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Dominguinhos, um xodó da música que se vai

Por Fabian Chacur

Em abril de 2011, tive a honra de cobrir o show que Dominguinhos realizou no Palco do Forró, durante a Virada Cultural 2011 (leia o texto aqui). A dignidade e energia com que ele conduziu aquela apresentação me emocionou. Pois nesta terça-feira (23) ele infelizmente nos deixou. Que perda para o mundo musical!

Naquele show o sanfoneiro já penava com um câncer contra o qual lutou durante seis longos e sofridos anos. A coisa ficou feia mesmo a partir do ano passado, e o músico oriundo de Garanhuns (PE) já estava internado desde janeiro. Era muito sofrimento para alguém que proporcionou tantas alegrias a seu povo. Chegou a hora do aconchego final.

Tomei contato direto com a música de Dominguinhos pela primeira vez através do estouro nacional da irresistível Eu Só Quero Um Xodó, parceria dele com Anastácia gravada há exatos 40 anos por Gilberto Gil e registrada pelo autor com igual competência. Anos depois, tive a honra de entrevistá-lo mais de uma vez. Que honra e que delícia. Um ótimo papo, sempre.

Nascido em 1941, Dominguinhos teve como padrinho musical o genial Gonzagão, e pode ser considerado como seu mais legítimo herdeiro. Grande e versátil músico, tinha requintes jazzísticos que o levaram a tocar em shows e gravações com luminares do naipe de Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso, Fagner, Elba Ramalho, Wagner Tiso e muitos outros.

Simpático, inteligente e extremamente humilde, Dominguinhos era daqueles raros artistas que, como o saudoso Velho Lua, encantava a todos, dos mais cultos aos mais simples, dos mais ricos aos mais pobres. A todo aquele ser humano capaz de se sensibilizar com música de qualidade tocada ao mesmo tempo com técnica e emoção.

Além de Eu Só Quero Um Xodó, compôs com parceiros do naipe de Anastácia, Chico Buarque, Gilberto Gil e Nando Cordel maravilhas como Isso Aqui Tá Bom Demais, Tenho Sede, De Volta Pro Aconchego, Xote da Navegação e Lamento Sertanejo, só para citar algumas. Também era capaz de reler com originalidade e categoria hits alheios.

De quebra, ainda apresentou, na fase final de sua vida, o essencial programa de TV O Milagre de Santa Luzia, no qual mostrava a trajetória dos maiores nomes da sanfona brasileira, desde os clássicos até os craques das novas gerações. Generoso, sempre soube dividir os louros da fama com outros colegas de profissão, tal qual seu padrinho sempre fez vida afora.

Foram mais de 55 anos de carreira que não poderiam acabar agora. Infelizmente, assim é o destino. Mas a herança que esse gênio da raça nos deixa é suficiente para que sua obra não só seja devidamente cultuada, mas que também possa inspirar novos talentos a seguir adiante essa bela missão de emocionar os fãs da música. Descanse em paz, mestre!

Ouça Eu Só Quero Um Xodó, com Dominguinhos:

Morre Richie Havens, destaque de Woodstock

Por Fabian Chacur

Morreu nesta segunda-feira (22) em sua casa em Jersey City (New Jersey, EUA) o cantor, compositor e músico Richie Havens, um mestre da música folk. Destaque no festival de Woodstock em agosto de 1969, no qual fez o show de abertura, o artista americano foi vítima de um ataque cardíaco, e tinha 72 anos de idade.

Richie nasceu em 21 de janeiro de 1941, e começou sua trajetória artística atuando em dois segmentos seminais da música negra norte-americana, o doo-wop e o gospel. Posteriormente, mergulharia de cabeça na música folk, mas nunca deixando de lado o delicioso tempero fornecido por suas opções iniciais na música.

Sua atuação no festival de Woodstock, em 1969, ajudou a lhe abrir as portas em termos de popularidade, especialmente após o lançamento do documentário sobre o evento, no qual aparece em apaixonada e vibrante atuação interpretando a canção Freedom, que virou sua marca registrada. Ele a regravaria (muito bem, por sinal) em 2009 para a trilha do delicioso filme Aconteceu Em Woodstock (Taking Woodstock, 1969), de Ang Lee.

Além de compor músicas, Havens também se mostrou em sua carreira um brilhante releitor de composições alheias, especialmente de Bob Dylan e dos Beatles. Um de seus maiores sucessos foi Here Comes The Sun, de George Harrison, assim como Eleanor Ribgy (Lennon-McCartney) e Just Like a Woman (Dylan), entre outros covers inspirados.

Dessas releituras, uma de minhas favoritas é Arrow Through Me, que Paul McCartney escreveu e lançou no último álbum dos Wings, Back To The Egg (1979). A versão de Richie Havens está no álbum Simple Things (1987), que se não me falha a memória me foi apresentada pelo amigo Giovanni Dell’Isola Neto.

O astro americano lançou uma autobiografia, They Can’t Hide Us Anymore, em 2000. O último álbum de inéditas de Havens, Nobody Left To Crown, saiu em 2008. Ele também participou do filme Não Estou Lá (I’m Not There, 2007) interpretando a canção Tombstone Blues, de Bob Dylan, em cuja vida o filme foi inspirado.

Em março deste ano, Richie Havens anunciou o fim de sua carreira em termos de turnês e shows, alegando problemas de saúde. Infelizmente, o temor em torno de sua morte acabou se concretizando de forma mais rápida do que o esperado. Fica a saudade de mais um grande nome revelado no mais icônico festival de rock de todos os tempos que nos deixa.

Ouça Arrow Through Me, com Richie Havens:

Freedom, com Richie Havens, do filme Woodstock:

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