amy cartaz do filme 2015-400x

Por Fabian Chacur

O início do documentário Amy, de Asif Kapadia, mostra cenas caseiras de uma então adolescente Amy Winehouse brincando com as amigas e se deliciando com um pirulito daqueles redondos. Aquela ingenuidade permearia toda a curta trajetória dessa grande cantora, que nos deixou de forma prematura. O filme será exibido em São Paulo em sessões exclusivas na Rede Cinemark, e é absolutamente essencial para os fãs de boa música pop, jazz etc. Traz o making of de uma estrela trágica sem rodeios.

Miss Winehouse é de uma era na qual a documentação de cenas caseiras tornou-se rotineira até para famílias de classe média baixa. Então, o diretor teve acesso a um material dos mais ricos, que soube aproveitar com maestria, dando vida a uma viagem intensa e nem sempre muito agradável pelos 27 anos de vida da cantora, compositora e musicista.

Além de reveladores filmes caseiros, também temos material extraído das entrevistas concedidas pela autora e intérprete de Rehab para programas de rádio e TV, nas quais sempre se mostrava direta, aberta e sem frescuras, embora em alguns momentos aparentasse ser vítima do uso excessivo de drogas, não falando coisa com coisa.

A incrível beleza e força de sua voz se mostrava desde criança, e progrediu a ponto de simplesmente encantar os dirigentes da gravadora Universal, quando ela foi contratada em 2003. No ano seguinte, lançou o álbum Frank, trabalho que a tornou extremamente badalada no Reino Unido e Europa, criando um clima de atenção em cima dela.

Seu envolvimento amoroso com Blake Field-Civil, com quem ficou casada durante três anos, ampliou seu envolvimentos com drogas, assim como sua incapacidade de lidar de forma tranquila com as consequências oriundas do sucesso comercial. O filme nos mostra que ela esteve próxima de sair de cena antes mesmo de gravar o álbum que a tornou um estouro mundial.

Felizmente, ou não, Back To Black saiu em 2006, e a partir daí o furacão Amy Winehouse tomou conta do mundo, especialmente dos EUA, onde o CD chegou ao segundo lugar na parada pop e vendeu milhões de cópias. Mais: rendeu a ela cinco troféus Grammy, o Oscar da música, em fevereiro de 2008. O cenário do seu fim precoce estava pronto.

A partir do sucesso de músicas maravilhosas e envolventes como Back To Black (“nossa, que final triste”, comenta ela, após gravar a canção com o produtor Mark Ronson), Rehab (tirando sarro dela mesma ter tentado uma internação para se curar dos efeitos gerados pelas drogas, sem sucesso) e Tears Dry On Their On, Amy ganhou as manchetes e também a perseguição da mídia e dos papparazzi, especialmente os britânicos.

O documentário flagra algumas dessas perseguições, e se chega às raias do insuportável para quem as vê na tela, imagine para a protagonista daqueles ataques à privacidade. Temos a cantora em alguns momentos peitando fotógrafos que a atingiram fisicamente, empolgados para ter registros escandalosos. Pior: a mídia ajudou a transformá-la em alvo de piadas cruéis e politicamente incorretas até a medula.

Era difícil para Amy para aguentar. Para onde olhasse, só tinha “amigos do alheio” ao seu redor. De um lado, fãs do tipo “olha lá, que legal, ela é muito doida”, similares a alguns que seguiram Raul Seixas e o curtiram pelas razões erradas. Do outro, gente a ridicularizando, como se ela fizesse aquelas presepadas por querer, e não por estar doente.

Para piorar, tinha a seu lado (a seu lado?) um pai, Mitchell, que sempre se preocupou apenas com o que a filha poderia lhe render em termos financeiros, sendo capaz de invadir por várias vezes um recanto em que a estrela tentava se refugiar do mundo hostil levando a tiracolo uma equipe de filmagem no melhor estilo “reality show picareta” para botar tudo no ar. O horror! Joe Jackson teve um “bom” seguidor, pelo visto…

Em meio a tudo isso, temos também a chance de ouvir ela mostrando seu imenso talento em interpretações de alguns de seus grandes hits, covers bacanas e mesmo o registro de seu encontro com o ídolo Tony Bennett, já perto do fim de sua curta vida, quando o mestre do jazz esbanja generosidade e paciência para com ela, que no fim arrasa em dueto com ele no standard Body And Soul, infelizmente lançado só quando a moça já não estava mais entre nós.

Amy (o documentário) pega leve com sua triste morte, apenas mostrando a remoção de seu corpo (devidamente coberto) e com algumas reações de fãs. As entrevistas com figuras fundamentais em sua trajetória, como os produtores, músicos e amigos, também nos ajuda a entender essa vida tão conturbada. A música incidental, a cargo de Antônio Pinto, é sublime, especialmente o tema tocado na parte dedicada à morte de Amy. De arrepiar!

Está previsto para 2 de novembro (no exterior, ao menos) o lançamento de Amy em DVD e Blu-ray, e também de uma trilha sonora incluindo gravações inéditas da intérprete-compositora e também as faixas feitas por Antônio Pinto. Desde já, podem ser considerados como objetos de desejo para o Natal de 2015. E, quatro anos após sua morte. a música de Amy Winehouse continua arrepiando, sinal de que veio para ficar.

Trailer do filme Amy:

Amy com Mark Ronson no estúdio, cena do filme Amy:

Tears Dry On Their Own– Amy Winehouse (clipe):