earl slick e bernard fowler-400x

Por Fabian Chacur

Sideman é o termo criado para designar os músicos de apoio, profissionais cuja função básica é dar a base artística suficiente para que seus patrões, sejam eles quem forem (cantores solo, duplas, grupos etc) brilhem. Até por isso mesmo, frequentemente são pouco conhecidos do grande público. O documentário Rock ‘N’ Roll Guns For Hire- The Story Of Sidemen (2017), de Francis Whately (o mesmo diretor de The Last Five Years, de David Bowie), que está sendo exibido pelo Canal Bis e disponível em sua plataforma de streaming (bisplay), enfoca alguns dos grandes craques dessa área.

Com o selo de qualidade da BBC, o documentário tem como narrador e principal personagem o guitarrista americano Earl Slick, que atuou ao lado de David Bowie de 1974 a 2016, entre idas e vindas, e também gravou com John Lennon e com o trio Phantom, Rocker & Slick. Carismático, ele interage com outro craque do setor, o cantor americano Bernard Fowler, que há 30 anos faz parte com destaque da banda de apoio dos Rolling Stones.

Durante os 90 minutos de duração do filme, temos a oportunidade de conhecer as experiências dos dois protagonistas e também de músicos de currículos importantes do porte de Wendy Melvoin & Lisa Coleman (da banda Revolution, que acompanhou Prince em Purple Rain e outros discos de sucesso), Steve Cropper (lendário compositor e guitarrista que trabalhou com Otis Redding) e Crystal Taliefero (tocou com Billy Joel).

O termo sideman é mais usado para o músico que integra bandas de shows, mas em diversos casos esses profissionais também atuam como músicos de estúdio também, e a razão é simples: sobrevivência. Afinal de contas, eles são realmente “pistoleiros de aluguel” (tradução do título do documentário), que só ganham enquanto estão em uma turnê ou em uma sessão de gravação. E sempre dependem do humor ou da mudança de rota de seus patrões.

Um dos diversos pontos positivos do filme fica por conta de vários depoimentos de alguns desses chefões famosos, entre eles Mick Jagger, Keith Richards e Billy Joel. Fica claro que os sidemen (e sidewomen) vivem o tempo todo na corda bamba, pois não podem aparecer mais do que os astros para os quais trabalham, mas ao mesmo tempo precisam acrescentar o suficiente nos shows e gravações para serem considerados úteis.

Vários episódios interessantes ocorridos nessa área são revividos por eles. Slick, por exemplo, lembra que em algumas ocasiões era demitido por Bowie e, não muito tempo depois, readmitido para entrar no lugar de quem o havia substituído. “E é assim que as coisas funcionam, não tem jeito”, relembra o músico, que mostra no filme uma tentativa que fez para ganhar algum dinheiro fora da música, customizando jaquetas de couro.

Rock ‘N’ Roll Guns For Hire é uma bela amostra da difícil vida fácil de pessoas extremamente talentosas que, no entanto, não tiveram cacife suficiente para atingir o estrelato por conta própria. Uns se frustram um pouco com isso, como admite Wendy Melvoin. Outros, pelo contrário, como garante Steve Cropper, satisfeito em deixar os holofotes para os patrões e se divertindo ao tocar, produzir e compor para eles.

No final do doc, Slick e Fowler se unem, montam uma banda e fazem um show no qual tocam basicamente hits de Bowie, fechando com chave de ouro um belo retrato desses caras geniais sem os quais muitos pop stars não passariam de meros vagalumes no meio do mato. É como no futebol: o que seria dos artilheiros e meio-campistas se não tivessem os zagueiros, volantes e goleiros para garantir as coisas para eles?

Veja o documentário sem legendas: