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Morre Gerry Goffin, 75 anos, grande letrista do pop rock

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Por Fabian Chacur

Foi anunciada nesta quarta-feira (19) a morte de Gerry Goffin, um dos melhores e mais bem-sucedidos letristas da história do rock e da música pop. Ele tinha 75 anos, e morreu de causas naturais em sua casa em Los Angeles, segundo divulgou sua esposa, Michelle. Sua parceira mais conhecida foi Carole King, com quem esteve casado entre 1959 e 1968.

Nascido no Brooklin (Nova York) em 11 de fevereiro de 1939, Gerry Goffin tornou-se conhecido inicialmente no mundo da música como um dos compositores do chamado Brill Building, prédio situado em Nova York que concentrava pequenas salas nas quais compositores profissionais compunham músicas para as mais diversas editoras musicais e artistas entre os anos 50 e 60.

A parceria de Gerry com a esposa Carole King se tornou uma das mais bem-sucedidas daquele cenário, com direito a hits marcantes. The Loco-Motion, por exemplo, ocupou os primeiros lugares nas paradas de sucesso em três décadas seguidas: anos 60 com The Shirelles, anos 70 com o Grand Funk Railroad e anos 80 com a australiana Kylie Minogue.

Os Monkees gravaram três músicas marcantes do casal, as maravilhosas Take a Giant Step, Porpoise Song e Pleasant Valley Sunday. Os Beatles incluíram Chains logo em seu álbum de estreia (Please Please Me), enquanto os Byrds gravaram com categoria e originalidade as psicodélicas Going Back e I Wasn’t Born To Follow.

Up On The Roof, lançada pelo grupo vocal The Drifters, também fez bastante sucesso nas releituras de Laura Nyro, James Taylor e da própria Carole King, que, mesmo separada de Gerry Goffin em 1968, continuou a gravar músicas feitas pelos dois. Aliás, vale ressaltar que Goffin também tem várias músicas de sucesso com outros parceiros.

Gladys Knight And The Pips, por exemplo, fizeram bastante sucesso com duas músicas assinadas por Gerry Goffin, as belíssima So Sad The Songs (escrita com Michael Masser) e I’ve Got To Use My Imagination (com Barry Goldberg). Goldberg é também coautor de It’s Not The Spotlight, que visitou as paradas nas vozes de Rod Stewart e Kim Carnes.

Outra canção que poucos associam a Gerry Goffin é a balada Nothing’s Gonna Change My Love For You, parceria com Michael Masser gravada originalmente por George Benson e tornada um grande sucesso em proporções mundiais em 1990 na releitura feita pelo cantor pop Glenn Medeiros. Até o trio vocal SNZ (das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil) gravou versão em português desta canção.

Gerry Goffin é um dos últimos compositores da era de ouro do pop rock a nos deixar, e sua classe e sutileza na hora de escrever certamente fará muita falta. Só nos resta, como de praxe, matar a saudade ouvindo as inúmeras gravações feitas de suas belas canções, sete delas atingindo o número 1 nos EUA, sendo um total de 59 ocupando o Top 10 por lá.

I Wasn’t Born To Follow – The Byrds:

Take a Giant Step– The Monkees:

Chains – The Beatles:

Will You Still Love Me Tomorrow– Carole King:

Morre Phil, dos Everly Brothers, aos 74 anos

Por Fabian Chacur

O rock and roll sofre sua primeira grande perda em 2014. Morreu na última sexta-feira (3), aos 74 anos, Phil Everly, que ao lado do irmão mais velho Don (de 76 anos) integrou os Everly Brothers, um dos duos mais importantes da história da música pop. O músico foi vítima de uma doença pulmonar, que sua esposa Patti atribui ao tabagismo. Ele vivia em Burbank, Califórnia.

Nascido em Chicago em 19 de janeiro de 1939, Phillip Everly era filho de dois cantores de rádio, e estreou na música aos 7 anos de idade ao lado do irmão Don em um programa radiofônico. Após anos batalhando por uma oportunidade, tiveram a ajuda do célebre músico Chet Atkins, que tocou com Elvis Presley e inúmeros outros durante sua brilhante carreira.

Com um background de música country, os Everly logo adicionaram a essa sonoridade o rhythm and blues e o emergente rock and roll, ajudando a criar uma mistura que marcou a história do rock and roll e intitulada rockabilly. Com suas vocalizações, logo invadiram as paradas de sucesso, e seu primeiro sucesso, Bye Bye Love, tem uma origem bastante curiosa.

Obra do casal Felice e Boudleaux Bryant, Bye Bye Love já havia sido rejeitada por ao menos 30 intérpretes antes de ser finalmente registrada pelos irmãos Don e Phil. Valeu a espera. A canção logo se tornou um dos grandes sucessos de 1957, atingindo o segundo posto na parada americana pop e o primeiro na de rhythm and blues. Wake Up Little Susie (1957), também dos Bryant, foi ainda além, dando à dupla de cantores o primeiro lugar na parada pop ianque, mesma posição atingida por All I Have To Do Is Dream (1958) poucos meses depois.

Até 1960, eles emplacaram vários sucessos no selo Cadence, do qual saíram naquele ano ao aceitar uma oferta milionária da Warner por um contrato de dez anos de duração e um milhão de dólares de ganho. O primeiro fruto do novo contrato foi Cathy’s Clown (1960), maior sucesso dos irmãos em sua terra natal, que ficou cinco semanas no topo da parada pop.

As coisas permaneceram bem para os Everly Brothers em termos de sucesso até 1964, com novos hits do naipe de Crying In The Rain, Gone Gone Gone e Ebony Eyes, entre outros. No entanto, o estouro dos Beatles e o surgimento da chamada British Invasion, ironicamente muito influenciada pelo som dos irmãos, acabou tirando as canções deles dos primeiros postos das paradas de sucesso. Eles continuaram seguindo em frente mesmo assim.

Em 1973, no entanto, as desavenças entre os irmãos chegaram ao ápice, e após um show em junho daquele ano, Phil jogou seu violão no chão e saiu do palco, encerrando ali o trabalho com Don. Parecia o fim definitivo da dupla, que a partir daí partiu para carreiras solo. Phil gravou algumas canções bacanas no período, incluindo a primeira e ótima versão de The Air That I Breathe, que depois estouraria em releitura do grupo britânico Hollies, não por acaso bastante influenciado pelo som dos brothers americanos.

Em setembro de 1983, no entanto, o retorno dos Everly Brothers acabou se materializando, em dois shows no Royal Albert Hall londrino que geraram um álbum duplo ao vivo. Em 1984, os irmãos foram além, gravando um novo álbum de estúdio com a produção de Dave Edmunds. EB 84 equivaleu a um retorno certeiro, com ótimas vendas e pelo menos três faixas excelentes.

On The Wings Of a Nightigale leva a assinatura de ninguém menos do que Paul McCartney, que ainda toca violão na gravação. Jeff Lynne, da Electric Light Orchestra, compôs The Story Of Me para a dupla, e participou da gravação (tocando baixo) ao lado de outro colega da ELO, o tecladista Richard Tandy. E temos um cover arrepiante de Lay Lady Lay, de Bob Dylan.

Até o fim dos anos 80, os Everly Brothers ainda nos proporcionariam outras gravações ótimas, como Born Yesterday (faixa título do LP lançado em 1986), uma inspiradíssima releitura de Why Worry (do Dire Straits) e uma parceria histórica com os Beach Boys em uma regravação de Don’t Worry Baby, um dos momentos máximos de Brian Wilson como compositor.

Se não gravaram mais discos de inéditas a partir de Some Hearts (1989), os irmãos continuaram fazendo shows. Em 2003/2004, participaram da turnê Old Friends com Simon & Garfunkel, um de seus discípulos mais famosos, com direito a registro em CD e DVD. Vale lembrar que S&G ajudaram a criar o clima para o retorno dos EB quando gravaram Wake Up Little Susie em seu mitológico álbum ao vivo gravado no Central Park de Nova York em 1981.

Inúmeros artistas releram sucessos dos Everly Brothers nesses anos todos. Em seu álbum Dark Horse (1974), por exemplo, George Harrison fez uma releitura lenta, sofrida e também possivelmente irônica de Bye Bye Love dedicada a Pattie Boyd, sua esposa que o estava largando para ficar com o amigo Eric Clapton, em um dos mais famosos e escandalosos triângulos amorosos da história do rock.

O grupo norueguês A-ha fez muito sucesso relendo Crying In The Rain. E Robert Plant ganhou um Grammy ao regravar de forma inspiradíssima Gone Gone Gone no álbum que gravou em dupla com a cantora e musicista country americana Alison Krauss, o ótimo Raising Sand (2007), grande sucesso de vendas e de crítica. Por sinal, essa regravação foi massacrada na MTV por João Gordo, que a achou ridícula. Que vergonha alheia!!!

Phil Everly nos deixa como herança algumas das melhores e mais influentes vocalizações da história do rock and roll, além de ajudar a firmar um dos estilos musicais mais mestiços de todos os tempos, injetando nele um tempero caipira delicioso que gerou frutos até na nossa música sertaneja, jovem guarda, pop rock etc.

Para quem deseja mergulhar no universo dos Everly Brothers, recomendo a excepcional coletânea tripla Perfect Harmony (Sequel Records/Castle Records), lançada em 1990 e que dá uma geral completa na trajetória da dupla, incluindo 60 faixas de todas as fases do duo (incluindo algumas gravações solo de Don e Phil) e um encarte com dados técnicos e texto impecável. Pode ser difícil de ser encontrada, mas vale cada centavo que você pagar nela.

Wake Up Little Susie, com The Everly Brothers:

Gone Gone Gone, com The Everly Brothers:

On The Wings Of a Nightingale, com The Everly Brothers:

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