Agnaldo-Timoteo

Por Fabian Chacur

Tive a oportunidade de participar de uma entrevista coletiva de Agnaldo Timóteo lá pelos idos de 2006, e o achei, pessoalmente, bem mais simpático do que em suas aparições na TV. Ele não tinha medo de falar o que pensava, mesmo que pagasse caro por isso, e dessa forma ganhou inimizades e antipatia. Mas aparentemente nunca traiu suas convicções, o que é algo a se elogiar. Ele nos deixou neste sábado (3) aos 84 anos, no Rio de Janeiro, mais uma vítima do novo coronavírus, após ter ficado internado por 17 dias. Grande perda para a nossa música.

Nascido em Caratinga (MG) em 16 de outubro de 1936, Timóteo desde sempre se mostrou um fiel seguidor da escola de cantores românticos de vozeirão do tipo Nelson Gonçalves, Orlando Silva e Francisco Alves, e não se deixou influenciar pela bossa nova ou outros gêneros musicais do tipo mais contido. Antes de gravar seu 1º disco, em 1961, ganhou a vida do jeito que dava, tendo sido, inclusive, motorista da cantora Angela Maria, que não só o incentivou a seguir a carreira artística como, posteriormente, fez show e gravou com ele.

O primeiro sucesso veio em 1965 com A Casa do Sol Nascente, versão em português para The House Of The Rising Sun, que tornou o grupo britânico The Animals conhecido no mundo todo. Em 1967, invadiu as paradas de sucesso com Meu Grito, do amigo Roberto Carlos, que ele conheceu antes do artista virar o Rei. Os Brutos Também Amam, já nos anos 1970, foi outro hit que ele ganhou do autor de Detalhes.

Além de versões e algumas canções de sua autoria, entre as quais a corajosa e polêmica A Galeria do Amor, ele também gravou autores badalados, como Chico Buarque (Olhos nos Olhos) e Gonzaguinha. Deste último, ele gravou Grito de Alerta, que na verdade o compositor escreveu inspirado em conversas que teve com Timóteo. O cantor mineiro explicou essa curiosa situação em um depoimento publicado no livro Gonzaguinha e Gonzagão- Uma História Brasileira, de Regina Echeverria (2006- Ediouro):

“Eu fiquei pau da vida com o Gonzaguinha porque aquela história era minha, eu deveria ter sido até parceiro dele na música. Eu falei: puta que pariu,m Gonzaguinha, então eu te conto uma história da minha cama e você dá a música para a Bethânia gravar?”, comentou sobre o fato de Maria Bethânia ter tido a chance de gravar em primeira mão essa canção, que fez muito sucesso em 1980.

Em 1982, quando seu sucesso comercial começava a decair, ele se candidatou a deputado federal pelo Rio de Janeiro, e foi eleito. Tinha início o seu envolvimento com a política, que lhe rendeu alguns mandatos no Rio e também em São Paulo, mas que lhe trouxe grandes antipatias por causa de suas posições conservadoras e por vezes difíceis de se entender por serem de alguém de origem tão modesta em termos financeiros.

Mesmo assim, manteve-se gravando discos e fazendo shows durante esses anos todos. Timóteo, inclusive, chegou a vender seus CDs lançados de forma independente em praças públicas, em momentos mais complicados de sua trajetória. Mas o vozeirão nunca o traiu, como podemos ver em uma live feita por ele em janeiro com fins beneficentes, nas quais o sujeito solta a voz com a categoria habitual.

Meu Grito– Agnaldo Timóteo: