Por Fabian Chacur

Please Please Me, primeiro álbum dos Beatles, chega aos 50 anos de seu lançamento soando ainda urgente, juvenil e bom de se ouvir. Muito bom, por sinal. Era o pontapé inicial de uma discografia no formato LP que se tornaria a melhor e mais significativa da história do rock e da música popular em geral.

O álbum inclui 14 faixas, sendo que quatro delas – Love Me Do, P.S. I Love You, Please Please Me e Ask Me Why, todas de autoria de John Lennon e Paul McCartney, haviam sido lançadas nos meses anteriores. Outras quatro da dupla e seis covers escolhidos a dedo complementam o set list.

Pode ser dito, sem medo de errar, que Please Please Me é um dos primeiros álbuns de rock da história a não ser apenas uma reunião de singles lançados anteriormente e faixas gravadas às pressas para tapar buracos. Usando uma frase em inglês que sintetiza bem essa minha opinião, “all killer no filler” (“só faixas matadoras”, sem nada para encher buraco, em tradução livre). E com 10 músicas gravadas em menos de um dia!

Ao contrário de outros grupos que surgiram no mundo do rock se opondo ao que havia sido feito anteriormente, o som dos Beatles sempre conseguiu o raro equilíbrio de reverenciar com carinho coisas boas feitas pelas gerações anteriores e apresentar seu som próprio e recheado de novidades e marcas de estilo até hoje copiadas no cenário pop.

O rock and roll cinquentista é homenageado em releituras matadoras de Twist And Shout (que embora seja dos anos 60 tem toda cara dos anos 50) e Boys. O romantismo mais tradicional aparece em A Taste Of Honey, enquanto o rhythm and blues surge em Anna (Go To Him). Pop até a medula, Chains é da dupla Carole King-Jerry Goffin, dois gênios do setor.

I Saw Her Standing There (de Lennon e McCartney)abre o álbum com uma levada totalmente original, uma nova interpretação do rock and roll original com direito a uma das linhas de baixo mais matadoras de todos os tempos, prova de que Paul McCartney já esbanjava criatividade como músico logo no início da carreira.

Please Please Me, faixa que dá nome ao álbum, é para mim um dos primeiros exemplos do que depois seria rotulado como “power pop”, ou seja, aquele tipo de rock com refrão contundente, riffs de guitarra ágeis e formato condensado, raramente ultrapassando três minutos de duração. Aqui, são só dois, e arredondando!

Outro momento pop rock autoral bem bacana é Misery, esbanjando ingenuidade, frescor quase adolescente e um refrão encantador, marca de grandes momentos dos Beatles. Outra que se vale de menos de dois minutos para dar seu recado.

Love Me Do, o célebre primeiro single, traz na gaita de John Lennon sua marca registrada, que também está em outra canção da griffe Lennon/McCartney incluída neste álbum, There’s a Place. E outro momento balada, Baby It’s You, traz outro autor seminal na história da música pop, o genial maestro Burt Bacharach, outro estilista nessa praia.

P.S. I Love You, lançada originalmente como lado B do single Love Me Do, investe em simplicidade, delicadeza, enquanto o lado B do compacto Please Please Me, Ask Me Why, tem um leve tempero latino no meio, esbanjando despretensão e romantismo em seus acordes.

Do You Want To Know a Secret, embora seja de autoria de Lennon e McCartney, foi interpretada (e muito bem) por George Harrison. A desenvoltura da banda em termos vocais já nesse primeiro álbum é impressionante, pois além de Paul e John, que dominam a cena, George e Ringo (esplêndido em Boys) também eram craques na frente dos microfones. Quatro ótimos cantores em uma mesma banda!

Em termos instrumentais, os Beatles já se mostravam afiadíssimos nessa estreia, e melhorariam a cada novo lançamento. Please Please Me dava mostras de uma banda coesa, criativa e repleta de energia com um futuro aparentemente promissor, o que se concretizaria de forma impressionante nos anos que se seguiram.

Ouça o álbum Please Please Me, dos Beatles, na íntegra: