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ZZ Top celebra 50 anos de estrada com uma coletânea

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Por Fabian Chacur

Há 50 anos, caía na estrada uma banda oriunda da cidade de Houston, Texas (EUA), com o intuito de investir no blues e nas variações mais básicas e viscerais do rock. Surgia o ZZ Top, grupo que permanece na ativa e celebra este cinquentenário com Goin’ 50, coletânea que a Warner Music lançará em junho em duas configurações, no Brasil. Uma, física, trará 18 faixas, enquanto a outra, para as plataformas digitais, inclui um total de 50 faixas. Trata-se de uma celebração mais do que merecida.

No início, o cantor, compositor e guitarrista Billy Gibbons tinha a seu lado Lanier Greig (baixo e teclados) e Dan Mitchell (bateria). Após o lançamento do single com as músicas Salt Lick e Miller Farm, no entanto, esse dois músicos sairiam fora, substituídos ainda naquele 1969 por Dusty Hill (baixo) e Frank Beard (bateria). Felizmente, os novos parceiros permaneceriam firmes e fortes ao lado de Gibbons durante as décadas que se seguiriam.

O primeiro álbum do trio saiu em 1971, intitulado ZZ Top’s First Album. O sucesso em termos comerciais veio a partir do terceiro trabalho, Tres Hombres (1973), que atingiu o 8º posto na parada americana. Graças a shows sempre energéticos e ao carisma de seus músicos, especialmente do guitarrista Billy Gibbons, logo frequentador assíduo das listas de melhores no instrumento, a banda aos poucos foi ganhando fãs entusiásticos.

Nos anos 1980, passaram a lotar estádios, graças ao estouro de álbuns como Eliminator (1983), que vendeu mais de 10 milhões de cópias nos EUA. Eles acrescentaram teclados eletrônicos, mas sem descaracterizar sua sonoridade clássica, uma mistura de blues, rock, hard rock e boogie. A entrada da música Doubleback, faixa do álbum Recycler (1990), na trilha do filme De Volta Para o Futuro 3 também ajudou bastante em sua popularidade.

O bacana do ZZ Top é a sua postura desencanada, com dois de seus integrantes (Gibbons e Hill) usando longas barbas e todos eles vestindo roupas esporte bem avacalhadas. O que conquistou o grande público foi mesmo a música, pois os shows também não ficam se valendo de recursos cênicos exagerados.

A seleção de músicas de Goin’ 50 dá uma geral em toda a carreira, sendo que a digital inclui ao menos uma faixa de cada um de seus álbuns de estúdio, do primeiro até o mais recente, La Futura (2012), com direito ao raro primeiro single. A versão física faz um apanhado mais resumido, porém muito bacana da carreira toda, e serve como uma boa amostra da bela trajetória do trio texano, que já se apresentou no Brasil lá pelos idos de 2010 e está iniciando uma turnê americana para festejar essas bodas de ouro roqueiras.

Confira o repertório do álbum físico:

La Grange
Sharp Dressed Man
Gimmie All Your Lovin’
Tush
Cheap Sunglasses
I’m Bad, I’m Nationwide
Legs
Got Me Under Pressure
Rough Boy
Sleeping Bag
Velcro Fly
Doubleback
Viva Las Vegas
Pincushion
What’s Up With That
Fearless Boogie
Piece
I Gotsta Get Paid

Confira o repertório do álbum digital:

La Grange
Sharp Dressed Man
Gimmie All Your Lovin’
Tush
Legs
Rough Boy
I’m Bad, I’m Nationwide
Cheap Sunglasses
Got Me Under Pressure
Sleeping Bag
Velcro Fly
Doubleback
Viva Las Vegas
Salt Lick
Miller’s Farm
(Somebody Else Been) Shaking Your Tree
Francine
Beer Drinkers & Hell Raisers
Waitin’ For The Bus
Jesus Just Left Chicago
Heard It On The X
Back Door Medley (Live)
It’s Only Love
Arrested Whilst Driving Blind
Enjoy and Get It On
I Thank You
Leila
Tube Snake Boogie
Pearl Necklace
TV Dinners
Can’t Stop Rockin’
Stages
Delirious
Woke Up With Wood
Concrete And Steel
My Head’s In Mississippi
Give It Up
Decision Or Collision
Gun Love
Pincushion
Breakaway
Girl In A T-Shirt
Fuzzbox Voodoo
She’s Just Killing Me
What’s Up With That
Bang Bang
Rhythmeen
Fearless Boogie
36-22-36
Piece

Doubleback (clipe)- ZZ Top:

ChangesTwoBowie:relançado em CD após mais de 30 anos

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Por Fabian Chacur

Em 1981, chegou às lojas brasileiras a coletânea ChangesTwoBowie. Naquele momento, era uma rara oportunidade de se conferir alguns dos maiores hits de David Bowie, pois seus álbuns da fase RCA estavam fora de catálogo e custavam uma fortuna nos sebos da vida. Essa compilação chegou a sair em CD nos EUA em 1985, mas logo saiu de cena. Para felicidade dos colecionadores, esse disco acaba de voltar ao mercado nacional em versão remasterizada pela Warner, nos formatos CD e digital. No exterior, também está disponível em LP de vinil.

Esta coletânea saiu como um complemento para ChangesOneBowie (1976). Ao contrário do que normalmente ocorre nesses casos, ela não se atém ao período posterior ao lançamento do volume 1, trazendo dez faixas abrangendo material de Hunky Dory (1971) até Scary Monsters (And Super Creeps) (1980). Seu grande atrativo na época era o raro single John I’m Only Dancing (Again), espécie de releitura disco gravada em 1975 do single John I’m Only Dancing (1972).

Além dessa faixa, que originalmente saiu em single em 1979 e depois foi incluída em outras compilações, o diferencial bacana desta compilação é a incrível capa, cuja foto foi feita pelo célebre Greg Gorman, ainda na ativa até hoje e conhecido por seus cliques de celebridades do mundo da música e do cinema como Jimi Hendrix, Elton John, Grace Jones, Richard Gere e inúmeros outros, desde o final da década de 1960.

Vale lembrar outra curiosidade envolvendo esta compilação. Quando o selo Rykodisc fez em 1990 o relançamento da discografia de Bowie de 1969 a 1980, optou por não incluir no pacote as coletâneas ChangesOneBowie e ChangesTwoBowie, criando uma nova compilação intitulada ChangesBowie (que saiu na época no Brasil em LP de vinil duplo pela EMI). Acho muito provável que fãs mais fieis de Bowie comprem essa nova edição de ChangesTwoBowie pela memória afetiva, capa e boa seleção de faixas, mas existem diversas outras coletâneas mais indicadas para quem quiser se iniciar na obra desse gênio do rock.

Conheça o repertório de ChangesTwoBowie:

Aladdin Sane (1913-1938-197?)
Oh! You Pretty Things
Starman
1984
Ashes To Ashes*
Sound And Vision
Fashion
Wild Is The Wind
John, I’m Only Dancing (Again) 1975
D.J.

Johnny I’m Only Dancing (Again)– David Bowie:

Tears For Fears lança o álbum com seus hits e duas inéditas

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Por Fabian Chacur

Para quem ficou encantado com o show feito pelo Tears For Fears em setembro, no Rock in Rio, e gostaria de ter uma compilação com os maiores hits do duo britânico, boa notícia. Já está disponível nas plataformas digitais Rule The World: The Greatest Hits, cuja versão física chegará às lojas brasileiras no dia 8 de dezembro, via Universal Music.

Como tem sido praxe há muito tempo na indústria musical, esta nova compilação do grupo formado há 36 anos por Roland Orzabal e Curt Smith traz atrativos para os fãs casuais e também para quem coleciona tudo o que eles lançam. Quem se encaixa no segundo grupo deve saber que o álbum inclui duas faixas inéditas: a sacudida I Love You But I’m Lost e a mais introspectiva Stay, ambas bem interessantes.

Além das duas inéditas, a compilação tem como diferencial trazer pela primeira vez faixas representando todas as fases da banda, inclusive o período sem Curt Smith (Raoul And The Kings Of Spain, do álbum homônimo, de 1995) e o álbum do retorno Everybody Loves a Happy Ending (Closest Thing To Heaven,de 2004).

Eis a relação das faixas incluídas em Rule The World: 1. Everybody Wants To Rule The World / 2. Shout / 3. I Love You But I’m Lost / 4. Mad World / 5. Sowing The Seeds Of Love / 6. Advice For The Young At Heart / 7. Head Over Heels / 8. Woman In Chains / 9. Change / 10. Stay / 11. Pale Shelter / 12. Mothers Talk / 13. Break It Down Again / 14. I Believe / 15. Raoul And The Kings Of Spain / 16. Closest Thing To Heaven.

I Love You But I’m Lost– Tears For Fears:

Nova coletânea dos Bee Gees sai em formato CD no Brasil

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Por Fabian Chacur

Se um dia o Guiness Book Of Records fizer uma apuração para saber qual é o artista/grupo com maior número de coletâneas de sucesso lançadas na história da indústria fonográfica, os Bee Gees certamente ocuparão uma posição bem alta no ranking. Isso, se não forem os vencedores dessa hipotética competição. Mais um item está sendo incluído nesta série interminável. Trata-se de Timeless-The All Time Greatest Hits, lançada em CD no Brasil pela Universal Music.

O álbum, também disponível em versão digital e nas plataformas de streaming, possui 21 faixas, e tem como atrativo o fato de ter tido seu repertório selecionado pelo único integrante do trio ainda vivo, Barry Gibb. Ele justificou suas escolhas com um texto, incluído na compilação:

“Há uma espiritualidade acerca deste álbum e dessas canções, que significam muito para nós. Então, é extraordinário que elas estejam juntas de uma maneira tão natural. Eu as escolhi com a intenção de ter uma ordem cronológica no álbum, e apesar de existirem várias outras canções, estas aqui eu sinto que são aquelas das quais Maurice, Robin e eu temos mais orgulho. Estas canções representam caminhos e momentos de nossas vidas. Momentos que nunca serão esquecidos”.

A seleção privilegiou os grandes sucessos, indo desde Spicks And Specks, de 1966, um de seus primeiros grandes hits na Austrália, até You Win Again, de 1987, estouro na Inglaterra e única canção dos anos 1980 incluída no CD. De resto, são os hits dos anos 1960 e1970, maravilhas como To Love Somebody, How Can You Mend a Broken Heart, Stayin’ Alive, Jive Talkin’ e Night Fever. Serve como boa introdução a uma obra superlativa. E como essas compilações logo são tiradas de catálogo, sempre é bom ter uma disponível.

Repertório de Timeless- The All Time Greatest Hits:

Spicks And Specks, New York Mining Disaster 1941, To Love Somebody, Massachussetts, Words, I’ve Gotta Get a Message To You, I Started a Joke, Lonely Days, How Can You Mend a Broken Heard, Jive Talkin’, Nights on Broadway, Fanny (Be Tender With My Love), You Should Be Dancing, How Deep Is Your Love, Stayin’ Alive, Night Fever, More Than a Woman, Too Much Heaven, Tragedy, Love You Inside Out, You Win Again.

Love You Inside Out– Bee Gees:

Nana Caymmi: suas deliciosas “canções para novelas de TV”

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Por Fabian Chacur

Nana Caymmi é uma cantora de personalidade forte. Embora não seja uma compositora de ofício (só tem uma composição em seu currículo, Bom Dia, parceria com o ex-namorado Gilberto Gil), é daquelas que não grava nada que não a agrade, e que não tenha sido escolhido com critério e bom gosto. Uma boa prova é Nana Novelas, coletânea que reúne 15 músicas de seu repertório que integraram trilhas de novelas e minisséries globais. Quer algo mais popular do que uma novela global?

No entanto, nenhuma dessas gravações cai no popularesco ou na vulgaridade que algumas canções selecionadas para embalar romances ficcionais possuem. Nada disso. Quando uma gravação da filha de Dorival Caymmi é escolhida, o selecionador sabe que terá em mãos um registro de alta qualidade artística, com belas letras, melodias caprichadas e interpretações daquelas que vem do fundo da alma, sem concessões ao sentimentalismo barato.

O bacana é que Nana tem como tema básico de seu repertório as idas e vindas do amor, um dos setores mais explorados pelos artistas de viés comercial. Em seu caso, ela dá um tratamento classudo ao romance, ao olho no olho, aos suspiros no portão. Difícil ouvir uma interpretação dessa carioca nascida em 29 de abril de 1941 e não ficar com lágrimas nos olhos, pois ela sabe tocar no nervo daqueles corações apaixonados.

O repertório de Nana Novelas traz músicas de trilhas de novelas lançadas pela Globo entre 1977 e 2010. Não coube tudo. Então, maravilhas do porte de Beijo Partido e Doce Presença, por exemplo, ficaram de fora. O consolo é que nenhuma das que entraram pode ser considerada como bicona nesse reino de maravilhas sonoras. Não há um único acorde aqui que não possa proporcionar prazer aos enamorados.

Temos bolero, bossa nova, samba canção e MPB,com arranjos inspirados que vão da utilização de orquestras a momentos intimistas. Duas faixas são duetos, uma com Erasmo Carlos (Não se Esqueça de Mim, de Roberto e Erasmo Carlos), outra com Chico Buarque (Até Pensei, do próprio Chico, cuja presença na faixa não foi creditada no CD).

Só tem autor craque aqui. Milton Nascimento e Ronaldo Bastos (Cais, de arrepiar até zumbi), Ivan Lins e Vitor Martins (Mudança dos Ventos), Agustin Lara (Solamente Uma Vez), Gonzaguinha (De Volta ao Começo), Tom Jobim (Só Em Teus Braços), Aldir Blanc e Cristóvão Bastos (Suave Veneno e Resposta ao Tempo), João Bosco e Aldir Blanc (Quando o Amor Acontece), papai Dorival Caymmi e Carlos Guinle (Não Tem Solução)…

Só faltou um pequeno, porém importante, detalhe para que Nana Novelas merecesse uma nota dez com louvor. O encarte possui apenas quatro páginas, trazendo só o nome das músicas, os autores e de que trilha sonora de novela ou minissérie cada gravação fez parte. Como forma de valorizar o produto físico, a publicação das letras das canções e um texto contextualizando as gravações seria essencial. Apesar disso, trata-se de um disco para se ouvir suspirando de felicidade.

Cais– Nana Caymmi:

Coletânea mergulha na faceta obscura de Freddie Mercury

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Por Fabian Chacur

O título dessa resenha pode parecer meio bizarro para a maior parte dos leitores. E não irei contestar. Afinal de contas, como considerar obscuras músicas lançadas basicamente nos anos 1980 que venderam milhões de cópias mundo afora? Mas de certa forma são, sim. Estamos falando do repertório de Messenger Of The Gods- The Singles, luxuosa coletânea dupla lançada no Brasil pela Universal Music trazendo canções gravadas pelo saudoso e genial Freddie Mercury fora do Queen.

Meu ponto de vista é simples. Após sua prematura morte, aos 45 anos, em 1991, o cantor, compositor e músico passou a ser muito mais lembrado pelo que fez ao lado de Brian May, John Deacon e Roger Taylor. E não é de se estranhar. Afinal de contas, foram 20 anos com o Queen, com direito à gravação de clássicos do rock que invadiram as paradas de sucesso de todo o planeta e se transformaram em trilhas sonoras eternas dos fãs de boa música.

A carreira-solo de Mercury teve curta duração, na verdade. Foi de 1985 a 1988, período durante o qual o Queen atuou de forma menos intensa (apesar de ter feito uma grande turnê e lançado o álbum A Kind Of Magic). Tinha começado um pouco antes, com a gravação de Love Kills para a trilha do filme Metropolis, mas pegou mesmo no breu com o lançamento do primeiro álbum individual,Mr. Bad Guy (1985).

Embora fortemente alicerçado no rock, Freddie Mercury sempre se mostrou um artista totalmente aberto a experimentar outros estilos musicais. Sua alma era pop por excelência, e sua trajetória fora da banda que o tornou famoso internacionalmente foi basicamente a oportunidade de mergulhar em um pop mais escancarado, beirando o brega operístico e sem medo de ser feliz. Pop, dance music, música eletrônica, ópera pop, romantismo…Tudo cabia!

Messenger Of The Gods traz o material contido em todos os singles que lançou sem o Queen. O álbum duplo inclui em um CD as faixas principais dos compactos, e no outro os lados B desses mesmos singles. Algumas músicas se repetem, como Living On My Own, que surge em três versões distintas. No total, são 25 faixas. O álbum inclui capa digipack com reproduções das embalagens originais dos singles em vinil, além de um encarte repleto de informações sobre cada canção, cada gravação e tudo o mais. Coisa finíssima.

Algumas dessas músicas apareceriam depois no álbum póstumo do Queen Made in Heaven (1985), em gravações da banda que eu particularmente considero superiores às solo, que, no entanto, também são bem legais. Mais “despachadas”, digamos assim. São elas Made In Heaven e I Was Born To Love You. Outras trazem participações especiais discretas dos amigos do Queen, e temos em Love Kills a parceria com o genial produtor Giorgio Moroder (Donna Summer e tantos outros).

Uma grande raridade contida aqui é o single I Can Hear Music/Goin’ Back, lançado originalmente em 1973 mais ou menos na mesma época do primeiro álbum do Queen, e creditado a um certo Larry Lurex, que na verdade era o próprio Mercury. São gravações curiosas e bem distantes do que o artista faria futuramente. Goin’ Back tem versões bem melhores gravadas por Carole King (sua autora), The Byrds e Phil Collins, mas ficou simpática com Mr. Lurex.

E é lógico que a inesperada parceria de Mercury com a cantora lírica Montserrat Caballé não poderia ficar de fora, com seus impressionantes duetos em Barcelona e How Can I Go On, simplesmente arrepiantes. As duas versões de Exercises In Free Love são também marcantes, pois uma é só com Freddie Mercury, e a outra com a voz de Montserrat, que se apaixonou pela versão original e resolveu imprimir sua marca nos vocalizes do cantor do Queen.

Também lançada no exterior em caixa com os singles no formato vinil colorido (13 compactos, para ser mais preciso), esta compilação é uma boa forma de se mergulhar em uma fase não tão badalada da carreira de Freddie Mercury, mas essencial para entendermos melhor a essência musical deste grande artista, que nunca escondeu a importância que ser popular tinha para si, e que conseguiu atingir esse objetivo com um brilhantismo reservado para poucos.

Love Kills– Freddie Mercury:

Pure McCartney: bela viagem pela obra de um gênio musical

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Por Fabian Chacur

Coletâneas costumam ser encaradas de forma não muito positiva por críticos e fãs mais radicais de música. O argumento é sempre o mesmo: seria uma forma de apresentar uma obra de forma fatiada, com escolhas nem sempre justificáveis e frequentemente mostrando um retrato nada fiel do artista enfocado. Questão de opinião. Para mim, coletâneas são, quando bem feitas e bem planejadas, belas obras de entrada para obras musicais. Eis a função que Pure McCartney, álbum duplo que acaba de sair no Brasil, pode cumprir em relação ao trabalho de Paul McCartney.

Pure McCartney pode ser encontrado no exterior em três formatos: o mesmo CD duplo com 39 faixas, uma caixa com 4 CDs (contendo 67 faixas) e vinil quádruplo com 41 faixas. Todas essas alternativas seguem o mesmo conceito, conforme explica texto escrito pelo próprio Macca no encarte que acompanha os lançamentos: “uma coleção de minhas gravações tendo em mente nada além de ser algo divertido para se ouvir, ou talvez para ser ouvida em uma longa viagem de carro, ou em um evento em casa ou ainda uma festa com amigos”. Simples assim.

Dessa forma, fica fácil entender o porque vários sucessos marcantes ficaram de fora, preteridos em alguns casos por músicas não tão conhecidas. O repertório cobre toda a carreira solo do ex-beatle, indo desde 1970 até 2014. Para aquele fã que tem tudo do artista, só cinco itens mais interessantes: os remixes de Ebony And Ivory, Say Say Say, Here Today e Wanderlust, e a belíssima Hope For The Future, lançada em 2014 para a trilha do vídeo game Destiny e disponível anteriormente apenas no exterior em um single de 12 polegadas de vinil.

O repertório não foi ordenado de forma cronológica, o que nos proporciona saborosas idas e vidas por fases bem distintas do trabalho do artista. A curiosidade fica por conta de a primeira e a última faixa em todos os formatos serem as mesmas e oriundas do primeiro álbum solo do astro britânico, McCartney (1970), respectivamente Maybe I’m Amazed e Junk. Isso não deve ser obra do acaso…

As músicas contidas nesta compilação reforçam um sonho que muitos fãs do autor de Yesterday gostariam de realizar: ter a chance de ver um de seus shows só com material da carreira-solo, sem canções dos Beatles. Nada contra o repertório maravilhoso dos Fab Four, mas é que McCartney tem tantas músicas boas de 1970 para cá que seria bem bacana poder ouvir ao vivo uma Heart Of The Country, por exemplo, ao invés da milésima interpretação de Hey Jude.

Ouvir Pure McCartney é uma bela oportunidade de se curtir a incrível versatilidade de um grande talento. Power ballad em Maybe I’m Amazed, disco music em Coming Up, soul-jazz em Arrow Through Me, folk puro em Junk, pop delicioso em Listen To What The Man Said, rock na veia em Jet, rock eletrônico em Save Us, lirismo puro em Here Today

A variedade de estilos é incrível, sempre com grande qualidade técnica e artística. E acredite: com o material que sobrou, mesmo se levarmos em conta a caixa com quatro CDs, ainda restou material bom o suficiente para justificar pelo menos umas quatro compilações do mesmo gênero, sem repetir faixas e com a mesma força.

O único problema para o neófito que se meter a ouvir Pure McCartney é acabar se viciando no som do cara, e por tabela sair atrás de toda a sua obra. É disco pra burro!!! Mas pode ter certeza de que vale a pena colecionar. Tipo do vício sem contraindicações. E reforço o ponto: ótimo para desancar quem acha que o trabalho solo de Paul McCartney não está a altura do que ele fez nos Beatles. Não? Pense outra vez!

Arrow Through Me– Wings:

Dear Boy– Paul McCartney:

Hope For The Future– Paul McCartney:

CD Coleção traz raridades da trajetória de Marisa Monte

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Por Fabian Chacur

Marisa Monte sempre se disse contrária ao formato coletânea de sucessos. Como forma de encerrar a parceria de seu selo Phonomotor Records com a Universal Music/EMI, a cantora optou por uma compilação norteada por outro conceito, o de reunir não hits, mas canções que a cantora e compositora carioca registrou em discos alheios e que estavam espalhados por aí. Nasceu, assim, Coleção, que curiosamente equivale a seu melhor álbum desde Tribalistas (2002).

A primeira fase da carreira discográfica de Marisa Monte foi simplesmente arrasadora. Com os álbuns MM (1989), Mais (1991) e Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão (1994), ela conseguiu renovar a MPB e se tornar um caso raro de artista que conseguia fazer um trabalho consistente em termos artísticos e ao mesmo tempo disputar com força total os primeiros lugares das paradas de sucesso. A combinação perfeita e sonhada por todos e concretizada por poucos.

A partir do mezzo ao vivo mezzo de estúdio Barulhinho Bom- Uma Viagem Musical (1996), as coisas mudariam de feição. O marco é o fraco Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000), redundante, autoindulgente e com direito a coisas como Amor I Love You, popularesca até a medula. Com exceção do ótimo projeto Tribalistas (2002), que gerou um belo CD, tornar-se-ia difícil pescar boas músicas nos poucos trabalhos que a cantora lançaria nos anos seguintes.

Os lançados simultaneamente Infinito Particular e Universo Ao Meu Redor, de 2006, são de uma inconsistência assustadora, enquanto O Que Você Quer Saber de Verdade (2011) consegue diluir ainda mais o que já não era lá essas coisas. E isso após anos de espera. Ou seja, a artista não pode alegar pressão de gravadora ou coisa que o valha para justificar tal conteúdo fraco. Felizmente, nos shows a mistura das poucas músicas novas boas com várias dos bons tempos e alguns covers mantiveram o alto padrão dos anos de ouro de 1988 a 1996.

Temos em Coleção 13 faixas gravadas entre 1993 (Alta Noite, na versão incluída no disco solo de Arnaldo Antunes, Nome) e 2015 (Chuva no Mar, do CD Canto, de Carminho). São muitas coisas boas. Ilusão, por exemplo, dueto gravado ao vivo em 2011 com a ótima Julieta Venegas. Ou Esqueça (Forget Him), hit da Jovem Guarda que Marisa regravou em 2003 para a trilha do filme A Taça do Mundo é Nossa.

A versão da clássica Carinhoso, que reúne Marisa e Paulinho da Viola, no melhor estilo voz e violão, estava relegada apenas ao belo documentário O Meu Tempo é Hoje (2003). E David Byrne aparece na curiosa e quase divertida Waters Of March, versão bilíngue do clássico Águas de Março de Tom Jobim registrado em 1996 para o CD beneficente Red Hot + Rio. Coleção ficou uma coletânea muito boa de se ouvir.

O álbum, no entanto, não reúne todas as faixas de Marisa Monte perdidas por aí. Sem pesquisar a fundo, posso citar três delas: a deliciosa Mais Um Na Multidão, dueto com Erasmo Carlos registrado em 2001 no álbum Pra Falar de Amor, do Tremendão, Flores, gravada ao vivo e lançada no álbum dos Titãs Acústico MTV em 1997, e Sábado à Noite. Esta última merece um parágrafo próprio.

Lançada em 1985 na trilha do filme Tropclip, Sábado à Noite, de Sérgio Sá (o autor de Eu Me Rendo, hit com Fábio Jr, entre outras) foi a primeira música gravada e lançada oficialmente por Marisa Monte, com apenas 18 anos na época. Trata-se de uma faixa constrangedora, um funk pop cheio de clichês do gênero. Pior: Marisa aparece nela como se fosse mera coadjuvante. A música tem 3m52 de duração, sendo que ela aparece em míseros 35 segundos, mais precisamente dos 2m01 até os 2m36. Não é de se estranhar que isso não faça parte de Coleção

Carinhoso– Marisa Monte e Paulinho da Viola:

Waters Of March– Marisa Monte e David Byrne:

Ilusão (Ilusión)– Marisa Monte e Julieta Venegas:

Sábado à Noite- Marisa Monte (da trilha de Tropclip-1985):

Coletânea mostra boas novas do rock goiano e muito mais

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Por Fabian Chacur

Típicos dos anos 80 e 90, os álbuns com uma ou no máximo duas músicas de cada artista estreante serviam como uma interessante porta de entrada para muita gente no mundo do rock, não só no Brasil mas também no resto do mundo.Apelidados de “pau de sebo”, ajudaram a revelar Metallica, Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii, Replicantes e dezenas de outras bandas.

Esse conceito continua em uso, e o selo goiano Monstro Discos deu início à sua empreitada nesta área em 2006 com Goiânia Rock City. Um segundo volume chegou ao mercado em 2009, e agora, finalmente, temos o terceiro, intitulado apropriadamente Goiânia Rock City MMXV, com a participação de 15 bandas, uma música para cada uma delas mostrar seu potencial, espécie de cartão de visitas sonoro.

Goiânia é considerada um verdadeiro celeiro do rock brasileiro, mesmo em tempos de crise como o atual. O elenco só sai da configuração “bandas novas de Goiânia” em duas exceções: os veteranos da Mechanics, que estiveram no primeiro CD da série em 2006 e voltam agora, e o grupo Evening, que é de Anápolis (GO). É como se fossem duas bandas bônus, por assim dizer.

De forma geral, podemos elogiar a ótima qualidade técnica das gravações, prova de que, ao contrário do que acontecia até meados dos anos 80, o pessoal aprendeu a gravar rock mais ardido no Brasil nos quatro cantos do país. Em termos de qualidade, nenhuma das participantes pode ser classificada como ruim, embora tenhamos algumas melhores do que outras. E vale elogiar a diversidade sonora das bandas escolhidas.

Como única restrição, acho que o encarte deveria trazer a escalação e um breve texto sobre cada uma das bandas, o que serviria para valorizar o produto físico. De resto, capa, encarte e parte gráfica do CD são impecáveis. Uma bela iniciativa da Monstro Discos, que desde 1998 abre espaços para o rock goiano. Abaixo, rápidas considerações sobre cada faixa, sem muita profundidade:

1- Murderer– The Galo Power – Hard rock, Beatles, grunge, Deep Purple e Soundgarden em uma faixa com direito a boas guitarras.

2- Six Toes– Dry- – Hard rock musculoso com tempero grunge e um belo solo de guitarra para coroar a coisa toda.

3- Rewind– Cherry Devil– Hard rock setentista com pitadas de Free e dos noventistas The Black Crowes, incluindo timbre vintage de teclados.

4- Ballad Of The I’ll Fortuned Rogue– Space Truck– Beatles 67-70, Badfinger, Big Star, destacando belos vocais e teclados. Bela canção!

5- Fracasso– Mechanics– Rockão com ares hard e letra pé na porta em português, com direito a um vocalista com personalidade forte. Os experientes do pacote.

6- Will You Be There Too– Two Wolves– Típico som pós-punk anos 80 com riffs simples e bem concatenados a la U2 do começo e outras bandas do período.

7- De Rolê– Coletivo Sui Generis– Mistura nervosa de hard/heavy rock, hip hop e eletrônica com ecos de Planet Hemp.

8- Burn All Those Highways– Damn Stoned Birds– Rockão básico com vocais masculinos e femininos, direto e sem rodeios, com um cantor de timbre a la James Hetfield (Metallica).

9- Feeble Line– Off a Cliff– Uma espécie de balada delicada com cara de anos 80, melodia pop, vocais bacanas, toques psicodélicos e papo de casal no final. Bem bacana!

