Por Fabian Chacur

Nesta sexta-feira (10), João Gilberto completou 80 anos de idade e pelo menos uns 40 ou 50 de auto-indulgência total e completa.

Sim, meus caros, você não irá ler aqui mais um dos inúmeros textos laudatórios e repletos de adjetivos dizendo que é Deus no céu e Mr. Gilberto na terra.

Para mim, John Gilbert sempre foi o esteótipo do mala, do chato, daquele cara que fez coisas realmente importantes, mas que preferiu se manter namorando o umbigo ao invés de crescer como artista.

A criação e popularização da célebre batida do violão da bossa nova, além de algumas das mais importantes gravações da fase inicial desse estilo musical, fazem dele um nome realmente respeitável.

Lógico que gosto de suas gravações de Chega de Saudade, Desafinado, Wave, S’ Wonderful, e que sua voz sempre se manteve agradável e bem colocada.

Mas, ao contrário de Tom Jobim, por exemplo, ele estacionou no tempo, tal qual um Chuck Berry da música brasileira, deitando em cima dos louros do que ajudou a criar e não fazendo rigorosamente mais nada de criativo.

Tom, sim, merece ser chamado de Papa da Bossa Nova. Ele compôs vários dos maiores clássicos do gênero, sempre evoluiu como músico, sempre se abriu a belas e produtivas parcerias…

Mesmo às vésperas da morte, que infelizmente ocorreu em um triste novembro de 1994, Jobim lançou um álbum fantástico, Antonio Brasileiro. Ou seja, criou até o último instante, praticamente.

Enquanto isso, o JG se manteve repetindo até a exaustão a fórmula criada por ele, com sutilezas que nunca justificaram a baba dos fãs, sempre com a maldita frase “ele se reinventa a cada ano”. O cacete!

Shows dele são sempre a mesma coisa, com pedidos neuróticos de silêncio e a repetição daquelas músicas de sempre (belas, sem dúvida, mas que a gente já ouviu milhares de vezes, sempre do mesmo jeito).

Em termos de discos a partir dos anos 60, para cada Amoroso (que, embora bom, acho superestimado pela crítica), temos inúmeros daqueles ao vivo inócuos e repletos de mais do mesmo.

As excentricidades ajudam a mantê-lo na mídia, mas não são audíveis, ou pelo menos não resultam em coisas positivas no aspecto criativo.

A mais recente, revelada por Ruy Castro, me deixou de queixo caído. Sabem que ele não troca as cordas do próprio violão, delegando essa tarefa a amigos? Vai ser preguiçoso no inferno…

E tem outra coisa: o que esse cara compôs? Não que para ser considerado gênio o músico tenha necessariamente também ser autor, mas o caso dele é absurdo. Oba-la-lá? Dim-dom? Undiú? Socorro!

Não tenho a menor dúvida de que, quando ele fizer os tais shows comemorativos e gravar o tal DVD/CD ao vivo, que certamente terá o apoio das “leis de incentivo do governo” de sempre, todos irão babar ovo.

Genial, reinvenção da reinvenção, um gênio eterno, lenda viva, podem anotar, que essas palavras estarão nos textos a caminho. E inúmeros outros adjetivos. E também as culionésimas versões de Chega de Saudade, Garota de Ipanema etc.

Para mim, Johannes Gillbertus é um pioneiro de inegável valor que, no entanto, foi atropelado por seus seguidores, gente como Caetano Veloso, Edu Lobo, Gilberto Gil, Roberto Carlos, João Bosco, Toquinho etc (e tome etc), músicos que aprenderam suas lições e que souberam ir bem além delas.

Enquanto isso, o pato continuou cantando alegremente, quém-quém…