Gonzaguinha-400x

Por Fabian Chacur

Estou com o CD Gonzaguinha Presente- Duetos há meses na pilha daqueles trabalhos a serem ouvidos, sempre sendo precedido por outros trabalhos e deixado para trás. A razão era simples: estava com medo de ouvir o resultado final. Agora, finalmente resolvi acabar com essa história e conferir essa obra. Meus temores infelizmente se confirmaram. São várias as razões que tornam esse álbum totalmente desnecessário e infeliz.

Desde o estouro em 1991 de Unforgettable, dueto proporcionado pela moderna tecnologia entre a cantora Natalie Cole e seu pai Nat King Cole (falecido em 1965), vários outros projetos similares tomaram o mundo. Aqui, o conceito é o mesmo: a voz de Gonzaguinha (1945-1991) foi extraída de 14 gravações feitas originalmente em estúdio e ao vivo e disponibilizada pelo produtor Miguel Plopschi para que novos instrumentos e arranjos fossem acrescentados, assim como somadas às vozes de 14 convidados especiais.

Logo de cara, vale o questionamento ético. O autor de Recado e tantos outros clássicos da MPB era um sujeito de personalidade forte. Como teria ele encarado o elenco escalado para esses duetos? Teria curtido ouvir sua voz utilizada à revelia em um trabalho cujo objetivo básico pode até ser uma homenagem justa, mas que no fim das contas tem como grande objetivo vender discos e downloads, ou seja, faturar?

Deixando essas questões de lado, chega a hora de conferir o resultado. E aí é que a coisa pega de vez. Logo de cara, vale ressaltar que alguns dos vocais do homenageado foram extraídos de versões ao vivo que não são as melhores dessas canções, como a de Espere Por Mim Morena, provavelmente para tentarem criar um clima mais descontraído e facilitando teoricamente a qualidade dos duetos. Não rolou, não.

A escolha dos convidados é bem abrangente, o que tem a ver com o espírito nada preconceituoso de Gonzaguinha, que era fã de artistas populares como Joanna e Agnaldo Timóteo (ambos deveriam estar em um projeto como esse, por sinal). Mas o desempenho de alguns deles é quase constrangedor, sendo os casos mais explícitos os de Ana Carolina em Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração) (exagero puro), Luiza Possi em Recado (totalmente insossa) e Victor & Leo em Espere Por Mim Morena (totalmente perdidos).

No geral, as gravações são frias, sendo que os piores momentos ficam por conta das tentativas de interação “além túmulo” entre os convidados e Gonzaguinha, como as de Zeca Pagodinho em E Vamos à Luta e de Alexandre Pires em O Que É O Que É. Fica difícil entender como Daniel Gonzaga, filho do homenageado, entrou nessa, fazendo dueto tecnológico com o pai e o avô Gonzagão em A Vida do Viajante. Dá arrepios negativos…

Gonzaguinha merece ser louvado como um dos nomes mais expressivos da história da MPB, com suas belas canções indo do mais doce romantismo ao engajamento político-social mais ácido, sem perder a ternura jamais. Não teria sido mais decente fazer um disco com esses convidados interpretando as músicas entre si? Ou o lançamento de uma coletânea com as gravações originais? Da forma que saiu, que me perdoem, mas gerou um produto absolutamente desnecessário e constrangedor. Melhor ouvir os discos originais do autor de Recado.

Ouça sampler das faixas de Gonzaguinha Presente Duetos: