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Antonio Adolfo mergulha no universo sonoro do Bituca

antonio adolfo bruma capa-400x

Por Fabian Chacur

Com mais de 50 anos de estrada, Antonio Adolfo é uma espécie de músico-vinho, pois parece ficar melhor a cada ano. Pianista, compositor e arranjador com um extenso currículo (leia mais sobre ele aqui), nos últimos anos se tornou ainda mais produtivo, lançando novos álbuns em intervalos cada vez menores. E um melhor do que o outro. O mais recente é o sublime BruMa Celebrating Milton Nascimento, lançado em CD e nas plataformas digitais.

Desta vez, o músico carioca de 73 anos optou por mergulhar no universo musical de Milton Nascimento, que ele conheceu ainda em 1967, quando o Bituca de Três Pontas tornou-se conhecido nacionalmente ao participar com destaque do 2º Festival Internacional da Canção (FIC). Do songbook generoso e repleto de momentos geniais do astro nascido no Rio e criado em Minas Gerais, selecionou nove pérolas lançadas originalmente entre 1967 e 2002.

A obra de Milton traz como marca registrada uma fusão originalíssima das várias vertentes da música popular brasileira com rock, jazz, soul e ainda mais, com uma originalidade ímpar. Nos anos 1980, por exemplo, o curador de um festival de música precisava dar um rótulo para cada artista que participaria do evento. Quando chegou a vez do nosso astro, não teve dúvida ao denominar o estilo daquele artista brasileiro como “Milton”. Bem isso.

Consciente de tal fato, Adolfo soube explorar o rico universo melódico e harmônico do artista abordado, ampliando de forma criativa e bem concatenada caminhos sugeridos por algumas daquelas canções, tornando-as peças instrumentais únicas que, no entanto, mantém de forma elogiável o DNA original concebido pelos autores. Você as ouve, curte e muito a nova roupagem, mas reconhece cada uma delas, algo nada fácil de se realizar.

Antonio Adolfo é um pianista sublime, com aquele toque delicado e swingado nas teclas que sempre explora timbres personalizados e envolventes. Como arranjador, o cara é um mestre de primeira grandeza, sabendo como poucos organizar os instrumentos participantes e dando a eles funções principais e acessórias com um cuidado digno de um ourives musical. As partes de metais, por exemplo, são sempre encantadoras.

Generoso, ele sabe abrir espaços para seus acompanhantes, enquanto dá um show no seu instrumento. O time escalado para seus álbuns é invariavelmente estrelado, e este aqui tem como destaques os fantásticos Jessé Sadoc (flugelhorn e trumpete), Jorge Helder (contrabaixo), Marcelo Martins (sax tenor e flauta), Cláudio Spiewak (guitarra e violão) e Rafael Barata (bateria), esbanjando técnica e sensibilidade como poucos.

A roupagem estilo jazz brasileiro dada a Fé Cega, Faca Amolada, a pegada percussiva de Caxangá e o clima intimista imprimido a Cais e Encontros e Despedidas são bons exemplo do bom gosto de Antonio Adolfo na exploração da musicalidade da obra do nosso querido Bituca. BruMa, cujo título é uma homenagem a Brumadinho e Mariana, tem tudo para agradar desde os fãs de música mais sofisticada até aqueles que curtem uma trilha sonora agradável como pano de fundo sonoro. Easy Listening? Lovely Listening, isso, sim!

Ouça BruMa Celebrating Milton Nascimento em streaming:

Com Vida traz a versatilidade do talentoso Keco Brandão

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Por Fabian Chacur

Se eu me metesse a colocar o currículo completo de Keco Brandão neste post, certamente preencheria dezenas de linhas muito antes de conseguir falar algo sobre ele. Com 30 anos de estrada, este gaúcho que morou no Rio e está radicado há muito em São Paulo esbanja versatilidade em seu novo trabalho, o DVD/CD (vendidos juntos em luxuosa embalagem digipack) Com Vida, no qual este tecladista, arranjador, compositor e cantor conta com participações especiais de alguns desses parceiros ilustres de tantos anos.

Nessas três décadas de atividade, Keco gravou mais de dez CDs solo instrumentais investindo em diversos estilos musicais. Ele participou de gravações e shows de artistas do porte de Gal Costa, Jane Duboc, Zizi Possi, Pedro Mariano, Leila Pinheiro, Toquinho, Célia, Roberta Miranda e Ângela Maria, só para citar alguns, além de ter atuado na área de jingles e trilhas publicitárias e também em programas de TV.

Incentivado inicialmente por Jane Duboc e depois por Gal Costa, ele acrescentou o canto a suas atividades. Seguindo a sugestão do amigo Flávio Venturini, decidiu iniciar um projeto composto só por canções. Na Contramão, composição feita por ele com a cantora Denise Mello, tornou-se o primeiro fruto do que viria a ser Com Vida. As gravações em áudio e vídeo foram de outubro de 2015 a janeiro de 2017.

O álbum traz 15 músicas: sete de autoria de Keco com vários parceiros/parceiras (uma solo) e oito de autores que admira, como Ivan Lins, Lyle Mays, Pedro Aznar, Johnny Alf e Joaquin Rodrigo. Marcam presença no CD Simone Guimarães (três faixas), Tatiana Parra (duas faixas), Sachal Vasandani (duas faixas), Ivan Lins, Zizi Possi, Fabiana Cozza, Felipe Cato, Denise Mello, Sueli Vargas e Heitor Branquinho.

Pela primeira vez em sua carreira, o artista gravou vocais, sendo uma dobradinha com Simone Guimarães (Aranjuez Con Tu Amor), vocalizes com Ivan Lins (Encontro dos Rios) e uma performance vocal solo e em castelhano (Emília). Nelas, Keco prova que, se por ventura quiser gravar um álbum como vocalista principal, tem tudo para passar com nota alta por essa experiência, tal a desenvoltura que mostra.

Os arranjos das faixas de Com Vida dão roupagens belas e sofisticadas a cada canção, em um repertório que prima pela qualidade de suas melodias e por um clima romântico, lírico e próximo de baladas, embora tenhamos momentos de funk-jazz, latinidade, samba e bossa. Os convidados mostram nítida admiração pelo trabalho de Keco, e se submetem a seu comando de corpo e alma. O resultado é um disco delicioso de se ouvir, do começo ao fim.

Difícil citar melhores faixas em um repertório tão bem escolhido e trabalhado, mas, só para não ficar demais em cima do muro, vale citar Timidez (com Tatiana Parra nos vocais), Cura (um banho de swing de Fabiana Cozza) e Sweet Bird Of Youth (versão em inglês para Eu e a Brisa, de Johnny Alf, que o americano Sachal Vasandani interpreta com rara finesse). Mas recomendo a você ouvir e fazer suas próprias escolhas.

Incrível a versatilidade de Keco Brandão, que se mostra craque como arranjador, vocalista, compositor e pianista. Um exímio acompanhante de cantores, por sinal. Ele admite a possibilidade de novos trabalhos nessa linha, pois muitos amigos acabaram ficando de fora. Se for feito com a qualidade deste aqui, que venham muitos outros mesmo.

Timidez– Tatiana Parra e Keco Brandão:

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