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Por Fabian Chacur

Em uma sexta-feira do mês de março de 2010, cheguei em minha casa após um dia duro de trabalho, abri a porta e me deparei com uma cena inesperada. Minha esposa, Virgínia, estava com um cãozinho novo no colo, cercada pelos nossos dois outros pets, Jack e Kelly, provavelmente tão surpresos como eu. “Mais um cachorro?”, foi a minha expressão, naquele momento. Afinal, cuidar de dois era prazeroso, mas difícil. Imagine de três…

A ideia era ficar com ele só no final de semana, e depois tentar encontrar alguém para adotá-lo. A minha ideia, pelo menos. Só que, naquelas 48 horas, aquela bolinha de pelos pretos, com adoráveis patinhas brancas, tomou conta do meu coração. “Quer saber? Vamos adotá-lo, seja o que Deus quiser”. Surgia um novo integrante na família Almeida Prado Chacur. Que em pouco tempo conquistou seu espaço no coração de seus donos, quer dizer, pais.

Virgínia se recusava a chama-lo de cachorro. “Ele não é um cachorro, é uma pessoinha”, disse, pela primeira vez, poucos dias após o novo morador daquela casa na Vila Gomes, em São Paulo, ter literalmente tomado conta do pedaço. Dormia na nossa cama, esbanjava carinho, era amoroso de uma forma simplesmente deliciosa. Capaz de perceber quando seus papais adotivos estavam tristes e precisando de um afago mais caprichado, uma lambida, um carinho.

Foram seis anos e alguns meses, repletos de boas lembranças. Da comida de envelopinho que ele comia com gosto, mas que eu precisava dar fazendo toda uma encenação para que, enfim, ele se dignasse a mastigar. Com as salsichas do jantar era muito mais fácil, obviamente… Ozzy, o nome, foi sugerido por alguém do trabalho da Virgínia, por associação aos nomes Jack e Kelly, e também pelo fato de ela ser fã incondicional do vocalista do Black Sabbath.

Pois a única certeza existente na vida é o seu fim. E o encerramento dessa parceria maravilhosa entre eu, Virgínia e Ozzy se encerrou nesse desde já lamentável 6 de julho de 2016. E de forma trágica. Nós, que tanto cuidávamos e tanto ficávamos atentos a ele, não conseguimos impedir que ele fosse atropelado por um carro, na noite desta quarta (6). E um ser que só nos trouxe alegria enfim nos fez chorar. Choro que está prosseguindo nessas últimas horas, e que não irá parar tão cedo.

Sou calejado nessa história de perdas, pois minha mãe, meu pai e meu irmão me deixaram em um espaço de menos de três anos, entre 1996 e 1999, sendo que entre meu pai e meu irmão, foram só três meses. A lista vai longe, algo natural para quem tem 54 anos de idade, como eu. Mas essa perda agora dói demais, especialmente pelo fato de não ter sido por causas naturais. A gente fica se culpando o tempo todo, sendo que, como diriam os árabes em sua bela filosofia, “maktub” (estava escrito).

Essa dor imensa que nesse momento me toma nunca irá passar, como não passou a da perda dos meus entes queridos e mesmo do meu amado cão Yuri (1991-2004), outro anjo de patas que passou pela minha vida. A gente apenas aprende a lidar com ela. Só isso. Pois a vida segue em frente, quer a gente queira, quer não. Ozzy, obrigado por tudo, meu parceirinho, meu lobinho, meu amor. Que Deus tenha reservado projetos lindos para você. E obrigado por ter existido. Você foi um sonho lindo, do qual acordei nesse triste 6 de julho….

obs.: escrevi vários textos como esse aqui com ele no meu colo. O do A Cor do Som publicado neste blog foi o último deles…

Tears In Heaven– Eric Clapton:


In My Life– Ozzy Osbourne:

Canção da América– Milton Nascimento: