Lloyd_Cole 400x

Por Fabian Chacur

Hoje é dia de celebrar o aniversário de 60 anos de Lloyd Cole. O grande cantor, compositor e músico britânico, nobre integrante da “classe de 1961” a qual tenho a honra de pertencer, continua na ativa, sendo seu mais recente álbum Guesswork, lançado em 2019. No entanto, ele é mais lembrado por seu trabalho com a banda Lloyd Cole And Commotions, com a qual lançou três deliciosos álbuns de estúdio entre 1984 e 1989. Como forma de homenageá-lo, eis aqui uma breve bio desse talentosíssimo artista que marcou época.

Lloyd Cole nasceu em Derbyshire, Inglaterra, em 31 de janeiro de 1961. Interessado desde sempre em música, literatura e poesia, ele se mudou para Glasgow (Escócia) em 1982 para estudar filosofia e língua inglesa na universidade local. E foi por lá que iniciou a banda que o tornou famoso internacionalmente, ao lado de Stephen Irvine (bateria), Neil Clark (guitarra e violão), Lawrence Donegan (baixo) e Blair Cowan (teclados), com ele se dedicando ao vocal principal, guitarra, violão e composições.

Em plena era do tecno pop e do pós punk, Cole e seus amigos propunham um retorno a sonoridades mais próximas do folk rock, country e rock básico, com forte dedicação a boas melodias e a letras filosóficas e poéticas enfocando o amor em todos os seus ângulos, especialmente as idas e vindas dos relacionamentos. Isso, com um tempero político, levando-se em conta a militância socialista dos cinco músicos, mas sem nunca cair no panfletarismo.

Em 1984, eles estreiam em disco com Rattlesnakes. E que estreia! Atrevo-me a colocar este como um dos melhores álbuns de estreia de todos os tempos, pois nos apresenta uma banda absolutamente pronta, madura e inspiradíssima, desenvolvendo sua proposta musical com desenvoltura rara. São dez faixas absurdamente boas e diversificadas entre si, e contando com os inspirados arranjos de cordas de Anne Dudley, integrante do grupo Art Of Noise e autora de trilhas incidentais para cinema, entre elas a vencedora do Oscar na categoria feita para o filme Ou Tudo Ou Nada (The Full Monty-1997).

Rattlesnakes é perfeito a partir de sua envolvente faixa-título, com sua mistura de folk e música oriental e vigorosas passagens de cordas. Rock melódico em Perfect Skin, country sacudido em Four Flights Up, lirismo dolorido em Are You Ready To Be Heartbroken, nostalgia em Charlotte Street (que tocava em rádios rock no Brasil), doçura em Forest Fire… Quantas belas músicas juntas!

A repercussão de Rattlesnakes em termos de vendagem foi respeitável, com um 13º posto na parada do Reino Unido. Graças também a suas ótimas performances ao vivo, o grupo criou uma boa expectativa em torno de seu segundo álbum, e Easy Pieces (1985) não decepcionou, atingindo o 5º posto no Reino Unido e vendendo mais rapidamente do que o trabalho anterior.

Tendo um objetivo claro e assumido de atingir um público maior, Easy Pieces traz algumas canções deliciosas, entre as quais a contagiante Lost Weekend, a balançada e otimista Brand New Friend (o momento mais pop da banda, provavelmente), a tocante Cut Me Down e a ótima Perfect Blue. A expectativa era de que o quinteto logo atingisse o primeiro escalão do pop-rock.

A missão de Mainstream (1987) já se mostrava logo no título, e de certa forma cumpriu o seu objetivo. Digo de certa forma porque foi durante as suas gravações, que duraram bem mais do que os trabalhos anteriores, que as coisas se deterioraram entre eles. Blair Cowan saiu da banda antes mesmo que o grupo iniciasse a turnê de divulgação do álbum, que acabaria sendo a última da banda.

A qualidade de Mainstream, que chegou ao 9º lugar no Reino Unido, é das melhores, trazendo faixas poderosas como My Bag, Jennifer She Said e Mr. Malcontent. A cantora Tracey Thorn, integrante de outro grupo icônico daquela época, o Everything But The Girl, marca presença em Big Snake. Uma bela despedida para uma banda que, curiosamente, pouco conseguiu no mercado americano, onde seus discos passaram meio batidos, sendo consumidos apenas pelo público do chamado “college rock”.

O próximo passo de Lloyd Cole foi se mudar de mala e cuia para Nova York. Enquanto participava de uma banda cover de Bob Dylan, preparou o material de seu primeiro disco solo, autointitulado e lançado em 1990. Ao seu lado, novos parceiros, como o guitarrista Robert Quine, conhecido por seu trabalho ao lado de Lou Reed, e Matthew Sweet, figura bem cotado no rock alternativo norte-americano. O resultado foi ótimo, com destaque para a faixa No Blue Skies.

Durante os anos 1990, Cole viu sua popularidade se esvair, embora continuasse ativo e lançando bons trabalhos, entre os quais os álbuns Don’t Get Weird On Me Babe (1991), Bad Vibes (1993) e Love Story (1995), indo desde o folk voz e violão até um rock mais ardido com ecos de Velvet Underground. Nesse período, contou em alguns trabalhos com as participações dos ex-colegas de Commotions Neil Clark e Blair Cowan (este último também em parcerias em novas canções). Cole tocou no Brasil em 1998, sendo o show em São Paulo no extinto Palace.

Em 2001, Lloyd Cole marcou um trabalho de três anos com um novo time de músicos com o lançamento do álbum The Negatives. Trata-se de um CD que completa 20 anos totalmente ignorado pelo grande público, e de forma absurdamente injusta. Nele, o artista retoma a sonoridade do Lloyd Cole And The Commotions com uma inspiração incrível, oferecendo-nos 11 canções comparáveis aos seus clássicos de outrora.

Past Imperfect, Impossible Girl, No More Love Songs, Negative Attitude e a iluminada What’s Wrong With This Picture? mereciam ter entrado com força nas paradas de sucesso de todo o mundo, mas nem passaram perto. Quer fazer um favor a si mesmo? Ouça AGORA este álbum aqui.

Em 2004, como forma de celebrar os 20 anos do lançamento de Rattlesnakes, Lloyd Cole And The Commotions se reuniram para uma curta turnê pelo Reino Unido. Recentemente, foi lançada no exterior a caixa Lloyd Cole And The Commotions- Collected Recordings 1983-1989, trazendo cinco CDs e um DVD com todas as faixas lançadas oficialmente pela banda, mais raridades e material inédito e participações do grupo em programas de TV.

Enquanto Neil Clark e Blair Cowan continuaram eventualmente participando de trabalhos de Lloyd Cole paralelamente a trabalhos próprios, o baterista Stephen Irvine tocou bateria com outros grupos e também foi manager de outros artistas, enquanto Lawrence Donegan virou jornalista e escritor, especializado em golfe.

Ouça o álbum Rattlesnakes em streaming: