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Sueli Costa, 79 anos, uma das grandes compositoras do Brasil

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Por Fabian Chacur

Existem compositores que contam com tantos clássicos em seu songbook que fica difícil citar apenas uma ou duas delas para exemplificar uma produção tão impactante. A cantora, compositora e musicista carioca Sueli Costa se encaixa feito luva nessa descrição. Seu rico e intenso repertório foi gravado por Simone, Nana Caymmi, Elis Regina, Gal Costa. Fafá de Belém, Fagner e inúmeros outros. Ela nos deixou neste sábado (4) aos 79 anos.

Nascida no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 25 de julho de 1943, Sueli compôs Balãozinho logo aos 15 anos de idade. Em 1967, teve Por Exemplo: Você (parceria com João Medeiros) gravada por Nara Leão, sua primeira canção a ter registro fonográfico. Seria a primeira de inúmeras outras. Ela escrevia tanto sozinha como com parceiros.

Entre as inúmeras maravilhas escritas por Sueli, vale citar 20 Anos Blue (com Vitor Martins), Jura Secreta (com Abel Silva), Cordilheira (com Paulo Cesar Pinheiro), Primeiro Jornal, Coração Ateu, Altos e Baixos (com Aldir Blanc), Face a Face (com Cacaso), Música Música (com Abel Silva) e Medo de Amar nº 2 (com Tite de Lemos). Só coisas finas.

De quebra, Sueli também era uma excelente intérprete de suas composições, tendo gravados oito álbuns nos quais suas melodias encantadoras e as letras sempre abordando as idas e vindas do amor e da vida eram abordadas com muita classe. Vai deixar muita saudade, e uma obra musical preciosa.

obs.: o livro 1979- O Ano Que Ressignificou a MPB (2022- Garota FM Books)-organizado por Célio Albuquerque, inclui um excelente texto de Andréia Pedroso sobre o álbum Louça Fina (1979), de Sueli Costa, que faz uma bela análise sobre essa grande artista.

Jura Secreta– Sueli Costa:

Elis- Essa Saudade… reúne hits e raridades da saudosa Pimentinha

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Por Fabian Chacur

Elis Regina nos deixou muito cedo, em 19 de janeiro de 1982, aos 36 anos, mas seu legado artístico sobrevive com a mesma relevância dos anos 1960 e 1970. A voz incrível da Pimentinha está presente em Elis- Essa Saudade…, coletânea que a Warner Music Brasil está lançando nas plataformas digitais e também em CD. Com seleção feita pelos jornalistas Danilo Casaletti e Renato Vieira, temos aqui 16 faixas lançadas pela artista quando ela integrou o elenco da Warner, entre 1979 e 1980. O legal é que o repertório oferece algumas raridades bem bacanas.

Pequeno Exilado, por exemplo, marca um dueto de Elis com o grande cantor, compositor e músico gaúcho Raul Ellwanger, lançado há 41 anos em um LP do artista e desde então fora de catálogo. A interpretação deles emociona, pois tem como pano de fundo a ditadura militar e também alguns lugares icônicos de Porto Alegre, cidade natal dos dois. O curioso é que a faixa foi gravada no mesmo dia que a versão original (e menos conhecida) de Alô Alô Marciano, lançada em um compacto simples e apenas agora disponível nas plataformas digitais.

No Céu da Vibração (de Gilberto Gil) e Velho Arvoredo são outras raridades contidas nesta compilação, que também traz versões ao vivo de sucessos marcantes como Madalena, Corsário, Upa Neguinho e Águas de Março e as gravações de estúdio de clássicos como Bolero de Satã (dueto com Cauby Peixoto) e O Bêbado e a Equilibrista e Me Deixas Louca, esta última a sua derradeira gravação, incluída em 1981 na trilha da novela global Brilhante.

