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Por Fabian Chacur

Há 20 anos, a cantora mineira radicada em Goiânia (GO) Nila Branco lançava o seu autointitulado primeiro álbum. Manteve-se na ativa em tempo integral até 2006, quando problemas particulares a fizeram levar a carreira de forma um pouco mais espaçada, embora não a abandonasse. De uns anos para cá, no entanto, ela retomou o foco total na música, e vai batalhando para retomar a atenção do público. Se depender da qualidade artística de seu novo CD, Azul Anil, conseguirá seu intento sem dificuldades.

Com uma voz deliciosa de timbre grave que tem afinidades com a de Zélia Duncan, Nila conseguiu emplacar músicas em trilhas de novelas da Globo, SBT e Record. No seu currículo, constam seis CDs (incluindo o novo) e três DVDs. Ela compõe, mas abre generosos espaços para outros compositores, e investe em uma sonoridade que mistura rock, folk, country e MPB com direito a melodias bacanas e letras românticas sem cair na banalidade ou redundância de viés comercial.

Azul Anil inclui 11 canções, sendo apenas uma (Com Açúcar, Sem Engano) assinada por ela, em parceria com Marcelo Dinelza. Temos faixas escolhidas a dedo escritas por compositores como Roberta Campos, Karine Bizinoto, Samuel Fujimoto, Beto Marcio, Maura Matiuzzi, Dulce Abreu e Marcelo Dalla, entre outros. Como toda boa intérprete, Nila incorpora cada letra e melodia como se fossem suas, tornando-se uma coautora espiritual delas.

Ouvir este trabalho é um exercício de puro prazer. Se não oferece inovações ou ousadias ao seu ouvinte, a cantora proporciona algo muito melhor, que é a garantia de prazer em cada momento. Acompanhada por excelentes músicos, que dão a ela uma moldura sonora simples e bem consistente, Nila mergulha com fé nas idas e vindas do amor com interpretações que nunca se perdem em exageros ou inconsistências. Um banho de sensibilidade e bom gosto pop.

Não faltam momentos bacanas em Azul Anil. Com Açúcar Sem Engano, Eu Não Sei Mais Ficar Só , Jardim da Vida e Eu Te Amo mereciam se tornar hits massivos, pois cativam os ouvidos de forma quase que instantânea. Como faixa “diferente”, digamos assim, destaca-se Cuidado, com uma interpretação meio falada mezzo rap-mezzo dylaniana com uma letra forte e filosófica com bons conselhos embutidos.

Em um momento no qual o mainstream pop aposta em muita apelação e pouca consistência artística, Nila Branco prefere seguir os conselhos do mestre Paul McCartney, que em 1976 perguntava o que havia de errado em investir em “silly love songs”, que de tolas não tinham rigorosamente nada. Eis exatamente o que essa ótima artista mineiro/goiana nos proporciona. Como reclamar? Prefiro ouvir essa dose intensa de simples beleza musical e me deliciar mais uma vez.

Jardim da Vida– Nila Branco: