foto luis martins 4 - creditos Hermes Fotografia-400x

Por Fabian Chacur

O ano de 2020 foi certamente um dos mais difíceis das últimas décadas, especialmente para a classe artística em todas as suas áreas. Mesmo com esse panorama cinzento à sua frente, o cantor, compositor e arranjador baiano Luís Martins não abriu mão de realizar seu novo projeto. Trata-se do álbum audiovisual Sonho Live, lançado pela sua produtora Arroz de Hauçá e disponível nas plataformas digitais.

O trabalho foi gravado ao vivo, sem plateia, no dia 26 de agosto de 2020 no Armazém Hall, situado em Lauro de Freitas, Bahia. No palco, além de Luís Martins, uma banda afiadíssima, composta por Álvaro Pinho (backing vocals), André Almeida (violão), Davi Brito (sopros), Fabrício Cyem (baixo), Fabrício Veloso (percussão), Gel Barbosa (acordeom), Rafael Santana (percussão), Ricardo Sibalde (sopros), Tiago Lourenço (piano) e Wil Wagner (bateria).

Esse timaço, extremamente bem ensaiado, dá um forte embasamento para que o protagonista do evento possa atuar de forma desenvolta. Luís tem aquilo que os críticos musicais das antigas chamavam de “malemolência”, ou seja, aproveita-se com muito swing e jogo de cintura de uma extensão limitada de voz, que ele, no entanto, utiliza com uma maestria digna de um Moraes Moreira, por exemplo, embora com o seu estilo próprio.

O repertório de 20 faixas de Sonho Live traz canções dos dois trabalhos de áudio lançados anteriormente pelo artista baiano, Sou Músico (2018) e Seis Meses (2019), mescladas com novidades autorais e também releituras de clássicos de Chico Buarque e Caetano Veloso, entre outros.

Luís é um excelente compositor, com letras sempre muito bem concatenadas aliadas a uma mistura musical que inclui samba, bossa nova e baião, com um tempero eventual de blues. A produção e direção musical de André Almeida é precisa, no sentido de dar a essas ótimas canções a roupagem adequada.

Em termos visuais, a edição de imagens é sóbria e extremamente eficiente, captando bem a movimentação dos músicos e também aproveitando a utilização de um telão ao fundo do palco que serve como um cenário muito bacana, destacando-se bastante em alguns momentos específicos.

Luís Martins faz algumas belas homenagens em suas composições. A Bahia é o foco em Praia do Forte e Salvador do Agogô, enquanto Luiz Gonzaga (O Rei Pop), Dona Canô (Dona do Amor) e Irmã Dulce (Anjo Bom) são os outros objetos de culto por parte do autor.

Se consegue se incumbir bem do ofício de interpretar suas obras, Luís também não se sai mal no repertório alheio, swingando com categoria em clássicos do porte de Homenagem ao Malandro (Chico Buarque), Reconvexo (Caetano Veloso) e o pot-pourry Mambembe/Sou Eu (Chico Buarque/ Chico Buarque e Ivan Lins).

Sonho Live também é uma boa amostra do poder de fogo da produtora Arroz de Hauçá, criada em Salvador (BA) em 2018 e agora sediada em São Paulo. A organização tem estrutura acústica e acervo completo de instrumentos musicais para ensaios e shows, além de um núcleo de editoração e de comunicação para produzir e editar conteúdos audiovisuais.

Ouça e veja Sonho Live, de Luis Martins, em streaming: