Por Fabian Chacur

Acaba de chegar às lojas brasileiras A Reality Tour. Trata-se de um CD duplo de David Bowie gravado ao vivo em shows realizados em 22 e 23 de novembro de 2003 em Dublin, Irlanda, durante a turnê que divulgava o álbum Reality(2003).

Como esse mesmo material foi lançado em 2004 no formato DVD, fica a pergunta: porque só agora esse registro sai em CD? Não há uma resposta oficial, mas dá para se especular um pouco.

Desde que sofreu o que ele definiu como um “pequeno ataque cardíaco”, em 2004, Bowie deu uma desacelarada em sua até então sempre agitada carreira. Seu mais recente álbum de estúdio continua sendo Reality.

Nesses anos todos, ele fez um ou outro show, participou de apresentações de amigos como David Gilmour (duas músicas, Confortably Numb e Arnold Layne, entraram no DVD do guitarrista do Pink Floyd) e o grupo Arcade Fire e, pasme, fez vocais de apoio em faixas em CD da atriz Scarlett Johansson.

Ou seja, nada leva a crer que em um futuro próximo teremos um trabalho novo desse genial cantor, compositor e músico britânico nascido em 8 de janeiro de 1947. Logo, qualquer novo registro deve ser saudado com alegria.

Mesmo se esse registro for extraído de um DVD já disponível há tanto tempo. Mas não dá para negar: são duas mídias totalmente diferentes. Uma necessita de toda a nossa atenção, especialmente a visual. A outra, só ouvidos treinados e sensíveis.

Encarando dessa forma, A Reality Tour, o álbum duplo, é impecável.

A banda que o acompanha, por exemplo,  é esplêndida, com destaque para o pianista Mike Garson (o mesmo que gravou o alucinado solo da gravação original de Alladin Sane), Earl Slick (que tocou com ele nos anos 70) e Gail Ann Dorsey (aquela adorável baixista e vocalista negra e carequinha que veio com ele ao Brasil em 1997).

Nunca dormindo nos próprios louros, Bowie escolheu para essa tour um repertório de 33 faixas que inclui desde canções clássicas dos anos 70 como Changes, The Man Who Sold The World e Fame como generosas porções dos até agora mais recentes CDs de estúdio, Heathen (2002) e o já citado Reality.

A mistura mostra como a obra do autor de Heroes conta com pepitas de ouro sonoras em todas, rigorosamente todas as suas fases, mesmo as menos felizes, como a dos anos 80.

Compare, por exemplo, Changes, do início dos anos 70, com a reflexiva (e com solo jazzístico de Mike Garson)Bring Me The Disco King, de Reality, ou outra do mesmo álbum, o rockão New Killer Star, com a estupenda e também setentista Rebel Rebel. A qualidade é a mesma!

A voz do mestre se mostra ótima, mesmo com algumas músicas tendo sido arranjadas em tons mais baixos do que o das gravações originais, sem no entanto prejudicar a beleza e a energia das mesmas.

Além de belíssima embalagem digipack e encarte colorido, o CD tras três faixas (Fall Dog Bombs The Moon, Breaking Glass e China Girl) não incluídas no DVD.

A Reality Tour, o CD duplo, é para muito artista metido a besta ouvir e se morder de inveja. Não é qualquer cara que em mais de 40 anos de carreira consegue manter ativa uma carreira tão produtiva e consistente como David Bowie. Tomara que esse mestre nos ofereça mais coisas boas!