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Jeff Beck celebra a sua bela carreira em show antológico

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Por Fabian Chacur

Nenhuma lista com os melhores guitarristas da história do rock estará completa se o nome de Jeff Beck não estiver nela. A habilidade do cidadão com esse icônico instrumento nas mãos é simplesmente assombrosa, como tive a oportunidade de conferir em show realizado por ele em São Paulo em maio de 2014 (leia a resenha aqui). O Canal Bis está com um show dele em sua programação ao vivo e em streaming, o espetacular Live At The Hollywood Bowl, e eu o recomendo com muito, mas muito entusiasmo mesmo.

O show realizado em 10 de agosto de 2016 no mitológico Hollywood Bowl, situado na região de Los Angeles, Califórnia (EUA), visava celebrar os mais de 50 anos de estrada deste brilhante músico britânico. Desta forma, o set list nos trouxe uma amostra das várias fases de sua trajetória, desde os tempos dos Yardbirds nos anos 1960 e chegando até seu então mais recente álbum, o ótimo Loud Hailer (2016), que ele gravou em parceria com as jovens e talentosas Carmen Vanderberg (guitarra) e Rosie Bones (vocal).

Acompanhado por uma banda compacta da qual Vanderberg e Rhonda Smith (baixista que tocou com Prince) se destacam, Beck teve alguns convidados especiais de primeiro escalão. O tecladista Jan Hammer, por exemplo, que gravou com ele um álbum ao vivo em 1977, foi um deles, brilhando na instrumental Freeway Jam. O grande mestre do blues Buddy Guy esbanjou seu imenso carisma e vozeirão em Let Me Love You.

Billy Gibbons, cantor e guitarrista do ZZ Top, nos proporcionou a deliciosa balada rock Rough Boy, enquanto Steven Tyler, do Aerosmith, tomou as rédeas vocais em belíssimas interpretações de dois clássicos do repertório de Jeff Beck, The Train Kept A-Rollin’ e Shapes Of Things. Rosie Bones marcou presença em músicas de Loud Hailer, entre as quais The Revolution Will Be Televised, e a ótima Beth Hart arrasou em uma versão inspiradíssima de Purple Rain, do Prince.

A qualidade do registro de vídeo nos permite em vários momentos conferir mais de perto a técnica como guitarrista de Beck, que desde os anos 1980 deixou as palhetas de lado e toca apenas se valendo dos dedos, indo desde solos com poucas e bem usadas notas até aqueles alucinantes que parecem impossíveis para os leigos. Sua releitura instrumental de A Day In The Life, dos Beatles, é de se ouvir ajoelhado, agradecendo pela graça recebida.

Live At The Hollywood Bowl foi lançado em DVD e CD duplo. O único problema de ver no Canal Bis em sua programação normal é que, por alguma razão bizarra, eles tem exibido por volta de metade das 21 músicas registradas no lançamento oficial, para não ultrapassar uma hora de duração. Qual seria a lógica de um canal a cabo fazer isso? Sabe Deus… Seja como for, este é um dos melhores registros de rock realizados ao vivo nesta década, uma bela amostra do que esse gênio da guitarra sabe fazer, e dos craques que consegue agregar ao seu lado.

The Train Kept A-Rollin’ (live)- Jeff Beck e Steven Tyler:

Sting- A Free Man (2017) é um documentário bastante eficiente

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Por Fabian Chacur

Abordar uma carreira de mais de 45 anos como a de Sting em apenas 52 minutos parece uma tarefa difícil, senão impossível de se realizar. O diretor francês Julie Veille, no entanto, mesmo sem ter esgotado o tema, proporciona uma interessante e muito bem realizada amostra do que de melhor o grande cantor, compositor e músico britânico fez nesses anos todos. Sting- A Free Man (2017), o resultado desse projeto, está disponível na programação do Canal Bis e também em sua plataforma de streaming.

Feito para um canal de TV francês, o filme tem como base uma ótima entrevista feita com o astro da música especialmente para a atração. Também temos bons depoimentos de pessoas ligadas a ele, entre os quais o guitarrista Dominic Miller, que toca há muito tempo em sua banda de apoio e é seu parceiro em algumas composições, e também o italiano Zucchero, o baterista Vinnie Colaiuta, Will.I.am (do grupo Black Eyed Peas) e Bob Geldof. Este último surpreende pelo aparente profundo conhecimento da vida e obra do colega de profissão.

A opção foi por ter foco principal na carreira solo de Sting, passando por alto por seus anos no The Police, incluindo uma justificativa pela qual ele saiu da banda: “Não queria repetir as mesmas fórmulas, eu queria a liberdade que me seria ditada pelas músicas, e não pelo grupo”.

Sting fala sobre o desafio de contar histórias relevantes em um formato tão compacto como o das canções pop, e de como escreveu alguns de seus clássicos, como Shape Of My Heart, Desert Rose e do repertório do álbum The Soul Cages (1991), este último feito em homenagem ao seu pai.

O envolvimento do músico com questões humanitárias e ecológicas também é abordado, entre eles sua ligação com o cacique brasileiro Raoni e as mães das vítimas da ditadura de Pinochet no Chile (que rendeu a bela canção They Dance Alone). O show que fez em Toscana, Itália, no mesmo dia dos ataques às torres gêmeas em Nova York em 11 de setembro de 2001, está na pauta, assim como a inspiração das belas canções Russians e Inshala.

Pontuado por um bem selecionado material de arquivo, Sting- A Free Man equivale a uma concisa e bem realizada viagem na obra de um artista que soube como poucos trafegar por gêneros musicais como rock, reggae, jazz, pop, world music, folk etc com desenvoltura, criatividade e muito talento. E pensar que, no relato do próprio Sting, tudo começou quando ele herdou o violão de um tio que se mudou para o Canadá…

Veja o trailer de Sting- A Free Man:

Serguei, o Último Psicodélico, um documentário certeiro e delicioso

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Por Fabian Chacur

Sergio Augusto Bustamante é, acima de tudo, um grande personagem. Poucos roteiristas seriam capazes de conceber uma trajetória tão fascinante e cheia de idas e vindas quanto as vividas na realidade por este cantor e compositor carioca, mais conhecido pelo nome artístico Serguei. Enfim essa vida, louca vida ganhou um documentário, o genial Serguei, O Último Psicodélico (2017), que o Canal Brasil está exibindo em dezembro. Para quem ainda não viu, o canal a cabo programou o filme para os dias 27 (quinta) às 8h20 e 30 (domingo) às 5h10. Absolutamente essencial.

Com 1h55 minutos de duração, o documentário dirigido por Ching Lee e Zahy Tata Pur’gte mergulhou fundo no seu tema, com direito a raras cenas de programas de TV (algumas em condições não muito ideais em termos técnicos, mas valendo pela raridade) e deliciosas entrevistas com o próprio cantor e pessoas que conviveram ou convivem com ele, um saco de gatos que inclui Erasmo Carlos, Alcione, Angela Maria, Michael Sullivan, Ney Matogrosso e Sylvinho Blau Blau, só para citar alguns.

Nascido em 8 de novembro de 1933, Serguei trabalhou em banco e foi comissário de bordo antes de mergulhar de vez no mundo artístico, isso quando já havia passado dos 30 anos. Ousado, usava roupas transgressivas e primava pela irreverência, isso em plena Ditadura Militar. Seu carisma o levou a participar em mais de 20 ocasiões do Programa Flávio Cavalcanti, cujo apresentador era um conservador de marca maior, mas que não rasgava notas de 100 dólares. Ele sabia que aquele maluquete dava audiência, e muita.

Das inúmeras pessoas com quem manteve amizade e relacionamentos afetivos, Janis Joplin foi de longe a mais importante, e essa passagem bacana de sua vida é muito bem enfocada no documentário, com direito a um surpreendente depoimento de Alcione, que na época (1970) cantava na noite e presenciou o dueto de Serguei e a cantora americana no palco de uma boate carioca. Fotos bem bacanas de arquivo também ilustram essa parte, assim como depoimentos do onipresente Nelson Motta.

Lógico que a música marca presença, e temos a oportunidade de ouvir várias interpretações deste roqueiro de corpo e alma, que gravou muito menos do que merecia nesses anos todos. Os incríveis singles As Alucinações de Serguei (1967) e Eu Sou Psicodélico (1968) e a versão Rolava Bethânia (Roll Over Beethoven, de Chuck Berry) são destaques, assim como suas releituras de Summertime e Move Over, cavalos de batalha de Janis Joplin.

Aos 85 anos de idade, Serguei conseguiu ver o seu trabalho venerado neste belo documentário, que tem como marcas a irreverência, a busca pelos detalhes e a abrangência de mostrar um pouco de tudo o que esse cara viveu nesse tempo todo, incluindo suas participações no Rock in Rio, a gravação de um LP pela BMG em 1991 com produção de Michael Sullivan e muito mais. Nada melhor do que receber as flores em vida, e Serguei, O Último Psicodélico é exatamente isso. Toca, toca, toca rock and roll!!!

Leia mais sobre Serguei aqui .

Veja o trailer de Serguei, O Último Psicodélico:

David Crosby e seu Sky Trails, mais um desses CDs incríveis

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Por Fabian Chacur

David Crosby é um dos grandes gênios do nosso amado rock. Não satisfeito em ter integrado algumas das mais importantes bandas de todos os tempos, The Byrds e Crosby, Stills & Nash/Crosby, Stills, Nash & Young, o cara ainda possui uma carreira solo das mais elogiáveis, e que anda bem produtiva nos últimos anos. Seu mais recente CD é o maravilhoso Sky Trails, que saiu cerca de um ano após outra maravilha, Lighthouse (2016- leia a resenha aqui).

Em sua trajetória musical, este brilhante cantor, compositor e músico americano que caminha para completar 77 anos de idade conseguiu criar uma sonoridade própria que mistura com desenvoltura rock, folk, country e jazz. Sabe harmonizar vozes como ninguém, tem uma voz belíssima, compõe com assinatura inconfundível e toca muito bem guitarra e, principalmente, violão.

Sky Trails guarda boas semelhanças com o trabalho da banda CPR, e não é para menos. O braço direito de Crosby durante todo o álbum é exatamente um de seus parceiros naquele trio, o filho tecladista e compositor James Raymond, sendo que em uma faixa, o incisivo rock midtempo Sell Me a Diamond, o terceiro integrante da banda, o guitarrista Jeff Pevar, marca presença com seus solos intensos.

O CPR lançou dois discos de estúdio e dois ao vivo entre 1998 e 2001, e nos oferecia uma mescla de jazz-rock e folk envolvente. E esse é basicamente o clima deste trabalho. A abertura fica por conta de uma composição solo de Raymond, a deliciosa e delicadamente funkeada She’s Got To Be Somewhere, com um jeitão de Steely Dan e muito swing.

Sky Trails, a faixa que dá nome ao disco, é uma parceria de Crosby com a talentosa cantora, compositora e guitarrista americana Bekka Stevens, dobradinha que já havia rendido uma faixa antes, no álbum Lighthouse, a incrível By The Light Of Common Day. A nova colaboração nos mostra o belo encaixa das vozes dos dois, em uma melodia delicada e de rara beleza, capaz de cativar o ouvinte logo nos seus primeiros segundos.

Parceria de Crosby com Michael McDonald (ex-Doobie Brothers, que não participou da gravação), Before Tomorow Falls On Love é uma bonita balada com piano em destaque no acompanhamento. Here It’s Almost Sunset aposta em clima mais acústico. Capitol investe em jazz rock, em um momento um pouco mais swingado.

De autoria de Joni Mitchell e lançada originalmente no álbum da estrela canadense Hejira (1976), Amelia mereceu uma releitura próxima do registro da autora, e não foi escolhida por acaso, pois sua letra segue a linha das viagens internas e externas propostas a rigor em todas as faixas do álbum, como as delicadas Somebody Home e Curved Air.

Uma marca registrada do CD é a participação destacada dos sopros em vários momentos, comandados pelo experiente Steve Tavaglione. Mais uma vez Crosby se concentra nos vocais, tocando seu violão endiabrado apenas na bela Home Free, que encerra o álbum. Sky Trails transmite paz de espírito, boas energias e muita emoção ao ouvinte, mostrando que, sim, a vida pode seguir em frente e nos surpreender positivamente. David Crosby é a prova concreta disso.

Sky Trails- David Crosby (ouça em streaming):

George Michael se revela por completo em documentário

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Por Fabian Chacur

Muitas pessoas questionam a idoneidade de documentários sobre artistas que contam com a autorização dos mesmos para serem realizados, pois teoricamente permitiriam a eles ocultar fatos de suas vidas que achassem convenientes serem escondidos. No caso de George Michael, fica difícil contestar Freedom, que ele codirigiu e criou em parceria com o diretor David Austin. Lançado na Inglaterra em outubro de 2017, ele será exibido nesta sexta (6) às 7h e neste sábado (7) às 11h50 no canal a cabo Bis (saiba mais aqui).

O documentário estava praticamente concluído quando o cantor, compositor e músico britânico nos deixou, no dia de natal de 2016. Esse fato é revelado em seus primeiros minutos, pela modelo Kate Moss. Acabou se tornando uma espécie de despedida do astro, e de uma forma franca, aberta e abrangente. Temos entrevistas antigas e outras feitas especialmente para a atração por ele, além de depoimentos de celebridades como Elton John, Stevie Wonder, Ricky Gervais, Liam Gallagher, Nile Rodgers, Clive Davis, Mary J. Blige e diversos outros.

Valendo-se de vasto material de arquivo, o filme mostra George desde seus tempos de Wham!, duo criado com o amigo de infância/adolescência Andrew Ridgeley que o emplacou no primeiro escalão da música pop na primeira metade dos anos 1980, passando pelo megaestouro na carreira solo logo com seu primeiro álbum nessa fase, Faith (1987), que vendeu mais de 20 milhões de cópias em todo o planeta e permitiu a ele encarar Madonna, Michael Jackson e Prince na época, em termos de popularidade e prestígio.

Sem papas na língua, o autor de Father Figure admite que após os dez meses de duração da turnê que divulgou Faith, em 1988, ficou no “limite da sanidade”, e que, por isso, resolveu tomar uma opção radical para seu próximo álbum, Listen Without Prejudice Vol.1 (1990): não teria sua foto na capa do disco, não apareceria em seus videoclipes e também não promoveria o álbum com entrevistas.

O escritório americano da gravadora Sony, com a qual ele tinha contrato, não aceitou a proposta, e passou de forma velada a sabotar a divulgação do trabalho. Isso gerou uma extensa briga jurídica que levou o astro e a gravadora aos tribunais, em um processo que durou anos e se encerrou de forma desvantajosa para Michael. Esse embate é ilustrado com depoimentos do cantor e também de integrantes da sua equipe e da direção da gravadora naquele período, dando uma visão bem abrangente das posições dos lados envolvidos. Bem democrático.

Se depois conseguiu dar continuidade à sua carreira, esse lado profissional conturbado teve outro ponto a agravar a vida do artista na primeira metade da década de 1990: seu breve, porém marcante relacionamento com o brasileiro Anselmo Feleppa (1956-1993), que conheceu quando se apresentou no Rock in Rio, em janeiro de 1991. “Fui feliz com ele como nunca havia sido antes na minha vida”, afirma. Ele dedicou a música Jesus To a Child e o álbum Older (1996) ao ex-companheiro, além de definir esse CD como sobre luto (sua mãe morreu na mesma época, outro duro golpe sofrido por ele) e recomeço.

Bem franco ao falar sobre sua vida pessoal e profissional, Michael também é bem descrito por seus amigos e parceiros. Uma boa surpresa é saber o quanto o sempre ácido e irreverente Liam Gallagher, ex-vocalista do Oasis, era fã dele, elogiando-o de forma entusiástica. Stevie Wonder comenta sobre a química existente entre ele e George, que regravou e cantou em shows diversas músicas do autor de You Are The Sunshine Of My Life: “é algo que não dá para fingir”.

Um ponto bacana da personalidade de George Michael descrita pelo ator Ricky Gervais é a sua capacidade de nunca fugir de um assunto, mesmo os mais constrangedores ou polêmicos, como sua homossexualidade ou escândalos protagonizados por ele. O videoclipe da sensacional Freedom 90, protagonizado pelas cinco supermodelos mais badaladas da época, também é destrinchado de forma minuciosa, com depoimentos das beldades envolvidas.

Lógico que, em meio a tudo isso, a obra do astro pop aparece com destaque, ficando claro o como esse cara nos deixou um legado muito precioso em termos musicais, passando por pop, rock, black music, jazz etc, sempre com uma voz poderosa e recheada de alma. Compositor talentoso, ele também sabia como poucos interpretar material alheio, como suas expressivas e vibrantes releituras de Somebody To Love (Queen) e As (Stevie Wonder) deixam bem claro.

Franco, direto e sem maquiar incoerências e fraquezas, Freedom (o documentário) nos mostra um ser humano contraditório, mas repleto de pontos positivos, e que merece ser relembrado por tudo o que fez de bom durante seus 53 anos de vida. Um filme que nos faz rir, refletir, chorar e principalmente querer ouvir cada vez mais os ótimos trabalhos que George Michael nos deixou, um legado mais do que precioso.

Freedom ainda não foi lançado em DVD/Blu-ray, só estando disponível na programação de canais a cabo ou de streaming por demanda. Se sair em formato físico, compre na hora, se for fã do artista, pois valerá cada centavo que você pagar por ele. E uma dica: prepare o lenço na parte final de seus 95 minutos de duração, pois fica difícil não verter lágrimas, muitas lágrimas, nesses instantes finais.

Veja trechos do documentário Freedom:

Threesome mostra sua faceta atual com EP Keep On Naked

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Por Fabian Chacur

Em 2014, com apenas dois anos de estrada, a banda campineira Threesome lançou Get Naked, seu primeiro álbum. Com a saída do vocalista Bruno Baptista, substituído pela cantora Juh Leidl, o quinteto agora nos proporciona um novo lançamento. Trata-se do EP Keep On Naked, que traz três faixas nervosas, vibrantes e que mostram o time afiadíssimo em sua proposta.

A sonoridade defendida pelo grupo que traz Juh Leidl (vocal), Fred Leidl (guitarra, piano e vocal), Bruno Manfrinato (guitarra), Bob Rocha (baixo) e Henrique Matos (bateria) é um rock ardido, com riffs simples e agressivos que beiram o hard rock e denotam influências bacanas dos anos 1960 e 1970. Os músicos atuam de forma coesa, com solos convivendo pacificamente com as canções, sem exibicionismos. A simplicidade é a tônica aqui, mas sem cair no banal.

O nome Threesome (termo em inglês equivalente ao ménage a trois francês) dá uma dica sobre as letras (todas em inglês) das suas composições, que enfocam as relações sexuais e afetivas de forma aberta e sem muitas amarras. A entrada da carismática Juh e a boa voz de Fred abrem perspectivas vocais muito bacanas para a banda que podem se tornar um belo diferencial, se continuarem sendo desenvolvidas conforme o material deste novo EP nos indica.

Duas das faixas, Sweet Anger e ERW, são releituras de canções presentes no álbum de estreia, só que reestruturadas para a nova configuração do time, sendo My Eyes totalmente inédita. A gravação analógica e a captação, mixagem e masterização feitas em Campinas (SP) pelo experiente Maurício Cajueiro (que trabalho com nomes gigantes do porte de Stephen Stills, Steve Vai, Glenn Hughes, Gene Simmons e Linkin Park) proporcionaram ao material um impacto sonoro comparável ao das melhores formações gringas, em termos técnicos.

Keep On Naked e seu ótimo conteúdo equivalem a uma bela amostra do que a Threesome poderá nos proporcionar nos próximos anos, e certamente deixará os admiradores de um rock ardido e bem concatenado extremamente curiosos para acompanhar os próximos passos dessa trajetória musical. E tomara que eles saibam aproveitar com inteligência e sensibilidade as possibilidades que a combinação das vozes dos seus dois cantores poderão lhes proporcionar.

Sweet Anger (lyric video)- Threesome:

Clara Estrela, o documentário que nos mostra Clara Nunes

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Por Fabian Chacur

Clara Nunes (1942-1983) foi um das grandes estrelas da história da nossa música. Viveu apenas 40 anos, mas nesse curto período concretizou uma trajetória de vida e obra que jamais será esquecida pelos fãs de música de qualidade superior. Nada mais natural do que cultuar esse legado, e é exatamente isso que o documentário Clara Estrela, de Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir, nos proporciona. Ele poderá ser visto no canal a cabo Curta! neste sábado (10) às 22h30 e neste domingo (11) às 10h30 (saiba mais aqui).

Com 71 minutos de duração, Clara Estrela traz diversos méritos. Um deles foi não ser redundante em relação à excelente série Clara, exibida em 2012 pelo Canal Brasil em cinco capítulo de aproximadamente 22 minutos cada. Neles, depoimentos de críticos, músicos, pessoas que conviveram com ela etc, entremeados com cenas da artista em programas de TV ou ao vivo, com roteiro baseado na excelente biografia Clara Nunes- Guerreira da Utopia ,de Vagner Fernandes.

Na obra dirigida por Susanna Lira e Rodrigo Alzugir, a opção ficou por aproveitar algumas entrevistas concedidas por Clara a programas televisivos como o global TV Mulher (entrevistada por Marilia Gabriela) e também diversas concedidas a jornais e revistas durante sua carreira, estas narradas/interpretadas de forma impecável pela atriz Dira Paes. Isso dá ao filme um delicioso clima do tipo “Clara por si própria”, diferencial que torna o trabalho único.

Clara Estrela nos proporciona um agradável mergulho na trajetória da cantora oriunda da pequena cidade mineira de Paraopeba, indo desde seus tempos de operária até o início como cantora na noite e nas rádios. Depois, a ida ao Rio, as inúmeras dificuldades dos primeiros anos na Cidade Maravilhosa, a imposição da gravadora Odeon para que seguisse um estilo romântico que não tinha muito a ver com a sua alma artística.

Temos também a sua virada rumo ao samba e à música de qualidade, apoiada por nomes do porte de Vinícius de Moraes, Paulo Gracindo, Adelzon Alves e Paulo Cesar Pinheiro (que seria o seu marido de 1975 a 1983). Clássicos como Conto de Areia, O Canto das Três Raças, O Mar Serenou, Mineira, Feira de Mangaio e Nação sairiam de seus álbuns, que não se limitavam apenas ao samba, mas também abrindo espaços para ritmos nordestinos, baladas e muito mais. Uma verdadeira diva!

Veja o trailer do filme Clara Estrela:

Olivia Gênesi brilha com sua mistura doce de sonoridades

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Por Fabian Chacur

A cantora, compositora, arranjadora e tecladista paulistana Olivia Gênesi lançou o seu primeiro CD em 2000. Desde então, fez inúmeros shows, gravou diversos outros trabalhos, interpretou canções próprias e de outros autores e buscou se aprimorar como artista. Toda essa estrada soa nítida em seu novo CD, Amor e Liberdade, o décimo dessa trajetória pelo cenário independente.

