odair josé caixa 400x

Por Fabian Chacur

De uns anos para cá, Odair José finalmente passou a ter o respeito que merecia como cantor, compositor e músico. A ponto de a Universal Music lançar no mercado Quatro Tons de Odair José, luxuosa caixa com quatro álbuns inéditos em CD lançados entre 1972 e 1975, sua fase áurea em termos de sucesso comercial. Mas a coisa nem sempre foi assim, caros amigos.

Em 1988, quando entrei no mundo do jornalismo diário como repórter e crítico musical do hoje extinto Diário Popular, ninguém queria saber do cara. Mas eu queria. E sugeri ao meu editor de então, o brilhante Osvaldo Faustino, que fizéssemos uma entrevista com o autor de Pare de Tomar a Pílula. O cara, sempre aberto, deu-me a autorização, e lá fui eu atrás da fera, todo feliz.

Na época, o artista goiano vivia uma fase não muito favorável em sua carreira, e era contratado da gravadora RGE. Liguei para a assessora de lá na época, uma figura simpática chamada Ielda, e fiz o meu pedido para entrevistar o artista dela. A moça ficou uns bons segundos muda, provavelmente sem acreditar no que ouvia. E deu show de bola.

Ela simplesmente trouxe Odair José na redação do Diário, que ficava na rua Major Quedinho, centro de São Paulo. Nem acreditei quando vi a fera ali, na minha frente. A entrevista foi deliciosa, realizada lá pelos idos de 1988, e nela minha admiração por esse artista aumentou ainda mais, por sua simplicidade e honestidade.

Acho que, modéstia à parte, dei sorte a ele, pois não muitos anos depois ele foi redescoberto pelas gravadoras e outros artistas. A partir dos anos 90, Odair começou aos poucos a ser reverenciado, e isso resultou em álbum-tributo de artistas do rock alternativo, disco produzido por Zeca Baleiro e a chance de tocar na íntegra ao vivo na Virada Cultural seu ótimo e polêmico álbum O Filho de José e Maria (1977).

E enfim chegamos à caixa recém-lançada. Sua importância é enorme, pois ela inclui o material que tornou Odair José um dos grandes nomes da música popular, acima da média no gênero. Ele era conhecido em 1972 graças ao sucesso de Eu Vou Tirar Você Desse Lugar, na qual relata sua paixão por uma prostituta. Mas faltava algo a ele. Algo fundamental.

Ele queria se livrar das amarras dos arranjos bregas e travados propostos pela gravadora do Rei Roberto Carlos, a CBS, que só dava liberdade ao autor de Detalhes. Com esse objetivo, ele aceitou a proposta da Polydor, selo popular da gravadora Philips (hoje Universal Music). O presidente da gravadora, o genial André Midani, deu-lhe a liberdade. E nascia um mito.

Falando de temas reais e até então pouco explorados como amores por empregadas domésticas, as restrições trazidas pelo uso da pílula anticoncepcional e as duras separações dos casais, Odair ganhou como moldura instrumental o auxílio de músicos extremamente talentosos, entre eles o trio Azymuth, que se tornaria célebre por seu funk-soul-mpb pouco depois e o soul brother brasileiro Hyldon.

De quebra, Odair buscou inspiração em artistas fora do universo do chamado brega, entre eles Neil Diamond, Paul McCartney, Crosby Stills & Nash, além, é óbvio, do velho mestre Roberto Carlos. O resultado: canções de forte apelo popular, mas ao mesmo tempo com embalagem refinada e repletas de detalhes sofisticados.

Assim Sou Eu… (1972), Odair José (1973), Lembranças (1974) e Odair (1975) são álbuns repletos de músicas legais, tanto os sucessos como outras músicas menos conhecidas, mas tão legais quanto. São discos para se curtir um a um, faixa a faixa, arranjo por arranjo, letra por letra. E a caixa inclui as letras, capas originais e livreto com ótimo texto.

Cristo Quem É Você?, Eu Queria Ser John Lennon, Deixe Essa Vergonha de Lado, Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula), Que Saudade de Você, A Noite Mais Linda Do Mundo (A Felicidade), Dê Um Chega Na Tristeza, é muita música boa. Para quem é preconceituoso em relação a Odair José ouvir e chegar à conclusão de que o cara é um mestre da canção popular.

A Noite Mais Linda do Mundo (Felicidade)– Odair José:

Cadê Você – Odair José: