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Por Fabian Chacur

Zé Luiz Mazziotti já possuía um belo currículo como cantor, compositor e músico em 1992, quando resolveu ir à Itália para rever amigos. Um deles, Cesare Benvenutti, que produziu seu disco de estreia, o convidou a experimentar um novo equipamento de seu estúdio, gravando algumas canções do songbook da melhor MPB. O resultado ficou engavetado nos últimos 27 anos, mas finalmente vem à tona no álbum A Roma, que a gravadora Kuarup acaba de lançar em CD e nas plataformas digitais. Valeu (e como!) tanta espera.

O repertório do álbum traz 14 faixas, incluindo uma da lavra do próprio Zé Luiz, a deliciosa Amor ao Ofício, parceria com o poeta Sergio Natureza (parceiro de Tunai e inúmeros outros nomes bacanas da nossa música). A seleção denota um bom gosto irrepreensível, com canções de Gilberto Gil, Chico Buarque, Edu Lobo, Tom Jobim, Toquinho, Paulinho da Viola, Aldyr Blanc, Joyce Moreno, Moacyr Luz, Ivan Lins, Vitor Martins e outros do mesmo alto gabarito.

O conceito de A Roma é violão e voz sem penduricalhos, exceto rápidas vocalizações a la Os Cariocas na faixa de abertura, o sambossa Mar de Copacabana (Gilberto Gil). Dessa forma, a voz de Zé Luiz fica bastante exposta, algo simplesmente maravilhoso. Afinal de contas, estamos diante de um verdadeiro estilista, sujeito que toma conta de cada canção que interpreta e a torna sua, com um timbre aveludado que envolve e delicia o ouvinte.

Se a qualidade vocal dessas gravações já bastaria para recomendar a audição deste álbum, a performance de Mazziotti como violonista é estupenda, com direito a acompanhamento preciso, diálogos envolventes com a voz e um preenchimento de espaços absolutamente perfeito.

Uma parceria delicada, sofisticada, que no entanto será capaz de ganhar os ouvidos de quaisquer fãs de música popular, independente da área. Aqui, elaboração não significa chatice ou arrogância estética, e, sim, beleza pura.

Na Boca da Noite (Toquinho e Paulo Vanzolini), Receita de Samba (Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro), Anos Dourados (Tom Jobim e Chico Buarque) e Choro Bandido (Chico Buarque e Edu Lobo) são destaques de um álbum que, na verdade, merece ser destacado como um todo.

Em seu inspirado texto incluído no encarte de A Roma, Zuza Homem de Mello recomenda esse trabalho a quem estiver precisando de música. Eu acrescento: música para lavar a minha, a sua, as nossas almas, hoje e sempre.

Anos Dourados– Zé Luiz Mazziotti: