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Erasmo Carlos nos conta os seus deliciosos “causos” em livro

Por Fabian Chacur

Erasmo Carlos fará 70 anos no próximo dia 5 de junho. Às vésperas dessa data histórica, enfim li Minha Fama de Mau, sua tentativa de autobiografia.

Não, não pensem que eu vou jogar um caminhão de melancias na cabeça do eterno Tremendão, parceiro de fé, camarada de Roberto Carlos, mestre do rock, do samba rock, do romantismo pop etc etc etc. Nada disso.

É que o cantor, compositor e músico carioca nos oferece é na verdade uma seleção imperdível, deliciosa e hilariante na maior parte (e emocionante em outras) de “causos”, ou seja, memórias da longa e produtiva estrada percorrida por ele nesses anos todos.

Em suas mais de 350 páginas, o livro inclui momentos curiosos da vida profissional, pessoal e sexual do cidadão, com direito até a minuciosos detalhes da relação do autor de Coqueiro Verde com o seu Mr. Dick (prefiro não escrever pinto; ôpa, escrevi!).

Histórias sobre algumas das maravilhosas parcerias dele com o Rei Roberto Carlos, lembranças de shows (incluindo o célebre incidente com os “metaleiros” no Rock in Rio de 1985) e a convivência com família e amigos povoam as páginas de Minha Fama de Mau.

O texto é leve, bom de se ler e dividido em capítulos pequenos sempre contendo histórias que se fecham em si próprias, embora no fim das contas todas elas estejam entreligadas.

Lógico que quem gostaria de ler um relato mais focado na carreira, discos e composições de Erasmo ficará um pouco frustrado. O livro também não inclui o que seria uma benvinda discografia.

Mas quem disse que um livro com esse perfil de biografia mais clássica não poderá surgir no futuro? E um certamente não se sobreporá ao outro, podendo, isso sim, complementá-lo.

Ouça a monumental Coqueiro Verde:

DVD mostra o maior show da história dos Beatles

Por Fabian Chacur

No dia 15 de agosto de 1965, os Beatles entraram no palco do Shea Stadium em Nova York perante mais de 55 mil pessoas. Foi o maior show da carreira da banda e o maior do rock até aquele momento. Um momento histórico.

O selo Coqueiro Verde está lançando no Brasil um belo registro desse evento com o título Live At Shea. Trata-se de um documentário que inclui o show, bastidores, entrevistas e flagra o início da explosão da música pop no mundo.

Até então, ninguém poderia imaginar que grupos pop teriam tanto público a ponto de tocar em estádios.

A infraestrutura oferecida ao Fab Four para tocar naquele lugar enorme é ridícula, se comparada ao que existe hoje. O equipamento de som, por exemplo, seria vetado até no bar especializado em pagode aqui perto de casa.

Iluminação sofisticada? Cenário? Efeitos especiais? Nada disso. Apenas os quatro músicos, três ou quatro amplificadores, um praticável para a bateria de Ringo Starr, três microfones com pedestais, um palco pequeno no qual mal cabia a banda e mais um tecladinho e era só.

Como na época a praxe eram shows de apenas 30 minutos, um elenco de grupos e artistas se apresentou antes de John, Paul, George e Ringo. King Curtis Band, Brenda Holloway, Cannibal And The Headhunters, The Young Rascals e Sounds Incorporated fizeram bem a sua parte de esquentar a plateia, e cenas de suas apresentações também estão no documentário.

As condições precárias enfrentadas pelos Beatles neste show e em tantos outros que fizeram entre 1960 e 1966 explicam o porque eles resolveram deixar os palcos de lado, dedicando-se apenas às gravações.

Mesmo assim, a banda deu um banho de garra, talento e presença de palco nesse show. Eles tocaram 11 músicas, entre as quais Twist And Shout, Ticket To Ride, Dizzy Miss Lizzy, Can’t Buy Me Love, Help! e A Hard Day’s Night.

Duas não tão conhecidas do grande público também marcam presença, o cover Act Naturally, música do astro country americano Buck Owens que Ringo interpreta com categoria, e a quase valsa rock Baby’s In Black.

Se o show veio ótimo até ali, a música final, I’m Down, surge em versão excepcional. Paul solta a voz como se fosse a última vez que cantaria na vida, enquanto John Lennon tem um desempenho demencial, tocando os teclados com os cotovelos e esbanjando adorável maluquice.

A qualidade técnica do registro de Live At Shea é bem satisfatória, com as imagens e áudio extraídos de especial exibido na época pela TV americana. Tipo do DVD que equivale a uma aula de história. E ver e ouvir os Beatles é sempre um prazer.

Os Beatles ao vivo em uma era precária

Beatles 1966por Fabian Chacur

Pra começo de conversa, achei estranho encontrar esse DVD, The Beatles Live At Budokan 1966, ao preço de apenas R$10,00 em uma das filiais das Lojas Americanas. Ainda mais com o selo Coqueiro Verde, a gravadora da qual Erasmo Carlos e seu filho são sócios. Porque não é da EMI?

Embora sentindo um cheiro de picaretagem ou pirataria no ar, desembolsei os dez contos e levei o DVD para casa. E não me arrependi. Embora a qualidade de imagens e som não seja a ideal (o que pode explicar o fato de a EMI não lançá-lo), vale como belo documento histórico.

Live At Budokan 1966 é o registro de uma fase na qual o show business na área da música pop ainda engatinhava. Basta analisar o local onde eles tocaram, o Budokan Hall, um ginário reservado a disputas de artes marciais e localizado em Tokio. O show ocorrem em 30 de junho de 1966.

Apenas quatro amplificadores estão por lá, um para cada instrumento e o que sobra, para as vozes. A bateria de Ringo Starr ficou em cima de um praticável precário.

Temos apenas três microfones disponíveis, um para Ringo e dois, divididos por John Lennon, Paul McCartney e George Harrison.

O pior fica por conta da “decoração”. A única coisa existente no fundo do palco é um pano horrível, azul, com o nome The Beatles escrito enorme, sendo que cada letra é apresentada como se saísse de um arco-íris.

Nem o mais patético grupo de pagode de hoje faria algo tão brega.

Para piorar, o suporte do microfone usado por McCartney não está bem fixado, e se mexe o tempo todo, desafiando a paciência do sempre cordato e genial cantor, compositor e baixista. “Se esse microfone ficasse parado….”, reclama discretamente, antes de uma das músicas.

A qualidade de reprodução dos microfones também não é das melhores, o que faz que, volta e meia, alguma das vozes suma, levando Lennon, com seu humor sarcástico, a soltar esse comentário: “Espero que estejam gostando, se é que vocês nos ouvem desse microfone”.

Ringo Starr toca durante todo o show com a cara feia. Reza a lenda que ele estava com uma tremenda de uma dor de barriga, e que até grita “quieto!” ao ser ridicularizado por George Harrison em um momento.

Outro detalhe bem curioso é a duração do show. Para quem vai hoje a uma performance de pop rock e reclama quando vê menos de uma hora e meia de espetáculo, fica o registro: os Beatles tocavam durante apenas meia hora. Nem mais, nem menos. E sem direito a bis. Esse era o acordo.

No Budokan Hall, essa duração permitiu a execução de onze músicas. A festa começou com uma versão capenga e mais curta de Rock And Roll Music, visivelmente prejudicada pela levada de bateria de Ringo.

Melhora muito logo a seguir, com uma performance vigorosa de She’s a Woman que, se não é tão boa quanto a do célebre show do Shea Stadium em 1965, não perde tão feio.

As belíssimas vocalizações marcam o desempenho do quarteto em If I Needed Someone, de e com vocais principais a cargo de George Harrison.

O rockão Day Tripper vem a seguir, com pique total. Faixa não tão badalada da discografia dos Beatles, a quase valsa Baby’s In Black vem a seguir, com vocais arrepiantes e a prova de ser uma música fantástica.

I Feel Fine dá prosseguimento ao show com vigor. Gravada em disco só com voz, violão e quarteto de cordas, Yesterday aparece neste show em arranjo com o grupo tudo, e agrada, apesar da levada meio estranha de Ringo.

Se de fato o baterista estava com uma revolução ocorrendo em sua barriga, provou que é macho ao cantar com muita garra e swing I Wanna Be Your Man, um dos momentos mais sacudidos do show.

Outro show de vocalizações ocorre em Nowhere Man, uma das grandes composições de John Lennon para os Beatles, e Paperback Writer, outro daqueles singles fantásticos compostos por Paul McCartney.

O show é encerrado com o rockão básico I’m Down, também com pique abaixo da célebre versão ao vivo do show do Shea Stadium. E, como já havia revelado acima, a banda agradece o público e se manda, sem bis.

Nos extras, temos o registro, em condições técnicas ainda piores do que as do show, da entrevista coletiva concedida à imprensa japonesa. Outro momento bem divertido.

Fica claro que os jornalistas não sabiam muito bem o que perguntar para ídolos pop na época. Então, tome obviedades, do tipo “o que vocês conhecem da cultura japonesa”, “porque usam os cabelos desse jeito” etc.

The Beatles Live At Budokan 1966 é indispensável para fãs dos Beatles, e também muito instrutivo para quem estuda a música pop.

Mas os mais exigentes com a qualidade técnica certamente não irão ficar muito felizes com esse disco. Mas a dez paus é uma pechincha.

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