Eis as faixas de Elis – Essa Saudade

1) O Bêbado e a Equilibrista
2) Cai Dentro
3) Águas de Março (Ao Vivo)
4) Essa Mulher
5) Bolero de Satã (Com Cauby Peixoto)
6) Upa Neguinho (Ao Vivo)
7) Altos e Baixos
8) As Aparências Enganam
9) Madalena (Ao Vivo)
10) Pequeno Exilado (com Raul Ellwanger)
11) Alô Alô Marciano (versão de compacto inédita nas plataformas digitais)
12) No Céu da Vibração
13) Corsário (Ao Vivo)
14) Velho Arvoredo
15) Me Deixas Louca
16) Aos Nossos Filhos

Pequeno Exilado– Elis Regina e Raul Wellwanger:

Vanusa, 73 anos, a cantora talentosa de personalidade forte

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Por Fabian Chacur

No início dos anos 2000, estava em uma loja de CDs e vi, em um balcão de ofertas, a coletânea Grandes Sucessos, de Vanusa, lançada em 1998 pela gravadora BMG. Quando peguei o disco em minhas mãos e conferi o repertório, lembrei-me de que não tinha um único álbum dela em minha coleção, mesmo amando a sua voz. Nem é preciso dizer que comprei rapidamente esta compilação. Acho que isso ilustra como as polêmicas em torno dela ofuscaram o que ela teve de maior, que era o talento como cantora e compositora. Ela infelizmente nos deixou neste domingo (8), aos 73 anos.

Vanusa Flores Santos nasceu em Cruzeiro (SP) em 22 de setembro de 1947, e foi criada em Uberaba (MG). Sua carreira como cantora teve início com o apoio de Eduardo Araújo e Carlos Imperial, não por acaso os autores do primeiro sucesso da moça, a deliciosa Pra Nunca Mais Chorar, lançada em 1967, nos estertores da Jovem Guarda. Embora tenha tido outros hits pouco depois, o melhor mesmo viria nos anos 1970.

O auge de Vanusa teve o pontapé inicial em 1973 com o sucesso da maravilhosa Manhãs de Setembro, composição dela em parceria com o músico e produtor musical Mario Campanha, o eterno produtor das Irmãs Galvão. Em 1975, fez a gravação definitiva de Paralelas, de Belchior, estouro ao ser incluída na trilha sonora da novela global Duas Vidas.

Com uma voz potente e muito bem colocada, ela logo emplacou outras canções nas paradas de sucesso, como Amigos Novos e Antigos (João Bosco e Aldir Blanc, da trilha de Anjo Mau) e Estado de Fotografia (Malim e Sérgio Sá, da trilha de O Astro), além de uma gravação irresistível de Congênito, de Luiz Melodia. Ela até estrelou uma novela, Cinderela 77, tendo Ronnie Von como o seu par romântico.

Mulher de personalidade forte e de opiniões diretas e sem rodeios, Vanusa foi casada com dois nomes importantes da cena cultural brasileira, o cantor e compositor Antônio Marcos, nos anos 1970, e o diretor e ator Augusto César Vannucci. Curiosamente, ambos morreram no mesmo ano, 1992, e ela nos deixa no exato dia em que seria comemorado o 75º aniversário de Antônio Marcos. E Vanucci nos deixou também no mês de novembro, no dia 30.

A partir dos anos 1980, a artista infelizmente deu uma bela sumida das paradas de sucesso, voltando à mídia apenas por entrevistas apimentadas e problemas particulares. A coisa piorou muito a partir de 2009, quando ela se enrolou toda ao interpretar o Hino Nacional Brasileiro durante uma cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo. Em plena era da internet, o vídeo com o registro desse momento triste viralizou, e as pessoas e a imprensa exploraram esse momento infeliz da cantora de forma cruel.

A única notícia positiva e ligada à música nesses últimos 11 anos ocorreu em 2015, quando a cantora, com o apoio de Zeca Baleiro, lançou o que viria a ser seu último álbum de estúdio, Vanusa Flores Santos. Nos últimos dois anos, Vanusa morou em uma casa de repouso em Santos, e foi vítima de problemas respiratórios. Ela deixa os filhos Amanda, Aretha e Rafael.

