, criatividade, bom gosto e paixão. Música com alma, muita alma.

Nos anos 1980, com o fim dos anos de chumbo, sua produção enveredou mais para o lado romântico, mas sem perder a qualidade, como comprovam canções maravilhosas do naipe de Depois dos Temporais, Iluminados, Vieste, Daquilo Que Eu Sei, Eu Ainda Te Procuro e Vitoriosa, só para citar algumas das mais conhecidas.

No finalzinho dos anos 1980, cria com Vitor Martins a gravadora Velas, que abriu espaços para grandes nomes da MPB e também lançou alguns títulos muito importantes da carreira de Ivan, entre os quais o fantástico Awa Yiô (1990), no qual se destacam faixas como Meu País, a canção que dá título ao CD e Ai Ai Ai Ai Ai. Vale também destacar sua trilha para o belo filme Dois Córregos (1999).

Se tivesse encerrado a carreira no fim dos anos 1990 seu lugar no panteão dos mestres da MPB já estaria garantido, mas o cara se manteve extremamente produtivo, lançando bons discos de inéditas e também relendo canções de seu acervo em parcerias com artistas dos mais diferentes estilos e nacionalidades. É conhecido e respeitado no mundo todo, merecidamente.

A música feita por ele nos últimos tempos se tornou mais contemplativa e menos empolgante do que a dos anos 1970 e 1980, mas ainda assim muito efetiva e apreciável, assim como seus shows. Em pleno 2015, é um artista relevante, para a felicidade de quem curte música brasileira com gabarito. Abram alas, que o cara continua firme e forte por aí!

Quaresma– Ivan Lins:

Cantoria– Ivan Lins:

Quadras de Roda– Ivan Lins:

Velas Içadas– Ivan Lins:

Somos Todos Iguais Nesta Noite– Ivan Lins: