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Por Fabian Chacur

Com seu segundo álbum, Surrealistic Pillow (leia sobre ele aqui), que atingiu o 3º posto na parada americana e gerou os megahits Somebody To Love e White Rabbit, o Jefferson Airplane chegou ao primeiro escalão do rock americano, nos primeiros meses de 1967. O rock oriundo de San Francisco, Califórnia (EUA) ganhava a preferência dos fãs do gênero.

Fazer sucesso não é fácil, mas mantê-lo equivale a tarefa ainda mais difícil. Para conseguir tal feito, muitos recorrem à repetição de fórmulas, com medo de errar. No caso do Airplane, eles simplesmente ignoraram quaisquer tipos de receios, e mergulharam de cabeça no que pensavam ser o caminho mais certo para a sua trajetória artística. Se o público entendesse, muito bem. Senão, a vida seguiria em frente. E foi exatamente o que eles fizeram.

O grupo americano surgiu em 1965 como um combo de folk rock, trazendo também elementos de country, blues e pop. Esse script apareceu com força no primeiro álbum deles, Jefferson Airplane Takes Off (1966). Com a saída da cantora Signe Anderson e do baterista Skip Spence e as respectivas entradas de Grace Slick e Spencer Dryden para substitui-los durante o processo de criação de Surrealistic Pillow, as coisas mudariam de forma.

Em Pillow, com Slick e Dryden ainda se entrosando com o time, temos um trabalho de transição, com o folk rock ainda se mostrando predominante e com canções em formatos mais concisos. Mas a psicodelia entrava em cena, com seus efeitos de gravação, acordes diferentes e variações no andamento nas canções. Era questão de tempo que, se tivesse coragem, esse grupo investisse em uma sonoridade ainda mais ousada e fugindo de quaisquer amarras estilísticas. Não deu outra.

Com influências jazzísticas e muito mais experiente do que seu antecessor (Skip Spence, que, na verdade, nem baterista era, tanto que saiu para montar sua própria banda, a Moby Grape, empunhando a guitarra, cantando e compondo), Dryden se entrosou feito luva com os também criativos Jorma Kaukonen (guitarra-solo) e Jack Casady (baixo). A sólida guitarra-base de Paul Kantner e o eventual piano de Grace completavam o time com perfeição.

Curiosamente, a proposta mais ousada da banda não deve ter calado fundo no vocalista Marty Balin, pois ele, mais próximo de um formato convencional (embora ótimo) de compor, assina apenas uma das músicas do álbum, Young Girl Sunday Blues. Prevalecem neste setor Paul Kantner e Grace Slick, com a trinca Kaukonen/Casady/Dryden tomando a liderança nos momentos instrumentais.

After Bathing At Baxter’s saiu no final de 1967 e equivale ao trabalho mais psicodélico e inesperado da discografia do JA. Seu repertório se divide em cinco suítes, sendo uma das sementes para o que viria a ser o rock progressivo posteriormente.

O álbum abre com Streetmasse, dividida em três “movimentos”, digamos assim: o vibrante rock The Ballad Of You & Me & Pooneil, com direito a vocalizações incisivas, a absolutamente experimental e repleta de efeitos e momentos dignos de música concreta A Small Package Of Value Will Come To You, Shortly, e a apaixonada Young Girl Sunday Blues, único momento de vocal solo de Marty Balin.

The War Is Over traz duas partes. Martha é uma envolvente mistura de rock, latinidade e, pasmem, bossa nova, com um tempero psicodélico contido nos solos hipnóticos de Jorma. Wild Time completa a “suíte” com um pique roqueiro incendiário e vocais incisivos.

Hymn To An Older Generation nos oferece duas canções bem distintas entre si. The Last Wall Of The Castle é um rock mais convencional que caberia perfeitamente em Surrealistic Pillow. Já Rejoyce figura entre os momentos mais intensos e sofisticados de Grace Slick, com direito a variações rítmicas que vão de valsa ao jazz, melodia intrincada e letra inspirada no célebre poeta James Joyce.

Com o nome How Suite It Is, entram em cena o delicioso rock Watch Her Ride, no qual a voz de Paul Kantner se destaca, e a instrumental e absolutamente psicodélica Spare Chaynge, na qual durante mais de 9 minutos Dryden, Casady e Kaukonen demonstram sua capacidade como músicos, em uma verdadeira odisseia psicodélica das mais viajantes.

Intitulada Shizoforest Love Suite, a parte final do álbum nos traz outra canção fantástica de Grace Slick, Two Heads, que recicla com muita habilidade o clima oriental de White Rabitt rumo a outros rumos, e se encerra com Won’t You Try/Saturday Afternoon, com suas vocalizações cruzadas de forma aliciante e uma letra no melhor estilo flower power, uma das obras-primas de Paul Kantner.

Embora tenha algumas canções que podem ser ouvidas fora de seu contexto original, After Bathing At Baxter’s funciona melhor quando ouvido do começo ao fim, como se fosse uma verdadeira sinfonia psicodélica roqueira. Mesmo em um momento no qual o público parecia mais aberto a novidades musicais, o álbum não passou do número 17 na parada ianque, vendendo bem menos do que seu badalado antecessor.

No entanto, tornou-se um dos pontos mais altos do rock psicodélico, provando que, sim, vale a pena arriscar, mesmo que isso possa causar algum prejuízo financeiro, que a banda americana recuperaria pouco depois, com sobras. Mas isso a gente conta depois…

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