Paralelas- Vanusa:

Eliana Pittman lança belo álbum com gravações novas e antigas

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Por Fabian Chacur

Eliana Pittman viveu seus anos de ouro em termos profissionais durante as décadas de 1960 e 1970. Nesse período, fez inúmeros shows no Brasil e no exterior, gravou discos de sucesso, mostrou versatilidade ao cantar de jazz a carimbó e de quebra foi capa da badalada revista americana Ebony em 1965. Desde 1991 sem lançar um disco de estúdio, embora se mantivesse na ativa, a cantora enfim quebra essa escrita negativa com Hoje, Ontem e Sempre (Kuarup Música), um trabalho à altura de seu belo currículo.

O álbum se divide em duas partes que justificam o seu título. A primeira consiste em um repertório composto por dez canções oriundas de vários períodos, todas interpretadas com o acompanhamento do violão de Joan Barros, com percussão em alguns momentos a cargo de Michel Machado. As gravações ocorreram em um único dia, o que nos proporciona interpretações espontâneas, nas quais Eliana se mostra craque no seu jogo, mais do que nunca.

As canções fluem bem graças à ótima interação entre os músicos e a intérprete. O Morro Não Tem Vez (Carlos Lyra e Vinícius de Moraes), Gamei (Délcio Luiz e André Renato, hit nos anos 1990 com o Exaltasamba), Preciso Dizer Que Te Amo (Dé, Cazuza e Bebel Gilberto), Yo Vengo a Ofrecer Mi Corazón (Fito Paes) e Drão (Gilberto Gil) são pontos altos de uma seleção musical bem diversificada que a cantora alinhava sem grandes sustos.

A segunda parte do disco traz oito faixas gravadas ao vivo em 1970, durante show de Eliana na boate Dom Camilo, em Paris, França. A fita com o registro dessa apresentação histórica estava nos arquivos da cantora, e foi descoberta pelo sempre inquieto produtor Thiago Marques Luiz. Acompanhada por uma banda afiada cuja formação infelizmente se perdeu, a moça aparece no auge de seus 25 anos de idade, inquieta e com um swing absurdo.

Temos aqui como pontos altos Aquele Abraço (Gilberto Gil), Ponteio (Edu Lobo e Capinam), Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça), Big Spender (Cy Coleman e Dorothy Fields) e um incrível pot-pourry incluindo Felicidade (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), Deixa Isso Pra Lá (Edson Menezes e Alberto Paz) e curiosamente O Morro Não Tem Vez, a mesma que abre a parte de estúdio do álbum, permitindo ao ouvinte comparar a performance da cantora na mesma música em duas épocas distintas.

A performance de Eliana neste disco ao vivo é uma prova cabal de sua alma jazzística, com direito a improvisos, scat singing e muito, mas muito swing mesmo, além de uma interação total e completa com a plateia presente. O resultado é simplesmente arrebatador, pequena e belíssima prova da grande capacidade dessa artista em um palco.

Se o conteúdo musical merece nota alta, a apresentação de Ontem, Hoje e Sempre no formato CD é simplesmente brilhante. Além de bela capa digipack, o disco físico traz encarte com 38 páginas incluindo pequenos textos da cantora e de seu produtor e uma maravilhosa seleção de fotos oriundas de várias fases de sua carreira, incluindo capas de revistas como a Ebony e uma da extinta Intervalo na qual aparece ao lado de Roberto Carlos.

Eis uma forma inteligente de tornar a versão física um objeto de desejo não só para os mais fanáticos pela cantora, mas também por quem curte música brasileira e quer ter em mãos um verdadeiro documento dessa carreira. Grande sacada de Thiago, assim como essa ideia de reunir conteúdo de duas épocas distintas da artista em um mesmo CD, algo que ele já havia feito com a cantora Rosa Marya Colin (leia resenha de Mondo Pop aqui).

Gamei (clipe)- Eliana Pittman:

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