Vamos começar pela cantora. Sua voz é delicada, suave, quase frágil, com ecos do timbre da grande Vânia Bastos. Olivia se vale dessas características com bastante desenvoltura nas 14 faixas de seu novo álbum, e de forma inteligente buscou uma sonoridade que se adequasse a ela. Nada mais importante para um intérprete do que saber usar de forma inteligente o seu potencial, e é exatamente isso o que essa artista faz com o seu canto.

Sua sonoridade é uma mistura de jazz, rock, folk e várias tendências da MPB, com uma abordagem minimalista e rica nos detalhes, que se sobressaem graças ao talento dos músicos que a acompanham no álbum. Entre outros, temos aqui Fernando Garcia (bateria), Fábio Dregs (guitarra), Arismar do Espírito Santo (guitarra), Hugo Hori (flauta) e Raquel Martins (guitarra), além da própria Olivia no piano, escaleta, percussão e arranjos.

O repertório traz apenas uma música alheia, a deliciosa Lua No Céu de Janeiro, de Luis Carlos Sá e Dery Nascimento. Não faltam momentos preciosos, como o delicado rock Versiidade, a incrível mistura de jazz, forró, balada e psicodelia O Amor Vai Brotar, a jazzy Astrologia, o rock Mudada, a balada jazz O Feminino e o rock na veia Astrologia.

Forró da Bela serve como interessante amostra dessa perspectiva mestiça da criação de Olivia, pois parte do ritmo nordestino rumo a um resultado que tem variações sutis de climas que remetem a rock, jazz e pop. E ressalte-se o poder das ótimas letras, nas quais temas como amor, vida e relacionamentos afetivos são destrinchados com lirismo, paixão e um quê visionário também. E tem a deliciosa Amores Líquidos, repleta de toques e insights bacanas.

Amor e Liberdade é um título que serve como uma boa pista das intenções de Olivia Gênesi enquanto artista, pois mescla a paixão de quem visivelmente gosta do que faz com a liberdade de mergulhar nas misturas que achar cabíveis. Este álbum pode não agradar a todos, mas certamente será muito apreciado por quem tem bom gosto e sensibilidade poética e musical.

Amores Líquidos(clipe)- Olivia Gênesi:

Maroon 5 envolve os ouvintes com seu ótimo Red Pill Blues

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Por Fabian Chacur

Adam Levine é atualmente um dos nomes mais badalados do show business. Desde 2011, atua como coach (treinador) no reality show musical The Voice, que tem grandes índices de audiência. Além disso, trabalhou como ator em filmes e séries de TV e frequenta as colunas de celebridades com namoros aqui e ali. Felizmente ele não abriu mão de sua carreira como vocalista e líder do Maroon 5. Com o mais recente álbum da banda, Red Pill Blues, ele e sua turma provam que sua vocação para o pop dançante bem feito continua sendo bem explorada.

Na ativa desde 2001 como Maroon 5, após uma fase inicial com outra sonoridade e outro nome (Kara’s Flowers), esta banda americana traz como marca a sua vocação pop, mesmo tendo uma raiz rocker. Além de Levine no vocal e guitarra, o grupo traz dos tempos de Kara’s Flowers Jesse Carmichael (teclados e guitarra) e Mickey Madden (baixo). Completam o time James Valentine (guitarra desde 2011), Matt Flynn (bateria e percussão, desde 2006), PJ Morton (teclados, desde 2012) e Sam Farrar (guitarra, teclados e baixo, desde 2016).

Com seis álbuns e diversos singles de sucesso em seu currículo, o agora septeto adotou nesta década em seus álbuns um formato que sempre reúne diversos colaboradores, entre compositores, produtores, músicos de apoio e convidados especiais. O resultado é a potencialização máxima de seu DNA pop, com direito a faixas frequentemente dançantes e com eventuais espaços para momentos românticos. Tudo pontuado pela suave e carismática voz de Levine.

Red Pill Blues é altamente indicado para quem curte um trabalho alto astral e gosta de ter como trilha sonora algo que o motive, que o torne mais feliz e animado. Experimentalismo e busca por sonoridades inéditas não é a praia desses caras. Mas e daí? O importante é que, dentro dessa proposta assumidamente pop, eles capricham muito no conteúdo, oferendo aos fãs um trabalho que merece mesmo disputar a ponta das paradas de sucesso.

Lançado no exterior em novembro, o álbum atingiu o segundo lugar na parada americana, tem vários singles já estourados lá fora, e outros com potencial para realizar o mesmo rumo. What Lovers Do (com a participação da cantora revelação do r&b SZA), Best 4 U, Wait, Lips On You, Help Me Out (com a ótima Julia Michaels nos vocais, ela que abrirá os shows do grupo na atual turnê) e Whiskey (com ASAP Rocky) são bons exemplos dessa cara “hit instantâneo bacana”.

O ponto alto do álbum é a arrebatadora Closure, que dura 11m28 e conta com uma extensa parte instrumental com levada funky/jazz. Esse é o momento em que os músicos mostram todo o seu talento, sem abrir mão da batida dançante. Uma verdadeira aula de groove e balanço, daquelas que você nem nota que durou tanto tempo, quase quatro vezes o total habitual de um single pop. Eis uma ousadia bacaníssima.

A edição física de Red Pill Blues lançada no Brasil pela Universal Music traz quatro boas faixas-bônus e um CD adicional com seis músicas gravadas ao vivo, com quase meia hora de duração e hits como Moves Like Jagger, This Love e Animals.

O encarte colorido traz também um código de acesso que permite ao comprador curtir em um site exclusivo faixas-bônus e conteúdos exclusivos como vídeos, livreto digital, imagens etc. Ah se todo grupo/artista pop tivesse o capricho desta banda na hora de gravar…

Closure- Maroon 5:

CD Dorival reúne craques da música em show no Sesc-SP

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Por Fabian Chacur

O CD Dorival chama de cara a atenção do público pelo timaço de músicos que o assinam. Estão no projeto Rodolfo Stroeter (contrabaixo), André Mehmari (piano), Tutty Moreno (bateria) e Nailor “Proveta” Azevedo (clarinete e sax). Eles mostram o repertório desse álbum em São Paulo neste sábado (13) às 21h e domingo (14) às 18h no teatro do Sesc Pompeia (rua Clélia, nº 93- Pompeia- fone 0xx11-3871-7700), com ingressos de R$ 9,00 a R$ 30,00.

Embora envolva quatro músicos brasileiros, o álbum teve como local de gravação o Rainbow Studio, situado na cidade de Oslo, na Noruega. O repertório, como o título entrega logo de cara, traz composições do saudoso e genial Dorival Caymmi (1914-2008), um dos mais geniais e influentes nomes da história da nossa música popular.

São dez faixas no total, sendo que uma delas, a Suite Caymmi, reúne em pot-pourry Morena do Mar, Dois de Fevereiro e Milagre. Também temos maravilhas do porte de Dora, João Valentão, Só Louco e Samba da Minha Terra, tocadas com arranjos criativos e dando espaços para que cada músico mostre o seu talento, sem cair em exibicionismos inúteis e chatos. Aqui, é música instrumental do mais alto quilate.

O espaço aqui é curto para um currículo de fato desses músicos. Resuminho: Tutty Moreno é o sólido parceiro musical da genial Joyce Moreno; Rodolfo Stroeter é criador do grupo Pau Brasil, e também dono do selo de mesmo nome, responsável pelo lançamento de Dorival; Nailor “Proveta” Azevedo já tocou com Deus e o mundo, enquanto André Mehmari é considerado um dos melhores pianistas do mundo.

Dorival(CD na íntegra em streaming):

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