10- Filho de Puta Com Pipoqueiro– D.D.O.– Punk rock barulhento com letra virulenta e guitarras bem sujas.

11- Cara de Sorte– Woolloongabbas– Rock na veia, na melhor tradição Rolling Stones. Made In Brazil, Barão Vermelho e AC/DC e letra divertida. Legalíssima!

12- Poisoned Mind– Evening– Os representantes de Anápolis (GO) apostam em um mix de Black Sabbath e Soundgarden e bom refrão.

13- Raízes– Rapsódia– Rock básico com ecos de The Stooges e um clima meio tenso gerado pelas denúncias contidas na letra.

14- The Theory Of Having No Theories– Verne– Meio hard, meio power pop, com várias passagens diferentes, clima viajante e um solo de guitarra marcante.

15- Pílula Vermelha– Pedrada– Punk direto e acelerado, com direito a versos crus como “Não quero ser mais um sem reflexo no espelho”.

Fracasso – Mechanics – Goiânia Noise 2014:

The Ballad of the I’ll Fortuned Rougue-Space Truck-(2013):

Cara de Sorte & AA @ Vaca Amarela– 2011- Woolloongabbas:

Coletânea equivale a amostra do brilhante Wilson Simonal

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Por Fabian Chacur

Luiz Carlos Miele, um dos grandes produtores e apresentadores do show business brasileiro, afirma que Wilson Simonal foi o maior cantor brasileiro de todos os tempos. Um belíssimo aval para esse intérprete carioca que viveu de 1938 a 2000 e nos deixou um belo legado musical. A coletânea S’Imbora- A História de Wilson Simonal, que a Universal Music acaba de lançar, é bela amostra de uma obra brilhante.

A compilação tem como mote o espetáculo teatral S’Imbora- O Musical- A História de Wilson Simonal, escrito por Nelson Motta e Patrícia Andrade, dirigido por Pedro Bricio e estrelado por Ícaro Silva, que estreou no começo deste ano e vem fazendo bastante sucesso. Embora use a identidade visual do musical na embalagem, a compilação traz as gravações originais do saudoso Simona, e não do elenco da peça.

São 20 faixas, sendo 17 da época áurea do astro carioca, vividos na gravadora EMI-Odeon entre 1961 e 1971, uma de 1975 e duas gravações de seus talentosos filhos, Wilson Simoninha (Nanã, que também está no CD na leitura do pai) e Max de Castro (Afrosamba). O belo encarte traz as letras das faixas e texto do consagrado produtor Jorge Davidson, que trabalhou em diversas gravadoras.

Simonal era o que poderíamos chamar de um artista praticamente completo. Compositor eventual, ele compensava tal “deficiência” com uma voz maravilhosa, um swing irresistível e um carisma no palco capaz de domar as multidões mais exigentes. Um “entertainer” na acepção da palavra, que se tivesse nascido nos EUA teria sido astro internacional.

Do início como seguidor da bossa nova, Simona enveredou por uma brasilidade mestiça, da qual faziam parte a soul music, o jazz, a música latina e o que mais pintasse, até rock. O seu balanço próprio gerou um estilo apelidado de “pilantragem” cuja marca era o ritmo contagiante e irresistível, do tipo de fazer dançar até defunto.

O impecável documentário Ninguém Sabe O Duro Que Dei (2009) ajudou a tirar esse artista brilhante do nimbo a que foi relegado por causa de acusações feitas em 1971 que acabaram se mostrando infundadas. Ele tinha temperamento difícil e criou muitas encrencas em sua vida, mas dedo duro da Ditadura Militar ele nunca foi. Não merecia ter caído na “Sibéria do mundo musical”, pois seu trabalho era de enorme qualidade. Grande injustiça.

Esta compilação da Universal Music serve como uma boa introdução a quem por ventura não conheça essa obra incrível, ou para quem quiser um resumo conciso. Sá Marina, Tributo a Martin Luther King, Zazueira, Carango, Vesti Azul, Aqui é o País do Futebol, Nem Vem Que Não Tem, é uma bala atrás da outra. Um verdadeiro soul man à brasileira e à sua moda.

Nem Vem Que Não Tem– Wilson Simonal:

País Tropical/Sou Flamengo– Wilson Simonal:

Aqui é o País do Futebol– Wilson Simonal:

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